Antônio Feijão defende manutenção de Temer e critica posição política do PSDB
Ex-deputado federal por três mandatos consecutivos, ele pondera que oposição tem que começar a planejar um nome para a sucessão do Palácio do Planalto e aconselha Randolfe (Rede) a se ‘desapegar’ da vitrine nacional e se aproximar do eleitorado

Em entrevista concedida na manhã desta terça-feira (13) ao programa LuizMeloEntrevista (DiárioFM 90.9), o geólogo, advogado e cientista político Antônio da Justa Feijão defendeu a manutenção de Michel Temer na Presidência da República por entender que uma eventual cassação seria prejudicial à economia brasileira. Ex-deputado federal pelo PSDB por três mandatos consecutivos, ele teceu duras críticas ao partido, que no entendimento dele adota uma posição incoerente ao fazer parte da base aliada do governo ao mesmo tempo em que insiste na cassação da chapa Dilma-Temer.
“A democracia é um ser mutante; hoje não se pode achar que só uma facção vai vencer na democracia; a França, por exemplo, fez maioria com menos da metade dos eleitores; essa é a realidade que está lá; o que a gente está vendo é que o Supremo (STF) está no aguardo de um recurso contra a absolvição da chapa Dilma-Temer pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral); é preciso que o PSDB não se acovarde e dê continuidade ao que desejava que é cassar a chapa; esse recurso ainda não se materializou o recurso, mas a posição adotada pelo PSDB é incoerente, e nesse caso temos que nos conformar com a renúncia do Miguel Reali; foi coerente ele se desfiliar do partido depois de todos os nefastos ocorridos, diante de tanta incoerência, em que o líder disse que PSDB apoiará as reformas, mas deixa o governo; o partido tem qeu se posicionar, porque o que se percebe agora é que há um show, uma guerra midiática; Brasília hoje é uma procissão de zumbis; uma hora se persegue e noutra hora se é perseguido, e só quem se assusta é a população”, analisou.
Feijão também criticou a nomeação dos ministros dos tribunais superiores: “É menos engrandecedor, ainda, os critérios de nomeação de ministros nos tribunais, porque a grande conclusão que se chega é que o Supremo se tornou incubadora de proteção dos políticos, tanto que se nomeia ministro e quatro anos depois de incubadora se lança mão dele para se proteger; por isso, na minha opinião, o único juiz legitimo é o de 1ª instancia, porque sua nomeação é através de concurso público”.
Frustração
Para Antônio Feijão, Aécio Neves (PSDB) foi uma decepção: “Mais do que a questão do Temer, que vem com cicatrizes há mais de 30 anos na politica, o Aécio tem que receber a dureza da lei, porque é decepção, traiu a consciência de quase metade da população brasileira; eu particularmente me sinto ultrajado; eu convivi com ele ainda jovem, inclusive como presidente da câmara; ele deve ao país uma satisfação muito maior.
Sobre a falta de autonomia para o presidente Michel Temer governar o país, Antônio Feijão foi analítico: “O presidente Temer está numa posição ainda pior que aquele gladiador que enfrenta tigres atado a uma corrente, porque ele tem duas correntes de um lado e do outro; ele é refém e está acorrentado pelo Congresso Nacional; de um lado ele precisa da Câmara para ir rejeitando os pedidos de impeachment, e por outro lado ele tem que ter no Senado, onde está o dorso principal do PSDB um controle mais harmonioso, porque é no Senado que um presidente cai, e não cai na Câmara”.
Perguntado se diante de tantas dificuldades que o governo enfrenta o presidente Michel Temer vai permanecer no cargo, Feijão admitiu: “No meu entendimento o Temer sobrevive porque é bom para a economia; se a queda dele tivesse ocorrido seis meses atrás seria outra história, porque nesse caso teríamos eleição direta, mas agora a Constituição não permite mais; a oposição tem que evoluir com a realidade e começar a planejar um nome para enfrentar as urnas daqui a um ano”.
Quanto à falta de nomes aptos dentro do Congresso Nacional para se candidatarem à Presidência, o ex-deputado afirmou que há nomes no âmbito político partidário, mas revelou que sua preferência é por um técnico: “Ainda temos sim no Congresso nomes que reúnem qualidades para governar o Brasil; aqui mesmo no Amapá temos um; embora ele não seja o meu candidato, eu tenho que reconhecer que o Randolfe Rodrigues (Rede) é um nome de crédito”. Indagado sobre o prestígio que o amapaense desfruta a nível nacional, inclusive sendo elogiado publicamente pelos cantores Caetano Veloso e Chico Buarque, que os tem como o político mais coerente da oposição, Feijão comentou:
– Não resta nenhuma dúvida sobre as suas qualidades, mas se essa não for a pretensão dele (se candidatar a presidente), o que ele precisa fazer é largar o Chico e o Caetana e se agarrar com o Fernando do Mazagão, o Chiquinho do Jarí; é preciso reconhecer que nenhum senador teve destaque e importância nacional como tem hoje o senador Randolfe; mas eu digo uma coisa: o Henrique Almeida (ex-senador) esqueceu o Amapá durante os quatro anos de mandato e deu no que deu, foi esquecido e não se reelegeu; é preciso ter muito cuidado. Dou outro exemplo: Não teve senador mais honesto na história do Amapa como o Papaléo (atual vice-governador), mas ele sentia-se na obrigação de digitar o nome dele no painel de votações do Senado e por isso pouco vinha ao estado; sem dúvida um nome nacional respeitabilíssimo, uma pátria de honra, dignidade e ética, mas os Chiquinhos, os Fernandos, o Maguila do Laranjal do Jari não votaram mais nele.
Antônio Feijão descartou eventual retorno à política partidária: “Politicamente apresentei meu pré-projeto de mestrado, tendo como orientador o professor José Alberto Tostes, que é referência internacional; estou estudando a Zona Franca Verde e todas as suas implicações para o estado; depois de concluir, se eu tiver fôlego vou fazer doutorado; eu estou querendo concluir o que sempre desejei que é o ciclo acadêmico; agora o meu caminhar político é com o titulo de eleitor; hoje temos que abrir espaço para a juventude e também chamar, convencer as mulheres a participarem com a sua força do processo político com mandatos”.
Incertezas sobre o atual governo
Instado a se manifestar sobre as incertezas do governo do presidente Temer, Antônio Feijão foi crítico: “Estamos assistindo a um desarranjo do estado econômico que atinge a todos; o Temer está fazendo tudo na fase da generosidade, antecipa Imposto de Renda, o saque das contas inativas do FGTS; ele tem um orçamento muito forte, mas o Congresso está muito fragilizado, além do fato de que 2/3 dos senadores precisam enfrentar as urnas no ano que vem, além da renovação dos mandatos de todos os deputados e governadores; ele (Temer) tem plena consciência disso, por isso ele vai continuar com o Bolsa Família, o Bolsa Escola, acionar mecanismos e arrefecer um pouco a energia, que é muito cara”.
Com que diz respeito à relação de Michel Temer com o Congresso, Antônio Feijão reconheceu a habilidade político do presidente: “O Temer tem um lado congressual muito forte, tanto que no dia de seu julgamento (pelo TSE) ele aprovou numa Comissão da Câmara por 14 votos a 11 uma reforma dificílima, que foi é a reforma trabalhista, o que mostra a capacidade e o poder de articulação dele, que é bom nisso, aliás, ele sempre foi muito hábil, tanto que conseguiu conduzir com maestria algumas reformas importantes durante o governo do então presidente Fernando Henrique quando ele era presidente da Câmara dos Deputados”.
Tragédia anunciado
Ao ser solicitado para comentar sobre entrevista recente que ele concedeu ao Grupo Diário sobre uma iminente tragédia por causa do abandono da barragem da empresa Anglo Ferrous no Rio Araguari, o geólogo garantiu que se não forem adotadas medidas urgentes por parte das autoridades a tragédia que ocorreu recentemente em Mariana pode se repetir no Amapá:
– Está fazendo 4 anos e 3 meses que as barragens da Anglo estão abandonadas, e têm recebido invernos muito rigorosos, principalmente neste ano; lá tem tem ferro demais, ferro muito fino; se barragem cair vai par o Rio Araguari, que corre em terreno cristalino; é como esponja de Bombril num jato d’água, vai esmerilando; o risco de perdermos turbinas das hidrelétricas, prejudicando todo o complexo de geração de energia é muito grande; isso sem falar no estrago da lama que já está no Igarapé William; é preciso que os Ministério Públicos estadual (MP-AP) e Federal (MPF), e o DNPM (Departamento Nacional de Produção Mineram abram os olhos; não se pode brincar com isso, porque poderá ocorrer um desastre das proporções de Mariana, por exemplo; no Araguari temos uma ameaça latente porque a barragem está muito alta e abandonada – previu.
Deixe seu comentário
Publicidade
