Estamos dispostos a superar contradições
A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, defendeu que é preciso planejamento para enfrentar as mudanças climáticas e promover a transição energética. Também sobre investimentos na exploração de combustíveis fósseis no país

Cléber Barbosa
Da Redação
A ministra foi questionada por jornalistas sobre os projetos do governo e da Petrobras como a exploração de petróleo na Margem Equatorial do Brasil, extensa área marítima que vai do Rio Grande do Norte ao Amapá e onde o Rio Amazonas deságua no Oceano Atlântico.
Marina Silva – Nós vivemos um momento de muitas contradições, e o importante é que estamos dispostos a superar essas contradições. Em Dubai [na 28ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas – COP28, em 2023] nós assumimos o compromisso de fazer a transição para o fim de combustível fóssil, com países ricos liderando essa corrida, países em desenvolvimento vindo em seguida. E o que eu tenho dito é que é preciso que tenhamos uma espécie de mapa do caminho para essa transição. A pior forma de enfrentarmos uma situação adversa, e ela é adversa para todos, é não nos planejarmos para ela. Por isso que, muito corretamente, foi estabelecido que é uma transição justa e planejada.
Marina citou como exemplo o compromisso brasileiro de zerar o desmatamento até 2030, enquanto tem na agricultura o maior peso da sua balança comercial.
Marina – Já conseguimos reduzir desmatamento em 46%, na Amazônia, e em 32%, no país inteiro. “E olha que coisa interessante, nós conseguimos reduzir desmatamento nessa quantidade, evitamos lançar mais de 400 milhões de to. neladas de gás carbônico na atmosfera e, ao mesmo tempo, a nossa agricultura cresceu 15% e nós tivemos um aumento da renda da per capita em mais de 11%, e o Brasil conseguiu abrir mais de 300 mercados para a sua agricultura”.
A ministra afirmou, ainda, que o Brasil é capaz de liderar pelo exemplo na questão ambiental. Para isso, ela cobrou um financiamento robusto, pelos países desenvolvidos, para as ações de enfrentamento a mudanças climáticas, principalmente, em países mais vulneráveis.
Marina – O Brasil, talvez, seja um dos únicos países que tem um compromisso de zerar desmatamento até 2030. E nós consideramos que isso é liderar pelo exemplo. Todos os países em desenvolvimento são unânimes de que precisamos de recursos financeiros e de recursos tecnológicos; de juntar recursos públicos que sejam alavancadores, inclusive, para que a gente possa ter acesso a recursos privados. É necessária, também, transferência de tecnologia para ajudar países em desenvolvimento a fazerem suas transições, a reduzirem suas emissões e, sobretudo, a se adaptarem a uma situação que já é realidade. São recursos muito volumosos na área de infraestrutura. Tem uma outra agenda, que é a de perdas e danos: como reparar os prejuízos daquelas populações e regiões que já estão sendo dramaticamente afetadas, principalmente os países mais vulneráveis.
A ministra citou as iniciativas do Brasil para mobilizar a comunidade global durante a presidência do G20, no ano passado, e do Brics, no último semestre, em temas relacionados a desenvolvimento sustentável e mudanças climáticas.
Marina – É o pagamento por serviços ambientais, de conservação das florestas”, explicou Marina. “As florestas prestam serviços para o equilíbrio do planeta e isso ajudará a conservar florestas e seus povos originários e locais, que são responsáveis pela preservação dessas áreas no mundo inteiro.
Ainda de acordo com a ministra do Meio Ambiente, o governo Lula vem trabalhando em uma proposta de remunerar grandes, médias e pequenas propriedades rurais que têm reserva legal excedente.
Marina – São instrumentos econômicos para que a gente possa enfrentar a mudança do clima, a desertificação, a perda de biodiversidade e, ao mesmo tempo, combater a pobreza e as desigualdades, gerando emprego, gerando renda e, exatamente em função disso, é que nós estamos trabalhando medidas alternativas para viabilizar recursos, como é o caso do Fundo Clima, do Ecoinvest e do próprio Fundo Amazônia.
Financiamento climático para países em desenvolvimento até 2035.
Marina – Neste ano, a COP30 ocorrerá sob a presidência do Brasil, em Belém, e, segundo Marina, o objetivo do governo é que seja a COP da implementação, com compromissos financeiros robustos e metas de redução de emissões ambiciosas.
Perfil
Marina Silva – Professora, ambientalista e política brasileira. Formada em História, tem especialização em Psicopedagogia e Teoria Psicanalítica.
Formação acadêmica
– Doutora Honoris Causa pela Universidade Federal da Bahia e pela Academia
Chinesa de Silvicultura.
– Recebeu dezenas de títulos e prêmios nacionais e internacionais.
– Foi vereadora, deputada estadual e senadora – eleita sempre com votações recordes.
– Foi também ministra do meio ambiente entre 2003 e 2008.
– Disputou as eleições presidenciais de 2010, 2014 e 2018.
– Foi eleita deputada federal por São Paulo em 2022.
– Atualmente está novamente chefiando a pasta de Meio Ambiente na Esplanada.
Posicionamentos
– Ela foi eleita deputada federal por São Paulo em 2022 pela Rede Sustentabilidade, em federação com o PSOL, com 237.526 votos, sendo a 12ª candidata mais votada.
– Também é conhecida por sua plataforma anticorrupção e por se opor ao programa nuclear brasileiro, defendendo a redistribuição de recursos para fontes de energia renovável como solar e eólica.
– Defende um plebiscito nacional sobre investimentos em energia nuclear e limites de mandato presidencial.
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