Pe. Claudio Pighin

Com Deus não existe solidão


Umas das coisas que estou constatando, cotidianamente, é a manifestação de solidão das pessoas. Nunca tinha entendido o porquê de tanto barulho nas casas, desde manhã cedo, e nos lugares públicos. Alias, é tão intenso o som que não consigo nem escutar direito quando falam. Parece-me que todo esse forte barulho queira substituir algo que a pessoa não tem. Precisa de tudo isso para dar sentido à vida. Eu tenho dificuldade de compreender. Eu me alegro, sim, por estar junto com os outros, mas não consigo entrar nessa balbúrdia. Acho que a sociedade, ou como diz o evangelista João, o mundo falta-lhe uma verdadeira experiência de Deus. Buscando Deus, a pessoa não pode estar só e, portanto, não vai em busca de coisas efêmeras. É invocando Deus que damos maior sentido à vida. O salmo 60 das Sagradas Escrituras nos ajuda nesse sentido:

“Ouvi, ó Deus, o meu clamor, atendei à minha oração. Dos confins da terra clamo a vós, quando me desfalece o coração. Haveis de me elevar sobre um rochedo e me dar descanso, porque vós sois o meu refúgio, uma torre forte contra o inimigo. Habite eu sempre em vosso tabernáculo, e me abrigue à sombra de vossas asas! Pois vós, ó meu Deus, ouvistes os meus votos, destes-me a recompensa dos que temem vosso nome. Acrescentai dias aos dias do rei, que seus anos atinjam muitas gerações. Reine ele na presença de Deus eternamente, dai-lhe por salvaguarda vossa graça e fidelidade. Assim, cantarei sempre o vosso nome e cumprirei todos os dias os meus votos.”

Neste salmo, o fiel, que é um representante da assembleia litúrgica, reza para o rei em guerra possa triunfar e ter longa vida. De fato, a oração nos versículos 4 e 5 assim diz em síntese: “Habite eu sempre em vosso tabernáculo”, isto é, no Templo. O Templo que representa tudo na vida do fiel e, por isso, evoca com nomes diferentes e imagens até militares, enquanto é um refúgio, uma defesa. Todas essas linguagens são tentativas de manifestar a total confiança em Deus protagonista na vida daquele que acredita. Perante as provas da vida, as inseguranças, a instabilidade humana, as crueldades cotidianas, o mal que toma conta o autor desse salmo contrapõe um rochedo que lhe dá descanso. E, assim, que pode discernir a rocha da sua defesa que é o santo Templo.
É típico o uso nas Sagradas Escrituras da simbologia da ‘pedra’, que quer indicar a firmeza e estabilidade do Templo de Jerusalém, referência máxima da manifestação divina. Se você lembra, também Jesus evocava este tipo de linguagem. Por exemplo, quando chamou Cefa de Pedro, ou nas cartas que define ‘as pedras vivas’. A partir dessa experiência que o fiel encontra força e segurança sem fim. Tudo isso descrevendo como se estivesse numa torre forte e que os inimigos não têm como se aproximar ou assaltar. Assim sendo, as imagens militares se tornam ‘intimas’ e ‘pessoais’, bem representadas por essas palavras: “Habite eu sempre em vosso tabernáculo”.

Além do mais, “me abrigue à sombra de vossas asas”, isto é, a proteção do Senhor lhe garante uma demora definitiva onde se torna uma ‘tenda do encontro’ entre Deus e o ser humano. Naturalmente, isto dá muita alegria e, por isso, cantará hinos ao seu Senhor. Conclusão, essa experiência do encontro com o Senhor revela que o ser humano não é só, porque a graça e a fidelidade estão próximas e o protegem.

A respeito disso, o papa Francisco falou na ‘audiência geral’ de 26 de abril o seguinte: “Até quando perdurará a atenção de Deus pelo homem? Até quando o Senhor Jesus, que caminha conosco, até quando cuidará de nós? A resposta do Evangelho não deixa margem a dúvidas: até ao fim do mundo! Passarão os céus, passará a terra, serão anuladas as esperanças humanas, mas a Palavra de Deus é maior do que tudo e não passará. E Ele será o Deus conosco, o Deus Jesus que caminha ao nosso lado. Não haverá um dia da nossa vida em que cessaremos de ser uma solicitude para o Coração de Deus. Contudo, alguém poderia dizer: «Mas o que dizes?». Digo isto: não haverá um dia da nossa vida em que deixaremos de ser uma solicitude para o Coração de Deus. Ele preocupa-se conosco, caminha ao nosso lado. E por que faz isto? Simplesmente porque nos ama. Entendestes isto? Ele ama-nos! E sem dúvida Deus proverá a todas as nossas necessidades, não nos abandonará no tempo da prova e da escuridão. É preciso que esta certeza se aninhe no nosso espírito, para nunca mais se apagar. Há quem lhe dê o nome de «Providência». Ou seja, a proximidade de Deus, o amor de Deus, o caminhar de Deus ao nosso lado chama-se também «Providência de Deus»: Ele provê à nossa vida.”