Dom Pedro Conti

Deus ressuscitou Jesus, aleluia


Neste ano, por coincidência, o domingo de Páscoa cai no dia 1º de abril, apelidado como “Dia da Mentira”. Uma brincadeira que caiu no gosto do povo e que não deixa de gerar confusões. Algumas acabam em belas e alegres gargalhadas, outras deixam rastos de raiva e humilhação. Em tempos de redes sociais, tenho certeza de que a questão da data dará muitas conversas, a favor ou contra. No entanto, se, no dia de Páscoa, al guém escrever: “Uma mentira que dura mais de 2000 anos”, não estará dizendo nada de novo.

No evangelho de Mateus, lemos que os guardas que tinham sido colocados para vigiar o túmulo de Jesus foram comprados, justamente, para espalhar a notícia falsa do roubo do corpo por parte dos discípulos dele (Mt 28,11-15). Outros, evidentemente, usarão argumentações mais sutis e elaboradas para difamar a fé dos cristãos. É bom estar preparados, não só para dar “razão da nossa fé” (1Pd 3,15), m as, sobretudo, para a nossa própria paz interior e podermos celebrar com alegria o evento que dá sentido ao nosso ser cristão. Um dia, também São Paulo escreveu aos fiéis de Corinto que “se Cristo não ressuscitou…a vossa fé não tem nenhum valor” (1Cor 15,12-18) e concluía, de forma mais lapidária ainda: “Se é só para esta vida que pusemos a nossa esperança em Cristo, somos, dentre todos os homens, os mais dignos de compaixão.” (1Cor 15,19). Vamos, portanto, entender um pouco a questão, sem a pretensão de esgotar o assunto ou obrigar alguém a acreditar. A fé é um dom de Deus e nunca será o simples resultado dos nossos argumentos racionais, porque, se fosse assim, chegaríamos a pensar que, no fundo, o que está em jogo não é mais algo, ou Alguém, acima de nós, mas tu do seria somente o fruto da, cada vez mais orgulhosa, inteligência humana.

Vamos logo tirar da nossa frente uma questão: verdade ou verdadeiro é só o que cada um de nós pode experimentar ou não? Nesse caso, o nosso conhecimento real seria bem reduzido. Bem pouco podemos ver com os nossos olhos ou experimentar com os demais sentidos. Na maioria das vezes, confiamos em quem nos diz ter visto, ouvido, e assim por diante. Em geral, todos confiamos, por exemplo, naquela que, de alguns séculos para cá, chamamos de “ci&e circ;ncia experimental”. Quando algo é provado e os experimentos podem ser repetidos nos laboratórios, o resultado merece toda a nossa confiança. No entanto, tem eventos que aconteceram uma vez por todas e que somente, em parte, são desvelados. É o caso do tão badalado, possível, Big Bang.

Nesse sentido, a Ressurreição de Jesus está fora dos eventos que podem ser experimentados, medidos ou repetidos. Está num outro plano, o da fé, ou seja, daquelas verdades que admitem a existência de Alguém maior do que nós. Alguém que, convencionalmente, chamamos de Deus. Nesse caso, porém, não é um Deus qualquer, um ser sem rosto, fruto de especulações filosóficas ou sapienciais, mas aquele Deus, Pai de Jesus que, alguns dias antes, tinha sido crucificado e que todos tinham visto morrer e ser sepultado. Esse foi o primeiro anúncio de Pedro no dia de Pentecostes: “… Deus ressuscitou este mesmo Jesus, e disso nós somos testemunhas.” (At 2,32). E, logo em seguida, o apóstolo declara: “Portanto, que todo o povo de Israel reconheça com plena certeza: Deus constituiu Senhor e Cristo a este Jesus que vós crucificastes” (At 2,36).

A Ressurreição de Jesus não foi a volta à vida biológica de um cadáver, que depois teria morrido novamente. Foi algo totalmente novo, além de toda a expectativa e experiência humana. Algo, porém, que desde sempre está na esperança de cada ser vivo consciente da sua mortalidade. Nós todos nascemos com sede de vida e nos parece absurdo caminhar rumo à morte. A Ressurreição de Jesus abre a nossa visão sobre “outro mundo possível”, o mundo da realidade de Deus, do amor dele, da sua Vida Plena prometida a todos àqueles que nele acreditarem. Esta Vida é, e não é, outra Vida. É Vida diferente, porque é a própria Vida de Deus, mas é uma Vida que começa aqui, nesta nossa pobre existência de peregrinos, quando abrimos o nosso coração ao amor solidário e fraterno, quando apostamos que a busca do Reino de Deus e da sua justiça nos traga já os germes e os sinais da Vida Plena, Eterna, onde “não haverá mais luto, nem grito, nem dor, porque as coisas anteriores passaram” (Ap 21,4).

A verdade da Ressurreição de Jesus e da nossa só pode ser entendida e acreditada junta com a Verdade do Amor de Deus e do amor nosso quando, de fato, gera vida nova, para todos, sem exclusões e sem limites de entrega. Os primeiros discípulos acreditaram, os mártires derramaram o seu sangue, incontáveis cristãos, santos e santas, humildes e famosos, seguiram os passos de Jesus, o Homem Novo, ressuscitado. São Vitor já dizia: & ldquo;Senhor, se o nosso é um erro, foste tu que nos enganaste”. Mas Deus não mente, não engana ninguém. Para os que acreditam somente Jesus é o Caminho, a Verdade e a Vida