Polícia

“Não bastasse eu perder quem mais amei nesta vida, tenho ainda que provar que não o matei”, diz delegado sobre morte do filho

O delegado Carlos Alberto enviou uma carta aberta à imprensa nesta terça-feira (11) quebrando o silêncio no documento com declarações fortíssimas sobre o caso.


Elden Carlos
Editor-chefe

 

“Sou Carlos Alberto, pai do Arthurzinho e, pela primeira vez, vou realizar esta manifestação pública.

 

Hoje é o terceiro dia da maior tragédia da minha vida e um dos mais tristes também. Tudo o que eu não queria, neste momento de grande dor e sofrimento, era estar aqui tendo que escrever esta mensagem.

 

Gostaria que esse momento de luto fosse preservado e respeitado por todos. Gostaria de viver esse momento calado e tentar entender tudo o que aconteceu.”

 

É com essa narrativa inicial que o delegado da Polícia Civil, Carlos Alberto Gomes Pereira Filho, descreve seus sentimentos em relação à morte do filho dele, Arthur Gomes Benjamim, de 2 anos, ocorrida no dia 7 deste mês, em Macapá, depois que a criança engoliu uma tampa de garrafa pet e morreu por obstrução das vias áreas.

 

O delegado enviou uma carta aberta à imprensa nesta terça-feira (11) quebrando o silêncio no documento que contém quatro laudas com declarações fortíssimas sobre o caso.

 

Carlos Alberto, ao se referir que gostaria de entender tudo o que aconteceu naquele dia, afirma que não consegue processar nada por estar sofrendo sérios ataques, principalmente nas redes sociais,o condenando pela morte do filho.

 

“Infelizmente, percebo que isso não será possível, em razão de tantas acusações que venho sofrendo, e da grande repercussão social que tudo isso tomou. Sabemos que é no silêncio que mentiras ganham roupagem de veracidade e é na internet que ela encontra solo fértil para serem propagadas de forma muito veloz, chegando a tal ponto que se você não se manifesta agora, poderá ser calado pela crença da mentira que ganhará força imensurável”, declara.

 

O pai de Arthur relembra na carta que travou uma desconfortante batalha judicial para ter o direito de permanecer com o garoto durante um período, e que viajou a Florianópolis, em dezembro, para buscar o menino que morava com a mãe.

 

Alberto descreve o que houve naquele início de tarde:

“Com relação ao episódio fatal, na minha casa, eu e o Arthurzinho havíamos acabado de almoçar juntos. Eu estava na cozinha e ele estava há menos de 3 metros de mim, brincando com os brinquedos no chão. De repente, ele ficou em silêncio, eu olhei para ele e o vi sem qualquer reação no mesmo local, no chão”, relata.

 

Em continuidade, o delegado lembra que entrou em desespero:

 

“Assustado e sozinho, tentei identificar o que estava ocorrendo, mas no momento de desespero não consegui entender ou detectar o motivo, a reação que consegui ter, naquele momento, foi de checar os seus sinais vitais, que estavam presentes. Imediatamente, o coloquei no meu colo e o levei às pressas até a unidade de saúde mais próxima. Lá chegando, o médico imediatamente o atendeu. A equipe médica optou por chamar o SAMU, que chegou após aproximadamente 30 minutos, o que aumentou ainda mais a minha angústia, já que não sabia o que estava acontecendo com o meu filho. Após a sua chegada a equipe do SAMU rapidamente identificou o problema e retirou uma tampinha de garrafa pet das vias aéreas do meu filho. Infelizmente, ele já não apresentava mais sinais vitais.”

 

Carlos Alberto afirma no documento que toda a ação dentro e fora da residência foi gravada pelas câmeras de segurança, e que ele, espontaneamente,  entregou as imagens à Corregedoria da Polícia Civil, garantindo que não há nada o que esconder, e que ele continuará colaborando com a investigação.

 

“EU FIZ DE TUDO PARA SALVAR A VIDA DO MEU FILHO”, descreve o delegado em letras garrafais no texto.

 

O pai garante que não houve falta de cuidado, e que foi uma fatalidade:

 

“Quando ele engoliu a tampinha, estava próximo de mim, e o fez no momento em que eu estava organizando as coisas pós-almoço. Não houve falta de cuidado, ele estava sendo monitorado, foi uma tragédia que eu não desejo a nenhum pai ou mãe. Pergunto então, quem é que vai imaginar que o filho vai morrer por ter uma garrafa pet de água mineral em casa? Em qual contexto esse resultado é imaginável ou esperado? Qual pai pode ser apontado como negligente por isso? Na verdade, fossem as acusações só de negligência, seriam menos dolorosas. Estou diariamente sendo chamado de assassino”, lamenta.

 

Sobre o suposto silêncio e ausência dele no funeral da criança, Carlos garante que sofreu ameaças da família materna de Arthur:

 

“Não é pelo fato de que não me manifesto nas redes sociais que estou sentindo menos, pelo contrário, tenho que suportar a dor da perda somada à falta de empatia e conforto que achei genuinamente que teria da família materna, estou sendo acusado de algo que não é verdade, além de ter sido tolhido do meu direito de me despedir de meu filho, devido às ameaças e desconforto que a minha presença traria, preferi não ir ao velório e enterro, além do fato de estar em oitiva. É fácil julgar o outro e imputar inverdades quando não se coloca no lugar daquela pessoa.”

 

Em outro trecho, o pai diz que as mesmas pessoas a quem ele jurou defender, são as mesmas que tentam condená-lo:

 

“Estou em tratamento psiquiátrico e a cada acesso a redes sociais, as pessoas que jurei defender no exercício do meu dever de delegado de polícia só ajudam a compartilhar notícias de que matei meu filho. NÃO BASTASSE EU PERDER QUEM MAIS AMEI NESTA VIDA NO MEU COLO, TENHO AINDA QUE PROVAR QUE NÃO O MATEI. Não basta a pena do sentimento de impotência por não conseguir salvar meu filho?”, questiona.

 

Carlos Alberto também lamenta reiteradas vezes na carta o fato de ter sido hostilizado, ameaçado e acusado de ‘assassino’ pelos familiares maternos de Arthur. Ele garantiu que os laudos cadavéricos realizados na criança irão provar que não houve um ‘assassinato’, como tentam pregar, e que a verdade será esclarecida

O pai, no encerramento da carta, pede empatia das pessoas:

 

“Esse é um momento de muita dor, e peço mais uma vez que não façam mais julgamentos e propaguem informações que não são verdadeiras. Todos estão sofrendo com o que aconteceu, não existem palavras que possam expressar tamanha a dor da perda de um filho. Espero que todos vocês se coloquem apenas por um minuto em meu lugar e imaginem ser acusados e linchados nas redes sociais por algo que não cometeu, ainda mais de um crime cometido contra seu próprio filho. Algo que poderia ter acontecido com qualquer pessoa”, concluiu.


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