Política

Promotores defendem prevenção para o combate à corrupção

Projeto ‘Prevenção à Corrupção: o MP vai à escola’ começa a ser executado em 10 escolas municipais e estaduais de Macapá.


Após ministrar palestra no auditório do auditório Haroldo Franco, no MP Araxá, onde abordou o tema “Prevenção primária à corrupção em escolas da rede pública” nessa terça-feira (25), a promotora de justiça do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), Luciana Asper, que também é coordenadora do Fórum Nacional de Combate à Corrupção do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), concedeu entrevista exclusiva ao programa CaféComNotícia (DiárioFM 90,9), apresentado pela jornalista e radialista Ana Girlene, com a participação dos promotores da Promotoria do Patrimônio Público do Ministério Público do Amapá (MP-AP) Afonso Guimarães e Laércio Mendes.

Na entrevista os promotores fizeram uma avaliação do projeto “Prevenção à Corrupção: o MP vai à escola”, que foi lançado durante a palestra e contempla inicialmente 10 escolas estaduais e municipais de Macapá. Luciana Asper explicou que a iniciativa estratégica do MP-AP tem o objetivo de contribuir para a prevenção primária à corrupção, promovendo a educação para a ética e cidadania em ambientes escolares. A promotora também debateu com a bancada do programa sobre experiência no campo da prevenção primária à corrupção.

“A gente costuma transferir o problema da corrupção para outros, por achar difícil enfrentar por nós mesmos, mas essa transferência gera cada vez frustração, uma certeza que não sabemos para onde ir. Essa ideia de trazer a sociedade civil para combater a corrupção se defende desde quando assinamos a Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção. Naquela época já se dizia, que não podemos sair apenas apontando o dedo, porque dessa forma dificilmente vamos inverter esse problema. O combate a corrupção se faz através de ação coletiva, passando a ser protagonista desse combate. É um tripé, tem a repressão que geralmente entregamos para o Estado, como temos aqui no Amapá os dois colegas (Afonso e Laércio) que representam isso, para punir corruptos, colocar na cadeia e recuperar o dinheiro roubado do povo brasileiro; tem o controle interno e externo, mas tem também o controle social, que é o mais eficiente e barato, levando as instituições públicas o que pode ser vigiado, o que deve ser atacado”, dissertou a especialista.

Para Luciana Asper, a honestidade precisa ser cultuada, como forma de afastar o pensamento comum de que a corrupção se trata de uma questão cultural: “Uma forma bem mais simples de combater a corrupção é sermos embaixadores da honestidade. A gente costuma apontar políticos como desviadores, mas os pequenos eleitores se vendem por cesta básica, por exemplo. É preciso conscientizar que escolhas honestas vão gerar um país prospero, de potencial para todas as coisas, como o Brasil deve ser; nos desafios diários escolher o caminho da honestidade. Tem quer parar com estorinhas de que todo mundo faz, que sempre foi assim, desde Cabral; tem que acabar com essa vitimação que nos transforma em vencidos. Somos protagonistas, basta mudar nossos hábitos”.

Corrupção enraizada


Segundo a promotora, a corrupção acontece nos pequenos gestos: “Na consulta médica você aceita negociar o valor sem a nota fiscal; você se render pagar supostos despachantes pra resolver problemas na administração pública que não consegue resolver em tempo hábil; tudo é uma forma de corrupção, e não resistir às pequenas corrupções deixa a pessoa propensa a cometer atos maiores. De modo que essa iniciativa é para levar a esperança que nós temos o poder, os anticorpos dentro de nós mesmos para combater a corrupção, para valorizar a honestidade, fazer a coisa correta. Garantir uma educação com excelência, com suporte e idiomas, músicas, artes, com professores valorizados, com mestrados e doutorados. A mesma coisa na saúde, porque as pessoas hoje pagam a corrupção com a vida porque não conseguem se atendidas. Se houvesse investimentos na saúde não morria tanta gente”.

Ainda de acordo com Luciana Asper, o Brasil é o pior avaliado entre 48 países no que diz respeito à eficiência do serviço público: “O Brasil é o pior avaliado nesse quesito, porque todo o serviço público essencial é ameaçado, e para reverter esse quadro depende da nossa postura de discernir o que é certo e o que é errado, para fazermos o que é certo e colher o que é certo. A gente não tem como importar gestores para virem da Nova Zelândia ou da Alemanha, tem que sair do nosso meio; a partir da mudança postural individual vamos passar a cobrar do nosso vizinho, do gestor e do político; assim a gente consegue fortalecer as instituições e mudar o quadro que estamos vivendo hoje”.

Movido pela esperança


O promotor Afonso Guimaraes afirmou que o sentimento que ele nutre é de esperança no sentido de o Brasil encontrar o caminho correto e se livrar da corrupção: “Eu sempre acredito, o que me move não é a minha carteira trabalho de promotor, e sim a minha esperança, acreditar que o Brasil precisa reencontrar caminho, pois chegou ao fundo do povo. O povo tem que tomar uma posição; ou coloca este país no rumo correto para que em futuro próximo tenhamos serviços públicos de qualidade, uma classe política melhor e mais bem intencionada, ou deixar como está e morrer na fila dos hospitais. O que me move é a esperança que sociedade vai tomar a decisão correta”.

Ao definir a corrupção como “mãe de todos os crimes”, o promotor defendeu que se trata de uma espécie de vírus social que a pessoa adquire em um determinado momento da vida: “Ninguém nasce corrompido; em algum momento da vida a pessoa se deixa corromper, adere ao caminho errado. A corrupção é a mãe de todos os crimes; na hora que rouba, acaba de se corromper. A corrupção é uma decisão pessoal, não é um pecado original que se transmite pela maternidade, pela paternidade, não vem de adão e Eva; todos nós nascemos puros na essência. Essa é a importância de lutarmos contra a causa maior de todos os delitos que é a corrupção”.

Afonso Guimarães disse acreditar que no futuro o Brasil possa ser melhor sem a corrupção: “Esse trabalho precisa ser aprofundado pelo Ministério Público, e está sendo aprofundado; na gestão do doutor Marcio Alves (Procurador-Geral do MP-AP) isso vem acontecendo. Nós estamos nos empenhando, é a hora, ou melhor, já passou da hora de trabalharmos a repressão. Eu acredito que podemos ter no futuro um pais bem melhor onde as pessoas em vez fazerem planos para ir embora, resolvam ficar no país. Mas para que isso ocorra é preciso que as pessoas comecem a tomar decisões corretas, pensem e olhem em quem votar. Na testa não está escrito quem é ladrão, corrupto, é certo, mas é só levantar informações nas redes sociais; e se tiver dúvida, n não vote na pessoa; a decisão é sua, quem oferece cesta básica é criminoso, vai acabar de enterrar o Brasil, a saúde, a educação. Cada um tem que fazer a sua parte. Sempre que eu me entendi ouvi que o Brasil é um pais de futuro, mas que futuro? Tenho 56 anos e esse futuro não chega”.

Combate à raiz do mal


O promotor Laércio Mendes enalteceu a parceria do MP-AP com várias instituições e comentou sobre o projeto: “Nós trabalhávamos apenas repressivamente, através de improbidade, da apuração de fatos ocorridos nesse âmbito, mas o Ministério Público, junto com parceiros, passar a atua nesse projeto para combater a raiz do mal da corrupção, que hoje lamentavelmente é cultura, é o velho jeitinho brasileiro, quando se tenta levar vantagem em tudo sem pensar nas conseqüências, nos próximos, nos serviços que estão sendo deixados para trás. O projeto é formidável, porque busca a prevenção já trabalhando as crianças”.

Questionado sobre a aceitação pela comunidade escolar, Laércio Mendes disse que todos os envolvidos estão motivados: “Está sendo absorvido pela sociedade, e isso nos motiva muito, porque é preciso que as escolas levem esse projeto para dentro das salas de aulas, dos ambientes escolares e do ambiente familiar, porque vai além das escolas. Precisamos mudar as próximas gerações, e para isso os parceiros são de extrema relevância, como a Unifap, a Faculdade Seama, as secretaria de educação do estado e do município, para fornecer o necessário para podermos entrar nas escolas, onde o corpo técnico e os professores estão participando em massa. Desde a primeira reunião na promotoria sentimos que há participação efetiva; isso é muito bom e eu e os colegas estamos bastante motivados, porque o nosso objetivo não é somente reprimir, mas prevenir para melhorar os serviços públicos em geral”.


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