Nilson Montoril

Amazônia e os efeitos da 2ª Guerra Mundial – Parte I


O primeiro ciclo da borracha no Brasil teve inicio em 1879 e se estendeu até 1912. Foram 33 anos de muita riqueza e progresso. Apenas na segunda metade do século XIX, a goma elástica entraria com vigor na economia amazônica, se bem que, já em 1827, trinta toneladas tivessem sido produzidas, rendendo a quantia de nove contos de réis. Em 1905, a borracha representava o segundo lugar entre os produtos de exportação do Brasil logo abaixo do café. Em 1910, a goma elástica chegou a figurar com 40% do valor da exportação nacional.

Como a produção não repousava sobre uma estrutura econômica adequada, toda a riqueza sumiu repentinamente, suplantada pela produção dos plantadores de seringueiras do Oriente. O segundo ciclo foi bem mais curto, correspondendo ao período de 1941 a 1945. Em maio de 1941, o Presidente dos Estados Unidos do Brasil, Getúlio Dorneles Vargas firmou um acordo com os Estados Unidos da América do Norte, denominado “Acordo de Washington” para elevar a produção da borracha brasileira. A carência do produto no mercado internacional foi motivada pela ocupação dos seringais plantados pelos ingleses, na Malásia, por tropas japonesas, um dos países do Eixo. Desde 1939, a segunda guerra mundial estava em vigor. Os seringais brasileiros estavam abandonados.Cerca de 35 mil trabalhadores, que migraram para a Amazônia em épocas mais recuadas viviam entregues à própria sorte. Nos termos do Acordo de Washington, o Brasil deveria elevar sua produção, de 18 mil para 45 mil toneladas. A meta era mobilizar 100 mil seringueiros. Com a entrada dos Estados Unidos no grande conflito, as providências necessárias à concretização do acordo precisaram ser aceleradas. Em 1942 começou o alistamento compulsório dos retirantes da seca, feito pelo Serviço de Mobilização de Trabalhadores para a Amazônia-SEMTA, sediada no Nordeste, em Fortaleza. Além da SEMTA também foram criadas a Superintendência para o Abastecimento do Vale da Amazônia-SAVA, o Serviço Especial de Saúde Pública, o Serviço de Navegação da Amazônia e Administração dos Portos do Pará e o Banco de Crédito da Borracha. “A constituição do Banco foi autorizada pelo governo federal através do Decreto-lei nº 4.451, de 9 de julho de 1942,mas somente em fevereiro do ano seguinte entrou em funcionamento efetivo. A necessidade de um autêntico instituto de crédito se fazia tão premente, que o capital inicial de 50 milhões de cruzeiros teve de ser triplicado, em menos de um ano e meio Desde que intensificada a indústria extrativa de borracha, a região amazônica passou a depender do Banco de Crédito de maneira completa. Em quatro anos, a entidade passou a ser encarada Omo a espinha dorsal de sua economia. Por essa razão, encerrada a guerra, eliminada a necessidade do produto que determinara sua abertura, mesmo assim o Banco da Borracha não pôde fechar as portas,como seria natural.Os característicos do organismo de emergência nem por isso deixaram de influir na marcha do instituto e eis que, retirados os diretores norte-americanos, entrou em colapso,abalando o organismo econômico do vale, A essa altura, o Banco do Brasil que, praticamente, deixara de operar na região norte,foi convocado a acudir o estabelecimento em crise”.

O recrutamento voluntário de trabalhadores nordestinos deveria ter incorporado 65 mil “Soldados da Borracha” ao contingente de 35 mil já estabelecidos na Amazônia, mas não foi além de 55 mil. O Brasil fornecia a borracha e recebia investimentos financeiros para montar uma grande infraestrutura industrial. Toda a produção seguia em potentes aviões norte-americanos para os Estados Unidos, fugindo ao risco de torpedeamento caso o transporte fosse marítimo.

Aliás, os torpedeamentos realizados por submarinos alemães a navios mercantes, no trecho Brasil-Estados Unidos, impediram a importação de produtos alimentícios e farmacêuticos necessários aos moradores de Belém, Manaus e outros centros populacionais da Região Norte, despertaram a ganância por lucros fáceis em muitos comerciantes. Nas duas maiores cidades nortista, os comerciantes tiveram de ser contidos em suas ânsias de conseguir lucros altos aumentando os preços de remédios e alimentos. Também por retirarem os mesmos das prateleiras.