Pe. Claudio Pighin

Bendito seja o senhor! Só ele faz maravilhas!


Todos somos sedentos de justiça, desde o menor deste país até o maior. Encontro a toda hora gente que reclama de uma convivência entre as pessoas marcada pela desconfiança, corrupção e, sobretudo, queixando-se dos governantes e políticos. Aqueles que conduzem o país são continuamente alvo de críticas e queixas que não têm fim. Mas, eu me pergunto: por que chegamos a essa perturbada realidade? Não será essa situação que gera cada vez mais violência? A vida do povo está ameaçada! Será que há solução para isso? As Sagradas Escrituras, como sempre, nos iluminam. O Salmo 71 nos mostra que a justiça é construída com uma relação entre Deus e governante. É essa ligação que nos permite discernir e viver uma realidade de paz. Leia atentamente esse Salmo.

“Ó Deus, confiai ao rei os vossos juízos. Entregai a justiça nas mãos do filho real, para que ele governe com justiça vosso povo, e reine sobre vossos humildes servos com equidade. Produzirão as montanhas frutos de paz ao vosso povo; e as colinas, frutos de justiça. Ele protegerá os humildes do povo, salvará os filhos dos pobres e abaterá o opressor. Ele viverá tão longamente como dura o sol, tanto quanto ilumina a lua, através das gerações. Descerá como a chuva sobre a relva, como os aguaceiros que embebem a terra. Florescerá em seus dias a justiça, e a abundância da paz até que cesse a lua de brilhar. Ele dominará de um ao outro mar, desde o grande rio até os confins da terra. Diante dele se prosternarão seus inimigos, e seus adversários lamberão o pó. Os reis de Társis e das ilhas lhe trarão presentes, os reis da Arábia e de Sabá oferecer-lhe-ão seus dons. Todos os reis hão de adorá-lo, hão de servi-lo todas as nações. Porque ele livrará o infeliz que o invoca, e o miserável que não tem amparo. Ele se apiedará do pobre e do indigente, e salvará a vida dos necessitados. Ele o livrará da injustiça e da opressão, e preciosa será a sua vida ante seus olhos. Assim ele viverá e o ouro da Arábia lhe será ofertado; por ele hão de rezar sempre e o bendirão perpetuamente. Haverá na terra fartura de trigo, suas espigas ondularão no cume das colinas como as ramagens do Líbano; e o povo das cidades florescerá como as ervas dos campos. Seu nome será eternamente bendito, e durará tanto quanto a luz do sol. Nele serão abençoadas todas as tribos da terra, bem-aventurado o proclamarão todas as nações. Bendito seja o Senhor, Deus de Israel, que, só ele, faz maravilhas. Bendito seja eternamente seu nome glorioso, e que toda a terra se encha de sua glória. Amém! Amém! Aqui terminam as preces de Davi, filho de Jessé.”

Esse salmo foi interpretado na figura do grande rei Salomão, qual exemplo de rei sábio, perfeito e ideal para a condução do povo. É com Salomão que se faz a verdadeira justiça. Quanto seria interessante que os governantes se espelhassem nesse grande rei. Assim sendo, o salmo focaliza, em primeiro lugar, a questão social qual a justiça e a defesa dos pobres. A defesa do pobre é um lugar comum no elogio monárquico oriental, mas em Israel a motivação é de natureza teológica: Deus protege o pobre, qual seu advogado defensor e o rei, como representante de Deus, deve ser garantia dessa proteção.

O rei também é mostrado conforme as estratégias de guerra, o grande triunfador, isto é, o triunfo do rei-messias, o consagrado, que, segundo a lógica do monarquismo, adquiria elementos cósmicos. Todas as nações se dobram ao rei de Israel e no mundo se abre uma nova realidade ascensional de riqueza: “Haverá na terra fartura de trigo, suas espigas ondularão no cume das colinas”. Imagino nos nossos tempos em que os governos buscam praticamente fazer o contrário, isto é, a riqueza está na exploração dos pobres e indefesos. Exatamente ao contrário do que o salmo nos prega.

Por isso, queremos afirmar com o salmo que o reino do rei ideal não tem nenhuma autonomia, mas se funda em Deus. O rei depende de Deus. O rei deve ser assim servidor tanto do Senhor quanto do povo. E a partir dessa realidade que podemos esperar novos rumos dos países e dos governos. Os novos ‘reis’ da terra, portanto, não podem fazer “uma economia idolátrica que precisa sacrificar vidas humanas no altar do dinheiro e da rentabilidade”, disse o papa Francisco. De fato, a idolatria nos afasta de Deus e, assim, não se consegue compreender e viver a maravilha da nossa vida.