Dom Pedro Conti

A resposta


Um jovem queria entrar num mosteiro onde, tinha ouvido dizer, o superior era um grande santo. Apresentou-se na portaria e pediu para falar com o dito superior. Este mandou perguntar o que ele queria.

– Entrar no mosteiro – foi a resposta do jovem.
– Se for por isso, fique sabendo que todos aqueles que quiseram entrar tiveram que superar uma prova muito difícil. Deve encontrar a resposta ao quesito que lhe será proposto. Quando souber responder, poderá voltar, e o superior ficará bem feliz de acolhê-lo.

Logo que lhe foi colocada a pergunta, o jovem partiu em busca da resposta. Leu livros, consultou homens sábios e cultos, mas sem encontrá-la. Anos se passaram. Quando já tinha quase perdido a esperança, resolveu juntar as últimas forças para uma última tentativa e, finalmente, numa terra longínqua, encontrou a resposta ao quesito. Voltou para o mosteiro. Entregou a resposta para o porteiro que, rapidamente, deu-lhe o recado do santo superior. A resposta estava certa, mas agora ele devia esperar ainda mil e um dia; só depois seria admitido no mosteiro. O aspirante a monge ficou feliz, também se decepcionado pelo novo prazo. Curioso, perguntou ao porteiro:

– O que teria acontecido se não tivesse trazido a resposta certa?

– Neste caso – respondeu o monge – você teria sido acolhido imediatamente. Se tivesse desejado mesmo, de coração, entrar no mosteiro, teria deixado de lado o seu orgulho e teria dado o primeiro passo rumo à sabedoria.

O evangelho deste domingo pode nos deixar com alguma dúvida. De um lado, Jesus parece ser totalmente radical. Fala de um desapego geral: renunciar a tudo, aos laços primários de todo ser humano como os afetos familiares e, espantoso, até à própria vida. Do outro lado, parece nos convidar a sermos prudentes, a pensar bem, a calcular e a negociar. A dúvida está, portanto, na escolha decisiva – por que tanta exigência? – e também na nossa capacidade de dar conta, ou não, do compromisso assumido.

A resposta talvez esteja no primeiro versículo da leitura: “grandes multidões acompanhavam Jesus”. Nós, talvez, ficaríamos felizes de ter tantos seguidores. Sempre somos tentados a medir o valor de uma pessoa pelo número dos admiradores, dos fãs, dos torcedores ou dos votos ganhos em tempo de eleição. Nas redes sociais, basta digitar poucas palavras para nos tornarmos “seguidores” de alguém. Até do próprio Papa Francisco, se quisermos. No entanto, a Jesus não interessavam as multidões. Não porque não quisesse seguidores. Ele mesmo chamou pessoas a segui-lo, incluindo Judas, o traidor. Mas não discípulos de qualquer jeito. Multidões para hoje aplaudi-lo e, amanhã esquecê-lo, ou crucifica-lo, não! Simplesmente porque Jesus não buscava o seu sucesso pessoal. O que ele queria era ajudar os possíveis discípulos a, eles mesmos, fazerem uma escolha que desse sentido pleno às suas vidas. Algo de tão importante e valioso que iluminasse todo o seu agir.

Falando de nós, que tentamos ser discípulos de Jesus. Existe um amor que explique todos os nossos amores? Uma esperança que motive todos os nossos esforços? Uma certeza que não se abale apesar das traições, decepções, fracassos, desistências nossas e dos nossos companheiros de caminhada? Neste mundo tudo passa, por isso, nada de puramente humano, nenhuma criatura, pode satisfazer plenamente a nossa sede de amor, de alegria, de sentido da vida. Somente Deus pode nos amar sem nunca desistir ou decepcionar. Jesus nos pede a entrega total porque ele quer nos devolver toda a beleza da existência humana, sem os limites, as incertezas, as infidelidades que condicionam as nossa s decisões e os nossos compromissos, para amar como ele amou. Esta “decisão”, porém, que parece tão nossa, é também um dom que devemos pedir. Negociar ou calcular é reconhecer que se fosse somente por nós, nunca daríamos conta. Mas, se formos humildes, se aceitarmos as nossas fraquezas, se pedirmos a sua ajuda, não somente ele nos chama a segui-lo a cada dia, ele nos dá também um coração livre e corajoso, capaz de amar até o fim. Sem perder tempo.