Osmar Júnior

Ditaduras do beisterol


Ainda menino, sem consciência política nenhuma, eu via os fantasmas da ditadura, aquela parte do hino nas escolas, que tinha que ser cantado obrigatoriamente. Era Educação Moral e Cívica, e os desfiles do dia 7 de Setembro. Muito emocionantes. Patriotismo à parte, eu não sabia nada e continuo não sabendo. Eu não sabia que por trás daquela lavagem cerebral pessoas estavam sendo assassinadas, tribos indígenas dizimadas, intelectuais exilados, torturados … enfim, tudo que vocês já sabem do coronelismo do período negro que insiste em viver.

 

Na descoberta do Brasil, Pero Vaz de Caminha escreveu carta ao rei Dom Manuel, dizendo, entre outras coisas, que na nova terra “em se plantando tudo dá”.

 

Conheci a força política da arte escutando as canções da época da chamada ditadura, principalmente a Tropicália, e depois passei a ler alguns autores estrangeiros comunistas. O Carteiro e o Poeta de Pablo Neruda me explicou a relação de um poeta com seu país Agora a poesia é uma rebelde sem causa. Agarrei-me à uma ideia regional porque ela é mais útil ideologicamente que qualquer lepo lepo da vida. A indústria midiática é quase uma máfia, ou você está dentro ou não sobreviverá. Em um despertar recebi a boa nova de que essa música que fazemos, tão desprezada por muitos, é nada mais nada menos que a nossa resistência cantante contra um regime que impera na mídia e nos limita o cérebro mais que qualquer religião. Por isso, boa parte da juventude ainda vive na infância intelectual, e assim era no meu tempo, ou seja, quanto mais besteira no ouvido do povo, mais corruptos no poder. Algumas bandas dos anos 80 se conscientizaram no fim da década e começaram a falar coisas que não entendíamos, tipo Capital Inicial com sua Música Urbana, Legião e Paralamas com Que País é Este, O Engenheiros do Havaí com Terra de Gigantes, O RPM com Juvenília, O Cazuza com Brasil Mostra a Tua Cara. Quero ver quem paga pra gente ficar assim… já vencidos pelo excesso de mídia e previsão de muita chuva ficaram sob o telhado. Aí apareceu um povo distraído. Será que pensam que tá tudo bem? Sou um animal do mato, mais tenho boa audição, bom alfato e sinto cheiro de merda no ar. Aos parentes musicais, não se frustrem, não mudem de religião por não terem ficado ricos falando em Amazônia, natureza, povo e amor… Deus está em tudo, e Deus não é ditador. Claro que carnavais são necessários, e alegria também, mas a mentalidade brasileira tomou uma overdose, e entrou em coma.

 

Então se você vier pro que der e vier, venha cantar esta ardente canção de amor junto com um povo anestesiado pela mídia, um povo que está querendo despertar e lutar pelos seus direitos nas ruas. Depois você dança por mais cem anos de inconsciência política.