O desabafo de Clécio em reação à cruel asfixia de órgãos ambientais para impedir desenvolvimento e progresso do Amapá
Em entrevista ao jornal Valor Econômico, governador Clécio Luís mostra que temos os melhores indicadores ambientais do Brasil, mas os piores indicadores sociais e econômicos do país; “quer coisa mais insustentável do que isso? Isso torna o discurso da sustentabilidade uma fraude”, denuncia

Douglas Lima
Editor
Ao jornal Valor Econômico, o governador Clécio Luís teve entrevista com Lorenzo Carrasco, publicada, quando mostrou desencanto com o que o repórter chamou de tecnocracia ambiental, titulando a matéria com a seguinte expressão: Amapá: desmatamento zero, desenvolvimento abaixo de zero.
Lorenzo viu no chefe do Poder Executivo amapaense um ferrenho crítico do radicalismo da tecnocracia ambiental. Segundo o jornalista, tal tecnocracia parece estar mobilizada para bloquear todo e qualquer empreendimento produtivo ou de infraestrutura de certo porte no país, em favor de uma visão idílica da proteção do meio ambiente e dos povos indígenas.
“Temos os melhores indicadores ambientais do Brasil, mas temos os piores indicadores sociais e econômicos do Brasil. Quer coisa mais insustentável do que isso? Isso torna o discurso da sustentabilidade uma fraude. Temos o estado mais preservado do país, talvez do mundo, mas [que está] na pobreza”, grafou a entrevista como palavras do governador Clécio.
O mandatário do Amapá mostrou a contradição intrínseca entre a agenda ‘verde’ prevalecente no Brasil, analisando que ela vai além das necessidades e aspirações de desenvolvimento e progresso da sociedade, agravada pelo alheamento das realidades locais pelos tecnocratas ambientais, pautados por preceitos – e preconceitos – muito mais ideológicos do que, propriamente, científicos e técnicos.
“À política do desmatamento zero, falta uma palavra aí. O que deve ser zero é o desmatamento ilegal. O agricultor, o indígena, precisa fazer a roça dele. Na Amazônia, você planta mandioca, colhe e aí deixa aquela terra para descansar. Quando volta, depois de dois ou três anos, virou uma floresta ali e tem de suprimir a vegetação de novo. Isto não pode ser considerado desmatamento”, disse o governador Clécio em 16 de outubro de 2024, no jornal Valor Econômico.
De lá para cá, a situação do Amapá permanece a mesma, com o agravante de que o sistema ambiental, através do ICMBio e ONGs do setor, bem como por meio de parlamentares, assina embaixo da resistência do Ibama em autorizar pesquisa petrolífera na Margem Equatorial. Para piorar a situação do estado, o ICMBio trabalha para criar reserva marinha onde a Petrobras planeja atuar, e uma reserva extrativista no distrito macapaense de Bailique.
Ao contrário dessas ofensivas, o governador Clécio Luís, por ocasião da entrevista ao Valor Econômico, defendia a industrialização como uma necessidade da região amazônica, o Amapá no meio, claro. “Não dá para a gente mandar só o óleo bruto para ser industrializado [no Sudeste]. Bota a fábrica aqui. Esse é o discurso correto, o caminho do meio”, viu o gestor.
As declarações de Clécio ganharam relevância porque na ocasião acabavam de ser divulgados dados do Projeto de Monitoramento do Desmatamento da Amazônia Legal por Satélite (Prodes) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), segundo os quais o Amapá era o líder do ranking nacional de preservação ambiental, tendo registrada uma taxa zero de desmatamento entre julho de 2023 e agosto de 2024.
“Nada mal, considerando que o estado já tem 73,5% do seu território preservado em unidades de conservação, terras indígenas e quilombolas, fração que o coloca no topo do pódio verde, à frente de outros estados com percentuais elevados de preservação, como Roraima, Rondônia, Acre e Amazonas. O Amapá é o antepenúltimo dos 27 estados brasileiros em IDH, à frente apenas de Alagoas e do Maranhão”, revelou o jornalista.
Carrasco prosseguiu em revelações: “O Amapá é o 19° em PIB (Produto Interno Bruto) per capita. Cerca de um quarto de sua população vive em favelas (aliás, apesar de ser a menos povoada, a região Norte tem a maior proporção de favelas do país). Macapá é a segunda pior capital em saneamento, atrás apenas de Porto Velho (RO), com apenas 54% da população tendo acesso à água potável e 8% a esgoto tratado; no interior do estado, a situação é ainda pior”.
Abordando a COP30, a acontecer em novembro de 2025, em Belém do Pará, o entrevistador conseguiu extrair de Clécio Luís que “seria e será muito ruim se os participantes comprassem colarzinhos de miçangas, tirassem fotos com lideranças indígenas e saíssem do evento com uma visão romantizada da floresta amazônica”.
O jornalista, de forma brilhante, descreve a cruel situação da região amazônica, dizendo que será interessante e pedagógico observar como os participantes da conferência irão reagir diante dos problemas reais da Amazônia, como as deficiências de infraestrutura, principalmente, saneamento e transportes, e de moradia decente, com o Pará exibindo cerca de 19% de sua população residindo em favelas e outras urbanizações precárias.
“Talvez, os tecnocratas do Ibama, que se obstinam em bloquear a possibilidade da exploração de hidrocarbonetos no litoral amapaense pela Petrobras, tenham em suas considerações a visão paradisíaca do santuário preservado, pensando em evitar que a atividade possa contribuir para catalisar um mais que necessário e urgente impulso de desenvolvimento no estado, com reflexos positivos na região”, diz Carrasco, para concluir: “Lástima que o desmatamento zero apreciado pelos seguidores do fundamentalismo ambientalista tenha como contrapartida o desenvolvimento abaixo de zero dos amapaenses. Dificilmente, encontrar-se-á símbolo mais adequado para o discurso farsesco da sustentabilidade”, finaliza o governador.
Deixe seu comentário
Publicidade




