Política Nacional

Ministro rebate cientistas que pedem à Europa que relação com o Brasil seja condicionada à proteção ambiental

Manifesto assinado por 602 pesquisadores foi publicado na ‘Science’. Grupo cobra a proteção dos direitos indígenas, a redução do desmatamento e a participação das comunidades locais nos acordos comerciais.


O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, rebateu nesta sexta-feira (26) um manifesto assinado por mais de 600 cientistas que pede à União Europeia (UE) que as negociações comerciais com o Brasil sejam condicionadas à sustentabilidade e que o bloco pare de “importar desmatamento”.

Em entrevista, Salles afirmou que o manifesto não tem “credibilidade” e que trata-se de uma “discussão comercial disfarçada”. O texto criticado pelo ministro, assinado por 602 cientistas, levou um mês e meio para ser escrito e foi publicado na renomada revista científica “Science”.

Durante a entrevista, o ministro disse que o “Brasil é exemplo de sustentabilidade” e que o “problema ambiental brasileiro está nas cidades, e não no campo”. Segundo ele, o agronegócio brasileiro “é o mais comprometido com a preservação do meio ambiente no mundo”.

Salles também afirmou ainda que, em comparação com outros países, “nós é que somos exemplo de cuidado com o meio ambiente”.
Detalhamento do manifesto
O grupo que assina o texto tem representantes de todos os 28 países-membros da UE. O manifesto começa assim: “O Brasil, que abriga uma das últimas grandes florestas do planeta, está em negociações com o seu segundo maior parceiro comercial, a União Europeia. Nós incitamos o bloco europeu a aproveitar essa oportunidade para garantir que o Brasil proteja os direitos humanos e o meio ambiente”.

Os cientistas argumentam que as florestas, os pântanos e as savanas do Brasil são cruciais para o clima e a natureza do planeta. E esperam que as instituições europeias respeitem três condições: a proteção dos direitos indígenas, a redução do desmatamento e a participação das comunidades locais nos acordos comerciais.

“As regras que valem para a produção europeia aqui na Europa precisam valer também para o que a Europa consome, porque esse consumo está causando essa destruição e essas violações”, diz o brasileiro Tiago Reis, da Universidade Católica de Louvain, um dos autores do texto.

A carta lembra, ainda, que em 2011, o Brasil desmatou mil km² para produzir a quantidade de carne e ração exportadas para União Europeia. Uma área equivalente a 300 campos de futebol por dia.

Só no ano passado, segundo um levantamento da Universidade de Maryland, nos EUA, mais de um milhão de hectares de florestas primárias desapareceram no país. A ONG WWF-Brasil, que luta pela preservação ambiental, acredita que não há solução local ou global sem mudanças urgentes no Brasil.

“O Brasil é uma potência em termos de conservação e biodiversidade e é uma potência em produção de alimentos. E essas coisas podem sim caminhar juntas. Eu acho que a gente respeitar a questão ambiental e social do Brasil nos garante uma posição privilegiada em vários mercados”, diz Mariana Napolitano Ferreira, Gerente de Ciências do WWF-Brasil.


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