Boulos promete taxar fortunas, reformar o ensino público, modificar política habitacional e conceder indulto presidencial a Lula
Candidato à Presidência da República, Guilherme Boulos (PSOL) cumpriu agenda no Amapá nesta quinta-feira (30).

Em entrevista concedida nesta quinta-feira (30) ao programa LuizMeloEntrevista (DiárioFM 90,9), o candidato do PSOL à Presidência da República, Guilherme de Castro Boulos, que veio Amapá divulgar sua campanha, criticou duramente o governo Temer, defendeu o petista Luiz Inácio Lula da Silva, que qualificou como “preso político”, e prometeu que, se eleito, vai taxar as grandes fortunas, promover o que chamou de “reforma radical” no ensino público brasileiro em todos os níveis e garantir moradias dignas às classes menos favorecidas, com a criação do programa ‘Meu bairro, minha vida’, com o dobro do tamanho das unidades construídas pelo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), dotadas de três dormitórios, varanda, elevador e área de convivência social.
Diário FM – O senhor é estreante na política partidária, mas participante ativo de movimentos sociais desde a juventude, por que o senhor decidiu se candidatar à Presidência da República?
Boulos – “Sou militante de movimentos sociais desde os 16 anos, quando ingressei na União da Juventude Comunista (UJC) e resolvi concorrer à eleição por causa da gravidade do momento do país, o que é um desafio porque o Brasil está num buraco”.
Diário FM – O senhor atribui ao PT à responsabilidade de atirar o país nesse buraco?
Boulos – “O que eu digo é que nos últimos dois anos o país desceu de vez para o buraco; o Brasil tinha problemas, sim, mas o que o Temer fez nos últimos dois anos jogou de vez o Brasil para o buraco. Não quero dizer que estava perfeito antes, tinha problemas, mas ele atirou o país no lodo, o que toda a população brasileira reconhece e condena, tanto que é o presidente mais rejeitado da história do país, com 97% de rejeição; não é à toa que todos os candidatos à Presidência da República fogem do Temer como o diabo foge da cruz, porque ele retirou conquistas históricas do trabalhador brasileiro, criou a PEC do teto que congelou investimento na saúde e na educação. Enfim, o Temer empurrou o Brasil pro buraco, eu não tenho duvida, e o povo brasileiro também”.
Diário FM – Mas se atribui essa derrocada ao governo petista, principalmente à ex-presidente Dilma…
Boulos – “A Dilma pegou uma rota errada, colocou o Joaquim Levy, que é do Bradesco, na política econômica. Essa turma só sabe cortar, é a turma da tesoura na política. A receita deles é cortar investimentos na saúde, na educação, na moradia e no saneamento básico. Quando o governo corta investimentos, diminui emprego e renda e as pessoas ficam com menos dinheiro, consomem menos e o governo arrecada menos impostos; os reajustes fiscais que estão fazendo só desajustam, o déficit fiscal continua; o caminho é retomar os investimentos públicos para gerar emprego e renda. E nós vamos retomar os investimentos públicos no Brasil”.
Diário FM – O senhor vem se manifestando contra as privatizações. É sua intenção desestatizar o setor elétrico, que está sendo entregue à iniciativa privada pelo atual governo? E o que o senhor pretende fazer com a Petrobrás?
Boulos – “Tem coisas que se veste com roupas modernas, mas é mais que Dom Pedro II; a privatização é uma dessas coisas; poucos meses atrás tivemos a greve dos caminhoneiros, que parou Brasil, que aconteceu porque o preço do diesel, da gasolina e do gás de cozinho foram lá pra cima. O preço subiu tanto que hoje 1,2 milhão de famílias brasileiras voltaram a cozinhar na lenha porque a política do governo é para atender interesses de acionistas em Nova York e em outros países. A receita da época da Colônia, em 1500, que era vender cana-de-açúcar e comprar açúcar refinado em Portugal é a que está sendo adotada, pois estão pegando o petróleo do pré-sal e comprando refinado de volta em dólar, fazendo o preço crescer de forma incontrolada bomba de gasolina”.
Diário FM – Caso seja privatizada, a Petrobrás não ficaria imune a isso?
Boulos – “Se alguém assaltar a sua casa, o senhor vai fazer o que? Melhorar o sistema de segurança ou vai dar sua casa pro vizinho? Claro que vai investir em um sistema de segurança mais eficiente. No caso da Petrobrás, garantir segurança e transparência, e não entregar para multinacionais; por isso não vamos deixar privatizar a Petrobrás”.
Diário FM – Na sua opinião a prisão des Lula é política?
Boulos – Sem dúvida! Lula foi preso para tirar ele da eleição; não há nenhuma prova contra ele…
Pergunta: Então por que ele continua preso?
Resposta: Ele continua preso por opção política do judiciário; o judiciário nunca julgou igual negro e branco, nunca julgou igual pobre ou rico no país. Vamos parar com isso de imaginar que o juiz está acima da lei. Está nada!

Diário FM – O que o senhor faria assim que assumisse a Presidência da República?
Boulos – Eu tenho a minha caneta Bic, que ao contrário de muitos, eu uso a caneta Bic, e não uma Mont Blanc como muitos usam, para renovar o teto de gastos com a educação e a saúde, que é uma vergonha! O governo tem é que investir, porque nenhum país se desenvolve sem investimento público…
Diário FM – O senhor usaria essa mesma caneta Bic pra assinar um indulto ao Lula, pra perdoar a pena dele e livrá-lo da cadeia:
Boulos – Usaria sim, não apenas pra ele, como para muitos outros; o indulto presidencial se estabele para corrigir erros; o Lula foi condenado sem prova; eu também daria indulto ao Rafael Braga, aquele jovem negro que foi preso no Rio de Janeiro porque estava com uma lata de Pinho Sol…
Diário FM – Também assinaria indulto para o Eduardo Cunha?
Boulos – De jeito nenhum! É pilantra, tem cheque, extrato, conta na Suíça… O Eduardo Cunha tem que ficar na cadeia! Eu também gostaria de assinar a execução penal do Temer…
Diário FM – E o Dirceu:
Boulos – Não li o processo dele. Eu não tenho compromisso com erro de niguém, e pra mim o pau que bate em Chico tem que bater no Francisco… O processo do Lula eu li, do Cunha eu vi as provas, do Aécio eu li.
Diário FM – O senhor também tem declarado, inclusive recentemente em entrevista, que vai enfrentar o mercado e os bancos com a participação popular. Como fazer isso?
Boulos – “Um dos grandes problemas que temos no Brasil se chama privilégio. Dizem que o cobertor está curto, mas o problema não é cobertor curto, o problema é que está cobrindo só um lado da cama; dizem que não tem dinheiro para a educação, mas aprovaram reajuste para judiciário, fazendo com que um juiz que estava ganhando R$ 33 mil, e achavam pouco, passe a ganhar R$ 40 mil de salário, o que vai gerar impacto de mais de R$ 4 bilhões anualmente já a partir do ano que vem; cortaram bolsas de estudos para pesquisa sob a alegação de que não tem R$ 300 milhões, mas R$ 4 bilhões pra dar a marajás do Judiciário eles têm”.
Diário FM – O senhor tem defendido o aumento da taxa tributária, em especial com a taxação de grandes fortunas…
Boulos – “A taxa tributária do trabalhador e da classe média é escorchante, e o grosso está sobre o consumo, porque tudo que se compra, até o pão com manteiga, tem imposto embutido e nem sabemos quanto se paga de impostos; temos que reduzir os impostos da classe média e dos trabalhadores, mas temos que taxar os super ricos porque esse povo não paga imposto, o que é um escândalo! Temos que taxar as grandes fortunas para investir em educação, saúde e segurança”.
Diário FM – De quanto seria a taxação das grandes fortunas?
Boulos – “É importante lembrar que essa taxação está prevista na Constituição Federal, está lá, é só regulamentar; porém, já decorridos 30 anos de sua promulgação ainda não foi regulamentada, o que é um escândalo. Não temos ainda um percentual, mas estamos discutindo essa questão com a nossa equipe e vamos fazer um amplo debate com a população”.
Diário FM – Outra crítica que o senhor faz de forma recorrente é contra a legislação trabalhista aprovada no governo Temer. O que o senhor pretende fazer nesse caso?
Boulos – “O nosso primeiro ato como presidente da República será enviar ao Congresso Nacional uma proposta de plebiscito para revogar esse absurdo que é a lei trabalhista aprovada pelo Temer, que tira direitos dos trabalhadores”.
Diário FM – O Brasil chegou ao fundo do poço, chegando à triste realidade de termos como principais candidatos um presidiário e um extremista de direita. Estamos de fato no fundo do poço?
Boulos – “O poço sempre pode ser mais fundo, esse é o grande dilema, mas o governo chegar a 3% de aprovação após retirar direitos dos trabalhadores e colocar a democracia num buraco está muito perto do fundo do peço, chegou ao lodo. Inclusive, quero denunciar que antes de eu sair de São Paulo para vir a Macapá aconteceu um episódio lamentável, em que um cidadão passou de carro em frente ao nosso comitê de comunicação, proferiu ofensas, puxou a arma e apontou para a nossa colaboradora que trabalhava no local gritando o nome do candidato Bolsonaro. Há pessoas que não entendem que palavras e gestos têm consequências. Quando pega uma criança e a faz imitar o uso de arma é muito grave; o que está acontecendo no Brasil é muito grave; quando a pessoa faz isso e estimula o preconceito, a intolerância, a violência e o ódio, é preocupante, porque daqui a pouco um estará atirando no outro porque concorda com o seu candidato”.
Diário FM – Então, na sua opinião, o risco Bolsonaro é preocupante?
Boulos – “Não tenho duvida, porque ele joga para o sentimento das pessoas, que é o medo. Eu já passei por 24 estados até agora, conversando com as pessoas e apresentando as nossas mensagens e propostas; e o que eu tenho visto é muita gente com medo da violência, do futuro. Esse discurso de prender e matar seduz quem está com medo, mas é um discurso mentiroso”.
Diário FM – O senhor atribui culpa ao Lula pelo desgaste da imagem dos partidos de esquerda no Brasil?
Boulos – “No PSOL não temos desgaste algum; nossos seis parlamentares federais foram todos premiados pelo Congresso em Foco; o desgaste é no sistema político e partidário brasileiro por causa do ‘toma-lá-dá-cá’, da velha política de trocar voto no Congresso Nacional por cargos políticos, essa politicalha praticada nos governos passados e no governo atual. O erro do PT foi continuar com essas práticas; por isso nós não vamos governar com o MDB”.
Diário FM – Nesse caso o senhor admite que o PT pode fazer parte de um eventual governo do PSOL?
Boulos – “Nós vamos colocar essa turma de oposição autêntica pela primeira vez (no governo), e se o PT apoiar as propostas do nosso governo, nós vamos ter eles com a gente”.
Diário FM – Mesmo com o Lula preso, acusado de maus feitos, e com tanta roubalheira praticada por petista, muitos dos quais também estão presos. Mesmo assim o senhor os colocaria para dentro do seu governo?
Boulos – “O Lula está preso sem que tenham apresentada qualquer prova material contra ele; o governo Temer tem um assessor que foi flagrado com um mala de dinheiro e ele (Temer) está governando o pais; o Aécio Neves (PSDB) está fazendo campanha para deputado federal… Isso não é justo!”
Diário FM – “Se a Marina e o Ciro forem para o 2º turno, quem o senhor vai apoiar?
Boulos – “A nossa candidatura é pra valer, vai crescer… Essa é a eleição mais imprevisível na história do país, pelo menos desde 1989; estamos a 40 dias da eleição e quero saber quem aposta uma caixa de cerveja arriscando quem ganhará a eleição? Asseguro que no 1º e no 2º turno nosso foco é derrotar a turma do temer, que é um desastre nacional”.
Diário FM – Mas, o senhor está lá atrás nas pesquisas. O senhor acredita em crescimento?
Boulos – “As primeiras pesquisas nos colocam entre 1% e 2%, mas a campanha começou agora. Lembra do Didi (campeão do Mundo pela Seleção Brasileira)? Ele dizia que treino é treino e jogo é jogo… E o jogo começou agora”.
Diário FM – Outra promessa que o senhor tem feito é que vai criar 1 milhão de vagas nas universidade brasileiras, que custarão R$ 50 bilhões por ano ao país. Como o senhor vai fazer isso?
Boulos – “Pode ter certeza que nós vamos criar 1 milhão de vagas nas universidades públicas e vamos fazer isso mexendo nos privilégios lá de cima; só com a tributação deles, de lucros e dividendos, o Brasil vai arrecadar R$ 60 bilhões por ano; outros países cobram, mas no Brasil não, e no nosso governos eles vão pagar, nós vamos eles pagarem porque não temos rabo preso com eles”.
Diário FM – Também faz parte das suas propostas a reformulação dos ensinos Fundamental e Médio?
Boulos – “Não apenas os ensinos Fundamental e Médio, pois vamos começar pela reformulação do ensino infantil, com a criação e funcionamento eficiente de creches; a vereadora, do nosso partido, defendia creche em tempo integral no Rio de Janeiro; nós vamos levar a creche de tempo integral para o país inteiro e vamos investir nos ensino Fundamental e Médio, iniciando pela valorização dos professores, que são tratados como nada; vamos botar Wi-Fi em todas as escola do país; eu sou professor e sei das deficiências das escolas públicas, não ter sequer papel higiênico no banheiro; nós vamos dar condições dignas aos estudante, reformar ensino público e preparar as pessoas para vida, para a cidadania”.
Diário FM – Qual é o seu modelo ideal de habitação?
Boulos – “Vamos destinar prédios ociosos à moradia popular, inclusive no centro, porque pobre também tem direito de morar no centro, além de construir moradias habitacionais com acesso à escola, creche, ao posto de saúde e ao transporte público; vamos fazer o ‘Meu Bairro Minha Vida’ e levar moradia digna para a população brasileira, fazer o que fizemos através de movimentos sociais em alguns municípios, como em Santo André e Taboão da Serra (SP), por meio de gestão dos próprios moradores, não através de empreiteiras e construtoras, que só querem lucrar, onde nós construímos com o mesmo dinheiro que as construtoras fazem uma caixa de fósforo de 39 metros quadrado, com o mesmo dinheiro, moradias com 63 metros com 3 dormitórios, varanda, elevador e área de convivência social. Esse vai ser o nosso modelo”.
Diário FM – O senhor defende a volta do imposto sindical?
Boulos – “Não. Nós temos que ter uma forma de sustentação do movimento sindical a partir dos próprios trabalhadores; para isso vamos debater com todas as categorias. Na verdade o movimento sindical combativo nunca foi a favor do modelo (até então vigente, com a cobrança obrigatória da contribuição sindical diretamente nos contracheques); mas também não podemos esvaziar os sindicatos e destruir a organização do trabalhador brasileiro como o Temer tentou fazer”.
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