Política

Jovem deputada reafirma compromisso com a educação e com uma política que combata as desigualdades sociais

Vindo ao Amapá pela primeira vez, para dar palestra na Escola do Legislativo, a deputada federal Tabata Amaral (PDT-SP) foi entrevistada com exclusividade pelo jornalista Luiz Melo.


Jovem de 25 anos, formada em Ciências Políticas na Universidade Harvard, saída da periferia de SP, Tabata é uma das 100 mulheres mais influentes do mundo, segundo escolha da BBC.

Tabata luta por uma educação que dê chances iguais a todos e por uma política inclusiva sem desigualdades sociais. Para muitos, como ela própria diz na entrevista, Tabata peca pela sinceridade, daí não ter perfil para a política. Com uma lucidez impressionante a deputada afirma que a população não aceita mais políticos que mentem, e que ela está onde está porque somente pela via política pode haver mudanças na sociedade. Acompanhe a conversa de Tabata com Luiz Melo.

Jornalista Luiz Melo – Como foi o percurso da escola pública para a Harvard?
Deputada Tabata – A palavra que resume minha trajetória é educação, e são as chances, a oportunidade que eu tive na educação. Os mais novos talvez conheçam as Olimpíadas de matemática das escolas públicas. Eu participei da primeira e da segunda versão, em 2005 e 2006. Isso me deu uma bolsa de estudos em uma escola particular que ficava uma hora e meia da minha casa de ônibus, eu moro em uma ocupação na periferia da zona sul de SP, e foi aí que meu mundo começou a mudar. Foi a primeira vez que eu conheci, um lugar que além da periferia. Nenhum dos meus pais tinha estudado. E foi a primeira vez que falaram comigo de faculdade, de sonho, de profissão. Fui correndo atrás, estudando, meu professores ajudando, fui pra competições mundiais, não de futebol ou de algum outro esporte, porque não tenho muito talento nessa área, mas de Química, Astrofísica, e ganhei bolsa pra fazer faculdade lá fora da própria universidade.

Luiz Melo – Uma das suas bandeiras, como parlamentar federal, é a defesa de uma educação de qualidade para a redução das desigualdades no Brasil. É uma missão, digamos, quase impossível, ou perfeitamente possível, deputada?
Tabata – Pra mim é uma missão muito difícil; talvez leve uma vida todinha, pra termos a melhor educação pública do mundo, que é o meu sonho. Mas é o único sonho que cabe em mim, que me faz sentido, porque enquanto eu tive uma trajetória de muita oportunidade, de muita chance, na educação, ninguém mais ao meu redor teve. Eu perdi um número sem fim de amigos, com 14, 15, 16 anos de idade, pras drogas, pra violência, pro crime; perdi também meu pai com 39 anos de idade, também para as drogas. Conheço vários amigos que não completaram o ensino médio e eu tenho muita consciência de que eles não são menos esforçados ou menos inteligentes do que eu, simplesmente não tiveram chance. É por isso que eu trabalho com a educação.

Luiz Melo – A senhora diz que o seu sonho é que a educação vire prioridade no país. É possível fazer isso?
Tabata – É possível. E aí eu conto principalmente com aqueles que aos trancos e barrancos puderam ter um pouco de educação. E pra explicar, a gente esquece o quanto o nosso Brasil não foi educado. De cada dez adultos no Brasil, sete não conseguem entender textos mais complexos, ou seja, não foram nem plenamente alfabetizados. E aí sempre que encontro alguém que com muita dificuldade conseguiu terminar o ensino médico, conseguiu fazer um curso técnico uma faculdade, eu digo: foi muito difícil, mas a gente já é parte de um pequeno grupo no país. Então, se a gente não lutar pra colocar a educação na pauta, vai demorar ainda muito tempo pra população conhecer e saber a importância da educação.


Luiz Melo – Que soluções a senhora proporia para enfrentamento na questão de que apenas 12% das pessoas adultas possuírem ensino superior no Brasil, e mais da metade não terem o ensino médio, por exemplo.

Tabata – Quando a gente fala de educação básica, pra mim são três áreas que são fundamentais. Uma delas é o financiamento. A gente agora está discutindo o Fundeb, que é o Fundo Nacional de Educação Básica, que cobre seis de cada dez reais dessa educação, vence no próximo ano, e a gente tem quer desenhar um financiamento que leve mais equidade para os municípios, especialmente os mais pobres, mas que também leve mais eficiência para a educação. Que a gente tenha a certeza de que cada centavo que a gente investe, vai de fato para o aprendizado. Tem uma segunda pauta, que é das mais antigas, e com mais dificuldade, a questão dos professores. A gente tem que melhorar a valorização, a formação, que hoje é muito teórica.

Luiz Melo – Melhorar a qualidade do professor…
Tabata – Não. Melhorar a qualidade da formação que se tem no ensino superior.

Luiz Melo – Significa mais investimento…
Tabata – Não só isso. É você mudar o que o professor aprende na faculdade, por exemplo. Hoje é muito teórico, pouco prático. A gente tem mais da metade dos pedagogos se formando em ensino à distância, sendo que pra mim é uma profissão tão difícil ou mais do que a de médico, e um bom médico tem que aprender a fazer a cirurgia, e não só a teoria. A gente tem que melhorar o salário, melhorar as condições, porque hoje os alunos com as melhores notas no Enem não querem ser professores. E a gente tem os alunos com as piores notas, tirando as exceções, obviamente, querendo ingressar na carreira. Então, se a gente fala de financiamento, e fala de professores, pra mim sobra uma pauta, que é a de ensino técnico, porque no Brasil temos uma visão muito elitista. Dizemos que ensino superior é pra rico, e para o pobre, o ensino técnico, mas no fim das contas só quem tem oportunidade é quem faz os dois. Quem é pobre, mesmo, não faz nem o ensino médio. E aí, com este mundo que está mudando, com novas profissões, com a tecnologia, com a impressão 3D, etc. etc., a gente tem que encontrar uma maneira de ser todo contínuo. Explicando: a gente tem o ensino técnico no ensino médio, depois você faça dois anos de um técnico tecnólogo, e quando for fazer faculdade, não tem que fazer cinco anos do zero, tem que ver tudo o que você aprendeu, e só fazer o que falta, mais um ou dois anos para sair com o diploma, porque já dizem que a gente vai ter cinco ou oito profissões ao longo da vida. Então, não vai ser como é hoje: estuda, trabalha e aposenta.

Luiz Melo – O bom professor não basta ser apenas um bom professor, tem que ser o bom professor…
Tabata – Tem que ser um bom profissional. Falo profissional porque tem muita gente que não entende ainda a importância desta carreira. Diz: ah, você é professor e faz mais o quê? Então, a gente tem que mudar esta cultura, de entender que é uma profissão que requer muito conhecimento, que você tem que ficar se atualizando, que é uma profissão tão prática quanto a de médico, de engenheiro e a de advogado, e isso passa pelo que a gente já falou: melhores salários, melhores condições de trabalho, mas também uma formação que é mais qualificada.

Luiz Melo – Por que a senhora, depois de toda essa preparação que conseguiu na Harvard, resolveu voltar para o Brasil, se tinha tudo pra ir mais à frente, lá?
Tabata – Na faculdade, eu comecei a estudar Astrofísica, que é uma coisa muito doida, que quer dizer que eu estudava o Universo; eu queria ser cientista; no segundo ano, mudei de carreira para Ciência Política, porque ficava muito evidente o quanto a minha vida era muito diferente de todo mundo da periferia onde eu morava. E aí era aquela coisa: que resposta eu ia dar para essa desigualdade? Eu podia ser cientista, morar nos Estados Unidos, receber muito dinheiro, etc., mas eu ia carregar pra sempre este conhecimento de que eu tive sorte mas e as pessoas que não tiveram não tiveram chance na educação? E aí, trabalhando com a educação, já fui professora, já fiz pesquisa, já trabalhei na Secretaria da Educação, organizei até movimentos sociais pela educação, como é o Marco Educação. Você vê que o problema está na política, e foi isso que me levou para a política.

Luiz Melo – E o movimento Acredito, criado pela senhora. Qual é a razão de ser dele?
Tabata – O Acredito é uma ponte entre a sociedade e os partidos. Os partidos, hoje em dia, são as organizações em que as pessoas menos confiam, porque eles se desconectaram com a sociedade. A gente tem mais de 30 partidos; obviamente não temos mais de 30 ideologias. As pessoas têm muitas dificuldades de entrar para esses lugares porque eles têm donos, porque as pessoas estão lá há décadas, porque não são democráticos, não são transparentes. Então, o movimento junta pessoas que querem transformar a política.

Luiz Melo – Passaria por aí, então, uma renovação dos quadros políticos…
Tabata – Eu acredito muito nos partidos; tem muita gente, por exemplo, que defende candidatura avulsa. Não é o meu caso, porque eu sou cientista política. O partido é importante na democracia.

Luiz Melo – Mas a senhora está tendo problema com o partido político…
Tabata – Mas qual é a minha postura? A gente apresentou um projeto de lei na Câmara, com mais de 20 autores, que é pra fortalecer os partidos. O que é que a gente fala nesse projeto? É difícil? É, mas a gente não pode virar as costas para os problemas. Os partidos, hoje, não declaram como gastam o dinheiro público. A gente não tem ideia de quanto o dirigente partidário recebe de salário, não sabe quanto gasta com hospedagem, com avião. São coisas absurdas. A gente coloca no projeto exatamente tudo o que está gastando. Pra ser dirigente partidário, tem que ser eleição, tem que ter mandato, no máximo dois mandatos; pra decidir quem é candidato tem que ter prévia.


Luiz Melo – Passaria pela renovação partidária?

Tabata – Isso. Para fortalecer os partidos, pra sociedade se vê nos partidos. Agora, tenho certeza: a política não vai mudar enquanto os partidos ficarem lá com os seus donos encastelados, longe da população.

Luiz Melo – O Movimento Acredito. A inspiração para criá-lo veio de algum outro projeto mais ou menos parecido?
Tabata – Ele veio mais de uma angústia. A gente sempre via que as coisas não mudavam. Por exemplo, a educação, porque a política e os políticos não queriam. Então, entendemos que se fôssemos juntos, mesmo sendo cidadãos comuns, teríamos mais força. É pra isso que serve o movimento: pra cidadãos comuns se unirem e aí tentar mudar a política de dentro.

Luiz Melo – O que é pra senhora estar entre as cem mulheres mais influentes do mundo?
Tabata – É uma grande honra. Eu demorei até um pouquinho pra entender o que isso significava, porque nesse ranking que a BBC fez tem pessoas que eu admiro muito, como a ativista pelo meio ambiente, a Greta, como a deputada federal americana Ocasio-Cortez. Então, por um lado me deixa muito feliz, mas por outro dá uma responsabilidade gigantesca. É que tem muita menina que não tem alguém pra se inspirar com mulheres jovens na política. Então, se eu fracassar, seu eu errar, elas vão se decepcionar. Pra mim fica muito forte isso: justamente por terem tão poucas mulheres jovens na política, ainda mais pessoas da periferia, que estudaram em escola pública, eu tenho mil vezes mais responsabilidade. Então, meu papel é mudar como os partidos funcionam, mudar como as eleições funcionam pra que essas pessoas também possam entrar no futuro.

Luiz Melo – O que a senhora quis dizer ao avaliar o atual ministro da educação ?
Tabata – O nosso ministro da educação, infelizmente, gasta um tempo precioso, gravando vídeos para as redes sociais. Recentemente, ao fazer o anúncio que havia acabado o contingenciamento no ensino superior, ele gravou um vídeo debochado. Eu acho isso muito metafórico. Ele está brincado com a coisa mais séria deste país.

Luiz Melo – A senhora já disse que o ministro, hoje, está mais preocupado em causar nas redes sociais do que fazer políticas públicas…
Tabata – Poxa, a nossa educação está indo tão mal, com tanto problema. Será que ele realmente está com tanto tempo sobrando pra estar fazendo este tipo de coisa?

Luiz Melo – Porque a senhora acha que apesar de tudo o ministro da educação é mais produtivo que o anterior?
Tabata – A minha maior crítica ao ex ministro é que ele era muito atrapalhado, era polêmica, desmando, não conhecia os temas. Já o atual ministro está produzindo mais coisas, só que muitos das coisas motivadas pela cabeça dele, por razões ideológicas.

Luiz Melo – …E a tal da escola sem partido?
Tabata – Esse projeto, que tem um nome com o qual concordo, porque ninguém quer partido na escola, não é baseado em nenhum estudo, e política pública se faz estudando, e não tem nenhum estudo mostrando que há exista doutrinação nas escolas; o próprio tribunal superior já disse que é inconstitucional esse projeto.

Luiz Melo – A senhora votou a favor da Reforma da Previdência, e desagradou o seu partido, o PDT. Não tem mais ambiente favorável nele, mas como sair se o partido continuar insistindo que a senhora foi infiel?
Tabata – Foram espalhadas muitas mentiras, o que é importante dizer. O partido não seguiu o estatuto. Em março, se fez uma reunião pra dizer que era contra a proposta do Bolsonaro. Trabalhei ativamente pra mudar esse texto, porque entendia que era importante fazer uma reforma, mas que ela não poderia ser injusta com quem mais precisa. Então, a gente tirou mudanças da aposentadoria rural e das mulheres, conseguimos negociar algo mais ameno para os professores. Eu participei das negociações. Só eu apresentei, juntamente com o deputado Felipe Rigone, nove emendas. Então, foram muitos meses de trabalho pra mudar o texto, que ficou muito próximo do que o Ciro Gomes defendeu na campanha. Eles foram completamente incorretos nesse processo, muito por razões eleitorais. Votei a favor, junto com outros sete deputados do PDT, porque pra mim o mais importante era fazer o que eu tinha dito o que faria, o que os estudos me mostraram. Para mim foi importante porque eu tinha medo de que com a pressão eu não tivesse coragem de seguir o que era certo, eu tive coragem, e aí o partido, sem fazer nenhum julgamento, suspendeu os deputados.

Luiz Melo – A opinião pública, o que achou da posição adotada pela senhora ao votar a favor da reforma? Porque a reforma até agora ainda não foi bem explicada para a opinião pública
Tabata – Tem muita mentira sendo divulgada, e muitas pessoas não têm ideia do que foi aprovado. Aí depende. Eu moro na periferia. Quando eu estou na minha comunidade, as pessoas entenderam, porque está todo mundo desempregado, todo mundo sofrendo, e disseram que eu fui muito corajosa, e que eu os representei por ser corajosa, mesmo sendo nova. Já as pessoas que são nos partidos, que estão nas redes sociais, que a gente fala que são a militância digital, elas estão lá, todos os dias. Quando estou na rua, é uma reação, nas redes sociais, é outra. E pra mim o mais importante é a reação da rua.


Luiz Melo – A senhora está indo à Justiça pra uma saída do PDT, digamos, sem mortos e feridos…

Tabata – O PDT me suspende sem nem me ouvir, sem ter fechado questão, porque eu votei igual como eles disseram na campanha, que votariam. Dizem que vai levar dois meses para fazer o julgamento; passam três meses, e não acontece nada, e as lideranças partidárias dizem que querem me sangrar, e eu a sexta deputada mais votada em São Paulo, e a segunda mulher mais votada do país e ainda a segunda mais jovem do Brasil, estou sem poder fazer nada. E aí, depois de três meses entrei na Justiça, porque vi que estava sendo sangrada, enganada. Entrei na Justiça pra mostrar toda a perseguição que estava acontecendo, e pedir o meu mandato, pra eu poder trabalhar plenamente.

Luiz Melo – Já tem resultado?
Tabata – Vai levar mais ou menos seis meses.

Luiz Melo – Já tem pra onde ir, deixando o PDT?
Tabata – Ainda não.

Luiz Melo – Que tal o PSDB ou o PP? O governador Dória já manifestou interesse de lhe ter no PSDB.
Tabata – Não conversei com o governador Dória. Eu recebi convite de quase todos os partidos, senão todos. Eu não saí do PDT, ainda. Eles não foram corretos comigo, mas serei correta com eles. Então, vou escolher um partido depois que a Justiça me der o mandato, e avaliarei duas coisas pra escolher um: um partido que não vá me expulsar, porque eu estou votando de acordo com o que falei o que votaria, e quero liberdade pra fazer exatamente o que eu defendo; a segunda é um partido que tope a gente tentar mudar as coisas.

Luiz Melo – A senhora disse no Roda Viva que tem levado chumbo grosso, por ser sincera demais. Tem a ver, ou não? Ou está faltando jogo de cintura pra senhora, por ser parlamentar de primeiro mandato?
Tabata – No meu sincericídio, que falam, acho que a população tem bem claro o que é ser sincero e o que é ter jogo de cintura. Eu sou uma pessoa muito do diálogo, que senta pra negociar. Sei dialogar, valorizo muito isso, mas tem uma diferença bem clara entre saber negociar, ter jogo de cintura e ser mentirosa. Mentirosa não sou. Tem muita gente que diz que se eu continuar falando tudo abertamente, com sinceridade, nunca vou conseguir me reeleger. Tudo bem, eu não quero estar numa política onde tenha que mentir. Então talvez não tenha espaço pra mim, mas eu acho que a população está cansada de político que mente, que fala que não é candidato, depois é candidato; que diz que vai votar assim, e depois não vota.

Luiz Melo – As críticas têm vindo pelo fato da senhora agir de forma bem verdadeira, e também por ser mulher e jovem de 25 anos de idade?
Tabata – Eu acho que é um pouco das duas coisas, e o que aconteceu com o PDT é um bom exemplo. O que incomoda em mim, eu acho que não é tanto eu ser mulher e jovem, é mais eu ter práticas diferentes. Vou dar dois exemplos: todo parlamentar tem direito a 15 milhões de reais de emendas por ano, e tem parlamentar, não são todos, que dá pra prefeitura, pra ONG, pra embolsar uma parte desse dinheiro, e ninguém questiona isso. Eu tomei a decisão que cem por cento das minhas emendas vão ser por meio de um processo aberto. Foram mais de duzentos inscritos. Eu não vou olhar quem está na prefeitura nem pro dono da ONG. Eu quero um projeto de impacto pra mudar a vida dos jovens. São essas práticas que incomodam. Agora, a forma como as pessoas me criticam tem a ver com o fato de eu ser mulher. Ninguém me critica pelas minhas ideias, por quem eu sou. Sempre vão falar da minha aparência. Sempre vão me chamar de burra. Eu fui a primeira aluna brasileira a ser a primeira do curso de ciências políticas da Harvard, e me chamam de burra todos os dias, e me barram , e dizem que eu não tenho cara de deputada. mas isso faz parte. Vou continuar lutando, vou continuar com coragem.

Luiz Melo – Ciro Gomes tem criticado a senhora ou tem ficado à distância?
Tabata – Ele gastou bastante do seu tempo e da sua saliva pra falar sobre mim, pra espalhar coisas que ele sabia que eram mentirosas. Mas foi uma decisão dele; eu fico triste. Acho que o Brasil está sem uma liderança que vá no meio do caminho. A gente tem uma turma bem à esquerda, de extrema esquerda, outra turma bem à direita, de extrema direita, e não tem uma liderança de centro-esquerda, por exemplo. Eu acho que o Ciro poderia ter ocupado esse lugar, mas não, ele continua competindo com as pessoas que vão ganhar dele. Então, seria importante que ele fosse uma liderança, como foi no Ceará, que combata a desigualdade, que luta pela educação, mas que seja responsável, que se preocupa com o desenvolvimento econômico.

Luiz Melo – O Ciro é tido como um político de pavio curto ou talvez sem pavio. Numa comparação com Bolsonaro, tem mais pavio curto ou não tem pavio?
Tabata – Não conheço o Bolsonaro, pessoalmente. Não tenho a menor ideia dessa resposta. Mas o meu papel é lutar por uma política que vá além dos extremos, e eu acho que a gente está sem liderança neste meio campo.

Luiz Melo – Qual é a sua visão de mundo, atualmente?
Tabata – A visão de mundo que eu defendo é de um Brasil mais inclusivo, e aí eu resumo a educação. Todo mundo nasce com a mesma chance na vida, saindo do mesmo ponto de partida: possa entrar na faculdade, tenha chance de passa no vestibular, consiga um emprego de qualidade. Isso a gente faz combatendo a desigualdade; mas também é de um Brasil que seja mais desenvolvido, seja responsável, que topa fazer as reformas mais importantes. E eu coloco isso numa centro-esquerda.


Luiz Melo – A senhora já disse que não nasceu para a política, e até comentou o seguinte: imagina se eu tivesse nascido. Por que, deputada, a senhora acabou mergulhando na política?

Tabata – Acho que não nasci pra política, porque às vezes sou um pouco impaciente; frustro-me com as coisas erradas que a gente vê na política, mas acho que isso é bom, não é ruim, não, porque tenho coragem de questionar as coisas. Trabalhando com a educação por muitos anos, pra mim ficou evidente que a gente só consegue chegar a um Brasil que a gente quer, desenvolvido, inclusivo, se for pela política. Então entrei na política.

Luiz Melo – A senhora também já disse que o Brasil é um país muito intolerável. Por quê?
Tabata – Eu não disse intolerável, disse intolerante. O Brasil, hoje, está muito intolerante com idéias diferentes. Basta ver as redes sociais, a última eleição. A gente está muito dividido. E eu acho que tem a ver com a nossa desigualdade, que é abismal. As pessoas não têm ideia do tamanho da desigualdade do Brasil, não têm ideia de quantas pessoas pobres, extremamente pobres, temos ainda hoje. E essa intolerância na política é muito ruim, porque é muito violenta.

Luiz Melo – Por onde a voz da senhora ecoaria mais forte num debate entre esquerda, extrema esquerda, direita e extrema direita?
Tabata – Eu me coloco na centro-esquerda. Acho que a gente precisa construir esse caminho para o Brasil, porque acho que os extremos não resolvem o problema de ninguém.

Luiz Melo – Com está o Brasil em termos de pesquisas?
Tabata – A gente está vivendo um momento, que pra mim é muito absurdo, porque quando todos os países sérios, quando têm problemas econômicos, de desenvolvimento, é nesse momento que eles investem mais em pesquisas, educação, ciência e tecnologia, porque isso gera valor, produto, que gera inovação. E numa das maiores crises que já tivemos no Brasil a gente está cortando tudo o que é investimento em pesquisa. Então pra mim isso é boicotar o nosso futuro, é boicotar o crescimento no longo prazo.

Luiz Melo – Apesar dos pesares, a educação pública no Brasil vai ter avanços?
Tabata – Vai ter avanços, se depender de mim e dos professores que estão nas salas de aula, dos ativistas pela educação. Só é muito duro, porque as pessoas ainda não entenderam quão urgente é a questão da educação. Mas a gente fez um grande avanço, que não podemos esquecer, que foi botar todo mundo na sala de aula, pelo menos na educação básica, nos primeiros anos. Meu pai dizia: na minha época escola pública era coisa de rico, e hoje em dia não é maisd. Agora a gente tem que mudar a qualidade.

Luiz Melo – Que avaliação a senhora faz do governo Bolsonaro?
Tabata – Pra mim, o maior problema do governo Bolsonaro é que ainda não entendeu que a eleição acabou. Então, tem muitas vezes que o presidente fala que eu sinto que ele está falando praquele um terço da população que o apoia, não para a população brasileira como um todo. Então, pra mim, um exemplo que mostra isso muito bem, é quando ele faz um discurso lá fora. Fala só de coisas do Brasil, não fala como líder de Estado. Ele fala de polêmicas do Brasil. Quando a gente está na Câmara, que a gente vê os discursos, parece que a eleição começou em 2018 e só vai acabar em 2022, e a gente sabe que políticas públicas não se faz em período eleitoral. Então, o apelo que faço é que ele entenda que a eleição acabou, que ele desça do palanque pra conversar com as pessoas, porque o Brasil precisa avançar e do modo em que está só prejudica os mais pobres.

Luiz Melo – O voto é secreto, mas eu ouso perguntar: em quem a senhora votou pra presidente?
Tabata – No primeiro turno, votei no Ciro Gomes; no segundo, no Haddad.


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