Nilson Montoril

Avião da FAB cai em Anajás


No dia 27 de fevereiro de 1948, uma sexta-feira, um avião Douglas C-47 A-85-DL, prefixo 2040, da Força Aérea Brasileira, da linha Rio de Janeiro-Caiene-Rio de Janeiro, com escala em Belém, que havia decolado do aeroporto de Rochambeau e que retornava à capital federal era dado como desaparecido por volta de 21h45min, após passar sobre a cidade de Macapá às 21h30min. Diferentemente dos aviões do Correio Aéreo Nacional, os Douglas C-47 DA FAB não desciam em Macapá, Amapá e Oiapoque. Mas sua passagem sobre Macapá foi registrada pela Estação de Rádio-Telegrafia dos Serviços Aéreos Cruzeiro do Sul. A aeronave transportava 28 pessoas sendo 22 passageiros e 6 tripulantes. A Base Aérea de Belém, que recebera mensagem do comandante relatando problemas, logo despachou vários aviões para realizar buscas e prestar socorro às possíveis vitimam. Por ocasião do último contato com a base aérea de Belém, o telegrafista informou que o avião sobrevoava a Ilha do Marajó, sem precisar o local exato em que se encontrava. Na mesma noite. O Brigadeiro do Ar Fontenelle solicitou apoio ao governo do Território Federal do Amapá para buscas por via fluvial.

Os iates Itaguary e São Raimundo, que integravam a frota de embarcações do Serviço de Navegação Territorial foram liberados para atender a solicitação das autoridades da FAB. O Itaguary seguiu para a região da ilha Caviana e o São Raimundo tomou o rumo do rio Jurupary. O iate São Raimundo foi o que mais se aproximou do local do acidente, visto que o rio Jurupary corta áreas da Ilha do Marajó próxima a Anajás e Afuá. A notícia do acidente aéreo se espalhou pelo Brasil apenas na manhã do dia 28 de fevereiro. A Rádio Clube do Pará, através de sua onda curta alertou os moradores da região fronteiriça a Macapá, solicitando que eles colaborassem com a Base Aérea de Belém caso tivessem informações sobre o desastre.

A Rádio Difusora de Macapá, à época, só possuía a Onda Média (Amplitude Modulada), cuja propagação se dava com maior alcance à noite. Ela também divulgou diversos boletins informativos. Somente às primeiras horas do dia primeiro de março o comando da Base aérea de Belém foi notificado que o avião havia realizado um pouso forçado na pequena cidade de Anajás, graças aos esforços do prefeito Silvio Carvalho e populares, que utilizaram faróis, candeeiros e archotes para sinalizar o local onde era possível o pouso de emergência. Os contatos foram feitos pelo senhor Otávio Franco, presidente do Breve Industrial, através de sua estação de rádio amador.

Em Anajás não havia serviço de rádio-telegrafia, nem energia elétrica. O comandante de uma embarcação que saíra de Anajás com destino a Breves comunicou os detalhes do acidente ao senhor Otávio Franco.

Ainda no dia 1º de março, a FAB constatava que a aterrissagem do avião ocorrera por volta das 22 horas do dia 27 de fevereiro, sob a sinalização de faróis e archotes, Anajás não tinha pista de pouso. Como o avião ficou sobre voando a cidade o prefeito Silvio Carvalho deduziu que havia problemas. Ao descer, o avião liberou bastante gasolina, mas não explodiu. Porém, os populares que procuravam salvar os ocupantes da aeronave não se deram conta de que os archotes poderiam provocar incêndio, coisa que acabou acontecendo.

O major Ary Proença, comandante da Base Aérea de Belém esteve no local dirigindo as operações de resgate das vítimas. Constatou, que dos 28 viajores, apenas 3 escaparam. Dentre os 25 mortos, 6 eram tripulantes, 8 eram militares do Oiapoque e 11 passageiros civis. Dois aviões catalina amerissaram no rio Anajá para recolher os mortos e feridos. O prefeito Silvio de Carvalho Santos recebeu diversos cumprimentos pela bela iniciativa de orientar o piloto do avião no pouso forçado. Pouco tempo depois do sinistro, Silvio Carvalho veio trabalhar em Macapá e foi um dos prefeitos de Mazagão.