Dom Pedro Conti

No coração da Igreja…eu serei o amor


 

Estas são palavras de Santa Teresa do Menino Jesus e da Santa Face, mais conhecida como Santa Teresinha. Nos primeiros dias, após o Domingo de Páscoa, recebemos, em Macapá, as relíquias desta Santa, uma das mais populares no mundo inteiro. Não fomos nós que escolhemos a data, foi a própria organização das celebrações dos 150 anos do nascimento dela que assim decidiu. Tivemos a possibilidade de continuar a alegria da Ressurreição de Jesus lembrando algumas características desta santa proclamada Padroeira das Missões (1927) e Doutora da Igreja(1997).

 

O mais interessante de Santa Teresinha foi a sua insistência nas “pequenas coisas” como caminho de santidade, mas com uma visão muito grande da sua própria vocação. Ela escreveu: “Compreendi que o Amor continha todas as vocações, que o Amor é tudo, que abarca todos os tempos e todos os lugares…em uma palavra, que é Eterno!”. Santa Teresinha compreendeu que só o Amor fazia agir os membros da Igreja; que se o Amor se apagasse, os Apóstolos já não anunciariam o Evangelho, os mártires se recusariam a derramar seu sangue…“Então – as palavras são dela – exclamei: Ó Jesus, meu Amor, encontrei finalmente a minha vocação; a minha vocação é o Amor. Sim, encontrei o meu lugar na Igreja, e esse lugar, ó meu Deus, fostes vós que me destes. No coração da Igreja, minha Mãe, eu serei o Amor. Assim serei tudo…, assim o meu sonho será realizado”.

 

Por ocasião do 150º aniversário do nascimento de Santa Teresinha, o Papa Francisco escreveu uma Exortação Apostólica (C’est la confiance)  apresentando a atualidade do exemplo e do ensinamento desta Santa. Tudo começa com a confiança total que ela tinha no Senhor Jesus e na misericórdia do Divino Pai. Estava convencida que os possíveis merecimentos dela não tinham valor algum, tudo era dom de Deus. Deste abandono nas mãos do Senhor surge o desejo de doar a sua vida como dom total para os outros. É a confiança que nos conduz ao Amor e assim nos liberta do temor; é a confiança que nos ajuda a desviar o olhar de nós mesmos e nos torna disponíveis para procurar o bem dos irmãos. O que fez de tão extraordinário Santa Teresinha? Isso também é surpreendente. Entrou na clausura do Carmelo com 15 anos e faleceu com 24, após grande sofrimento devido à tuberculose. No entanto, buscou um caminho de santidade, “uma pequena via muito direita, muito curta; uma pequena via completamente nova”. É o “doce caminho do amor”, aberto por Jesus aos pequeninos e aos pobres, a todos. Nesse caminho das coisas pequenas, Teresinha realça sempre o primado da ação de Deus. Por isso, ela nunca usou uma expressão frequente naquele tempo: “hei de fazer-me santa”. A santidade também é fruto da confiança no Senhor.

 

Transcrevo aqui as palavras da Exortação Apostólica do Papa Francisco sobre a atualidade de Santa Teresinha (n.52). “Em um tempo que nos convida a fechar-nos nos próprios interesses, Teresina mostra a beleza de fazer da vida um dom. Em um período em que prevalecem as necessidades mais superficiais, ele é testemunha da radicalidade evangélica. Em uma época de individualismo, ela nos faz descobrir o valor do amor que se torna intercessão. Em um momento em que o ser humano vive obcecado pela grandeza e por novas formas de poder, ela aponta a via da pequenez. Em um tempo em que se descartam tantos seres humanos, ela nos ensina a beleza do cuidado, de ocupar-se do outro. Em um momento de complexidade, ela pode nos ajudar a redescobrir a simplicidade, o primado absoluto do amor, da confiança e do abandono, superando a lógica legalista e moralista que enche a vida cristã de obrigações e preceitos e congela a alegria do Evangelho”. Podemos chamar Santa Teresinha de “Doutora da síntese” da vida cristã. Uma curiosidade: até o ano de 2000, havia no mundo 1.700 Igrejas dedicadas à Santa Teresinha! No Brasil, com exceção de Nossa Senhora e de Santo António, nenhum outro santo ou santa possui tamanha devoção popular. As “rosas” de Santa Teresinha são as graças de Deus que por intercessão dela continuam chegando até nós.