Política

Gianfranco defende “rebelião social” para mudar sistema político no Amapá

Candidato do PSTU foi o último entrevistado do programa LuizMeloEntrevista. Gusmão defende o fim da LRF, das escolas militares e se prometeu pagar salários integrais de servidores.


Último entrevistado nesta sexta-feira (21) no programa LuizMeloEntrevista (Diário 90,9FM) o candidato do PSTU ao governo do Amapá, Gianfranco Gusmão, 45 anos, graduado em geografia pela Unifap e professor da rede pública estadual há 18 anos, prega o que chama de “rebelião social” por acreditar que só a luta muda a vida da classe trabalhadora.

 

Diretor de Formação Política do Sindicato dos Trabalhadores em Educação no Amapá (Sinsepeap), Gusmão se diz contra a gestão compartilhada militar nas escolas, defende o fim de investimentos públicos na rede particular de ensino e mais investimentos na educação pública. Ele promete o fim do parcelamento dos salários dos servidores do estado ainda no primeiro mês de sua gestão, caso eleito, e também quer a legalização das drogas e o fim da Lei de Responsabilidade Fiscal, por entender que a mesma foi criada para beneficiar banqueiros.

 

DIÁRIO: Por que o senhor defende o fim da Lei de Responsabilidade Fiscal, já que foi criada para controlar e fiscalizar os gastos públicos?

GIANFRANCO: Porque a Lei de Responsabilidade fiscal só serve pra mandar dinheiro para empresários e banqueiros, não para saúde, segurança, moradia e saneamento básico, como a população precisa. Porque foi feita pra garantir lucros às grande empresas, aos ricos e aos banqueiros. Pra se ter ideia, no Brasil 6 bilionários concentram a renda de 100 milhões de brasileiros; alguma coisa está errada! Pra desenvolver o meu programa de governo, eu e minha candidata a presidente pelo PSTU, a Vera Lúcia, que inclusive está aqui no Amapá para divulgar as suas propostas e conversar com a classe trabalhadora, precisamos deixar de pagar a dívida pública.

DIÁRIO: O senhor também faz declaração tida como polêmica que é a favor da legalização das drogas, da descriminalização do uso de drogas, mas a gente sabe que a droga é a grande responsável pelos altos índices de violência, sobretudo, pelo grande número de assassinatos, inclusive no Amapá, o que é reconhecido pelas autoridades. Isso não seria um contrassenso?

GIANFRANCO: Assim como fizeram a Lei de Responsabilidade Fiscal, é preciso fazer a Lei da Responsabilidade Social que atenda às necessidades do povo. A droga hoje é criminalizada, mas continua matando, fazendo vítimas; tem que ser tratada como saúde pública. Quando se descriminaliza a droga está dando uma paulada no traficante, porque é com a descriminalização que vai se conseguir saber quem são viciados, onde está sendo produzida, vai se poder controlar e pegar imposto acabando com o tráfico, e assim, posso dizer sem sombras de dúvidas, combater a violência, fazendo um programa social muito grande e dizer que usar droga faz mal, destrói a família; hoje a droga é tratada como caso de política, mas é questão de saúde pública.

 

DIÁRIO: Seu partido sempre atua de forma isolada, isso é histórico, e recentemente o senhor disse que o PSTU não é um partido para eleição, e, sim, para uma revolução socialista, que o senhor classifica como rebelião social. Esse isolamento não seria prejudicial para a governabilidade?

GIANFRANCO: O PSTU não está só. A gente está coligado com os trabalhadores em todo o Brasil, e em especial aqui no Amapá; nossa coligação é com a classe trabalhadora. Defendemos uma rebelião social, rebelião popular, para que os partidos possam se organizam embaixo para organizar lá em cima. Quem nesse estado confia na Assembleia Legislativa? Eu não confio. Tem que governar com conselhos populares porque a Assembleia Legislativa já mostrou a que veio; eleição é importante, precisamos eleger candidatos do PSTU, mas eleição não é a essência, a essência são os direitos dos trabalhadores, não é o vale-tudo eleitoral; o PSTU tem candidatos em todos os níveis, temos alternativas; usar o voto para eleger trabalhadores já é uma rebeldia.

DIÁRIO: A educação é um dos pilares que compõem o governo. Caso eleito, que propostas o senhor, como professor, tem para a área?

GIANFRANCO: A proposta do PSTU, que também é a minha, é, primeiro, valorizar o profissional a educação, coisa que não acontece no Amapá faz muito tempo; passa primeiramente por cumprir a lei do piso salarial, pagar os reajustes salariais; temos perdas históricas… Acabar com o parcelamento de salários, criar e cumprir planos de carreiras. É preciso investir pesado na Ueap, permitindo e dando condições para que a nossa universidade estadual tenha cursos de mestrado e doutorado, que não faz, e por que não pode fazer? Investir pesado na estrutura da Ueap, que é precária, o professor receber uma miséria; na realidade isso acontece em todas as escolas públicas, principalmente no interior, onde tem escolar que tem goteiras e as telhas estão caindo nas cabeças dos alunos. Tem que dar estrutura às escolas de tempo integral, que não merenda e não existem banheiros adequados para meninas e nem armário individual; é só papo furado.

 

DIÁRIO: Que tipo de revolução socialista defende, a que retira tudo da sociedade e dá para o estado e nada é do cidadão?

GIANFRANCO: O Brasil precisa e é necessário fazer uma revolução social; essas revolução social que defendemos não é a do modelo da Venezuela, da Coréia do Norte e da China; a gente defende o socialismo que tem como principal pilar básico os cinco primeiros anos da Revolução Russa de 1917, que colocou o trabalhador no Poder e passou a governador através de um conselho popular; deu tão certo que o país chegar a disputar a hegemonia com a maior potência econômica do Mundo, os Estados Unidos, durante a ‘Guerra Fria’.

 

DIÁRIO: O senhor ouviu as propostas dos quatro candidatos que o antecederam nessa rodada de entrevistas. O que o senhor manteria ou desprezaria das propostas aqui apresentadas pelos outros candidatos ao governo?

GIANFRANCO: São muitas as propostas, mas é precisa dizer como fazer, o que é bom ou ruim é a classe trabalhadora, a população que vai dizer; somos nós que sentimos na pele o que é passar fome, ter contas de luz pra pagar e não poder pagar; nós é que sentimos falta da saúde, de moradia e emprego; quem vai dizer como gerenciar é o povo, porque é o povo que sabe o que é bom e o que é ruim.

 

DIÁRIO: Nesse caso, o que o senhor faria para reduzir a força da União em relação ao Estado, porque às vezes a decisão é lá de cima e o governo do estado não tem força, como especificamente com relação às tarifas de luz e de água?

GIANFRANCO: O país está quebrado, isso é um fato, mas quem está quebrada mesmo é a classe trabalhadora, tanto que esses seis bilionários que concentram renda de 100 milhões de pessoas não enfrentam crise. E nós defendemos que os parlamentares da bancada federal, assim como da Assembleia Legislativa, se eles não atenderem as necessidades da população, tenham seus mandatos revogados e instalar conselhos populares, tirando eles do Poder, porque, afinal, o que eles estão fazendo lá?

DIÁRIO: Como o senhor pretende acabar com o parcelamento de salários do funcionalismo estadual?

GIANFRANCO: Eu sou funcionário público e sei o que é viver com salário parcelado… Eu acabaria com o parcelamento logo no primeiro mês; inicialmente, claro, tem que rever o orçamento porque, pra ter ideia, o orçamento da Assembleia Legislativa tem projeção de R$ 178 milhões para o ano que vem, que dividindo para 24 deputados, dá aproximadamente 7 milhões e mio de reais para cada deputado, que pode viver com um pouquinho menos, e dá pra pagar a dívida pública, que é o maior roubo no Brasil e no estado do Amapá; eu ia tirar esse dinheiro, mexer no orçamento, porque é preciso reduzir, tem que chegar com o deputado e partir pra briga mesmo, porque todo parlamentar deveria receber o mesmo salário do servidor; eu vivo do salário de professor, por que eles não podem viver? Tem que reduzir privilégios e reduzir os salários de todos os Poderes para ajudar os trabalhadores.

 

DIÁRIO: Se eleito qual será sua atitude com relação ao modelo educacional que temos no estado, considerando que o seu partido é caracterizado por ideais revolucionárias, radicais e defende o rompimento do sistema político do país? O senhor aproveitaria pontos importantes do sistema atual, seguiria as diretrizes nacionais atualmente existentes?

GIANFRANCO: É o que eu falei anteriormente, o que for bom para a população a gente mantém, e o que é ruim a gente troca. Hoje estão tirando dinheiro publico e investindo na educação para privatizar o ensino; dinheiro público tem que ser investido no público; precisa encontrar alguma forma de criar mecanismo para que a Lei de Diretrizes da Base da Educação seja respeitada; estão sucateando a educação pública para matricularmos os nossos filhos em escolas particulares; dei aulas em várias escolares particulares e sei o que é isso; eu sei que outros não acabariam e vai gerar polêmica, mas eu acabaria com a gestão compartilhada militar em escolas porque defendo a educação democrática; é preciso investir na escola normal, porque é muito fácil gerenciar escola militar transferindo aluno para o ensino normal se o aluno não se encaixa na disciplina militar…

 

DIÁRIO (pergunta do candidato ao governo João Capiberibe, do PSB): Nós estivemos juntos no debate em Oiapoque e só nós dois participamos. Por que o senhor acha que os outros candidatos não apareceram?

GIANFRANCO: É verdade, os outros são covardes, fugiram do debate todos eles estavam em Oiapoque para participar da Conferência Indígena; eu fui de ônibus, eles de jatinho; quando cheguei lá só estava eu e o Capí; debatemos saúde, educação, segurança pública, apresentamos nosso plano de governo; na realidade eles podem estar até em sacos seperados (em alusão à máxima pregada pelo sindicalista e candidato a deputado estadual pelo PSTU, Genival Cruz, de que “todos são farinha do mesmo saco”), eles podem até estar em sacos separados hoje, mas colocados juntos num mesmo saco e são farinha do mesmo saco; eu não, porque a minha farinha é boa, ao contrário da farinha deles, que é azeda…

 

DIÁRIO: Os resultados da produção artística do Amapá são excelentes no Brasil e em outros países, com prêmios nacionais e internacionais, mas e preciso mais. Eleito, que projetos o senhor pretende executar para que nossos artistas façam muito mais em prol da nossa cultura?

GIANFRANCO: O PSTU e eu temos muitos projetos para a cultura porque a valorização da cultura do Amapá é prioridade do PSTU; vamos valorizar os artistas locais e investir no setor cultural.

DIÁRIO: O senhor tem projetos para a pesquisa científica?

GIANFRANCO: Não só para a pesquisa científica, porque a juventude do estado do Amapá está sem perspectiva; o jovem termina o curso universitário, mas não tem emprego; por isso é preciso fazer uma rebelião social e executar projetos para incentivar a pesquisa e fortalecer a educação, tirando dinheiro de quem tem, não da classe trabalhadora, pasra gerar gerar emprego e renda para o pobre, para o nobre, que é quem mais sofre; não é a toa que o nosso estado tem mais taxa desemprego do país…

 

DIÁRIO: A Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que cerca de 5 milhões e 600 mil pessoas morrem todos os anos no Mundo em razão da má condição de atendimento nas redes públicas, e no Brasil e no Amapá não é diferente; Se eleito, o que o senhor pretender fazer melhor o atendimento na rede pública, principalmente nos hospitais?

GIANFRANCO: A saúde no Brasil é caótica, especificamente no Amapá; você visita o Hospital das Clínicas (HCal), o Hospital de Emergência e hospital das crianças (Hospital de Pediatria) e percebe que não tem leito; na maternidade (Hospital Mãe Luzia) já teve até foto nas redes sociais com duas mulheres na mesma cama tendo filho no chão; pacientes ficam em cadeiras, acidentados com fraturam ficam nas filas de cirurgia até morrerem; não tem medicamentos, quem tem câncer tem pressa e aqui temos quimioterapia, mas o paciente faz a primeiras sessão. Mas quando volta para a segunda não tem medicamentos e o tratamento é prejudicado porque não tem continuidade; o SUS (Sistema Único de Saúde) tem que ser 100% pública, tem que investir mais, tem que pelo menos dobrar o orçamento da saúde e melhorar o salário do profissional, que não é o responsável pelo caos, mas sim quem a população colocou no governo;

 

DIÁRIO: Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública a cada ano mais gente morre no Amapá de forma violenta. Que medidas o senhor pretende adotar para conter essa violência?

GIANFRANCO: Investir no social e combater o desemprego; temos atualmente 78 mil desempregados no Amapá, quase a população de Santana; acabando com o desemprego vamos reduzir o desemprego, por tabela; é preciso também valorizar os profissionais da segurança pública, que não são valorizados, o setor também é precarizado e os profissionais não têm nem o direito de se organizarem para reivindicarem melhores salários, por exemplo. Precisamos mudar isso.

DIARIO: O senhor tem projetos para incentivar o 1º emprego, para inserção dos jovens no mercado de trabalho?

GIANFRANCO: A juventude do Brasil e do Amapá vive sem perspectiva; hoje o jovem é ‘nem-nem’, isto é, nem estuda, nem trabalha e nem vê horizonte perto, não tem perspectiva do 1º emprego; as empresas exigem experiência, mas para isso é importante que dê condições para o jovem ter experiência, e como isso é possível se eles não têm acesso ao 1º emprego? Como governador eu tenho como criar políticas públicas que garantam o 1º emprego, e investir na educação principalmente para gerar emprego, coisa que nenhum outro candidato que colocou os cotovelos na bancada deste programa falou; e pra gerar emprego é preciso reduzir a jornada de trabalho de 40 para 26 horas semanais sem reduzir salário, para aumentar o número de empregos.

 

DIÁRIO: Por que o PSTU diz que todos os políticos são “farinha do mesmo saco”?

GIANFRANCO: Porque cada qual é responsável por suas escolhas. O Brasil, por exemplo, foi governado 14 anos pelo PT, que resolveu andar com o Sarney, o Collor, o Maluf, o Renan, o Renan Calheiros, com o Temer, e essas misturas foram colocada num mesmo saco, misturaram bons e ruins; a nossa escolhas é a classe trabalhadora, é isso que a gente defende.

 

DIÁRIO: Na sua opinião, o que mais impede o Amapá se desenvolver?

GIANFRANCO: São os corruptos que temos aqui, e não são poucos; tem gente que rouba até merenda das crianças; nós defendemos cadeia para corruptos e corruptores e confisco dos bens; não é só colocar corruptos na cadeia, mas confiscar os bens também.

 

DIÁRIO: O senhor defende socialismo no país, o PSTU defende essa bandeira; mas temos a nossa vizinha Venezuela, com o Brasil recebendo venezuelanos expulsos de lá pelo socialismo que governa com mãos de ferro, gerando problemas sociais difíceis de serem resolvidos. Esse regime também se aplicaria aqui?

GIANFRANCO: A Venezuela não é nossa referência, o Maduro (presidente da Venezuela) nunca foi socialista; ele e o Hugo Chaves (ex-presidente daquele país) são ditadores; aquilo não é socialismo; inclusive os brasileiros têm que abraçar os nossos irmãos venezuelanos porque nenhum ser humano é ilegal; não se pode fazer o que o Donald Trump (presidente dos Estados Unidos) faz colocando crianças em jaulas; isso é desumano; o socialismo só não é possível, como é necessário, porque não dá pra viver numa sociedade capitalista dessa forma; o capitalismo não dá certo, senão teria resolvido os problemas da fome, do desemprego e da educação


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