Nilson Montoril

Meu pirão primeiro


O dito popular que identifica este artigo serve muito bem para evidenciar o que a grande maioria das pessoas gostaria que acontecesse com elas. Se fosse possível, cada funcionário público arrastaria para o quintal de sua casa o prédio da repartição aonde trabalha. No mínimo, querem desenvolver suas atividades em órgãos instalados próximo a suas residências. Este desejo é muito antigo e remonta “ao tempo do ronca”.

Em meados da década de 1940, quando o governador Janary Gentil Nunes declarou que construiria um grupo escolar, um hospital e uma maternidade em área periférica de Macapá, muita gente torceu o nariz e julgou que não havia necessidade disso. A Escola Primária de Macapá e a Unidade Mista de Saúde estavam edificadas na Rua São José, entre a Avenida General Gurjão e a Passagem do Espírito Santo. Boa parte da área da escola deu espaço para o alargamento da Avenida General Gurjão e no local da Unidade Mista de Saúde hoje existe a Biblioteca Pública. O Grupo Escolar é o Barão do Rio Branco.

O Hospital Geral de Macapá e a Maternidade Mãe Luzia estão edificados lado a lado, de frente para a Avenida FAB. Como o traçado da Avenida FAB correspondia ao trecho da Rodovia Transamapá ou Macapá-Clevelândia, os pessimistas afirmavam que o governador construiria imóveis na estada. A cidade de Macapá foi se expandindo e ouvindo a mesma cantilena. Em 1958, o Governador Pauxy Gentil Nunes decidiu transferir o aeroporto da cidade para um local bem afastado. Mais uma vez os retrógrados disseram que o gestor territorial construiria uma pista de pouso para os urubus. Interessante, os urubus de Macapá têm nomes bem curiosos: CAN, Cruzeiro do Sul, Lóide Aéreo, Vasp, Varig, Paraense Transportes Aéreos, Taba, Tam, Gol, Puma, etc. Pauxy Nunes foi o único governador a dar um Plano Diretor para a capital do Amapá. Decorre deste plano o traçado tipo “jogo-de-dama” que a cidade apresenta. As avenidas teriam a configuração da Iracema Carvão Nunes, Mendonça Furtado, Feliciano Coelho e Diógenes Silva, relativa aos trechos com pista dupla e um canteiro no centro. Sobre os canteiros ficariam os portes da rede elétrica, reservando-se as marginais para plantio de árvores frondosas. Pauxy Nunes também pretendeu instalar o complexo administrativo do governo longe do centro da cidade, com amplas áreas para estacionamento.

Os arautos do atraso bradaram aos quatro ventos que o Governador Pauxy Nunes estava doido. Seus substitutos não tiveram a mesma visão de expansão do burgo e do número de automóveis que o progresso daria a Macapá. O Governador Luiz Mendes da Silva teimou em construir o Centro Cívico Administrativo no centro da cidade e o Comandante Barcelos, que o substituiu, não teve outra alternativa que não fosse a conclusão da obra. Porém, acabou rezando na cartilha que indicava a Avenida FAB como a única via pública onde os prédios governamentais deveriam ser erguidos. Entretanto, ainda na condição de governador do Território do Amapá iniciou a expansão da cidade além do lago do Pacoval. Surgiram então o Jardim Felicidade I e o Jardim Felicidade II. Depois, como gestor estadual criou os conjuntos habitacionais I e II. João Capiberibe que o substituiu no governo transformou o Hospital Geral em Hospital das Especialidades quando deveria ter mandado construir um novo hospital na zona norte.
Ainda hoje os detentores do poder não querem se afastar do centro da cidade e contribuem para agravar o caótico trânsito que possuímos. No último dia 29 do corrente mês visitei as obras da Justiça Federal que estão em andamento no Infraero I. São diversos prédios, ao lado da Rodovia Norte-Sul, que abrigarão em breve suas atividades, Até um restaurante popular já se encontra ereto e em fase de acabamento. Enquanto isto, a Justiça do Trabalho, remanescentes da antiga Junta de Conciliação e Julgamento sofre os efeitos de ocupar um prédio de três pavimentos que nunca atendeu as suas necessidades. Se forem criadas novas varas, elas não poderão atuar no imóvel da Avenida Iracema Carvão Nunes porque o espaço nele existente não satisfaz nem o que já existe. Está ai um caso que precisa ser visto com realismo e visão futurística. O exemplo da Justiça Federal precisa ser seguido pela Justiça do Trabalho, cabendo-lhe providenciar uma sede mais espaçosa e nela instalar as varas atuais e as novas, sem esquecer da área ampla, que facilite o estacionamento dos veículos de juizes, serventuários, reclamantes, reclamados e advogados.