Osmar Júnior

Uma cantiga de amor para as flores do norte


Foi dia desses que me alembrei de quem sou, ou quem eu era.

Corria no meio dos açaizais atrás das cabocas, era um cheiro de mato e piché , agora me lembro, na beira da praia Ivone era branca, nua, encima dos aturiás, ou rolando na lama arenosa da praia, nunca esqueço os olhos verdes numa menina do norte, era filha de marinheiro estrangeiro com uma marajoara.

Vera era boa, farta, gemia nada, mais gozava tudo, Nice chupava manga e sugava meu olhar me olhando lá de cima da mangueira só de saia. Devo a elas meu jeito seguro de sugar e sorver o doce das frutas, da vida, da música… as cantigas andam sempre comigo, se vejo teus olhos, eu canto, se sinto teu cheiro declamo, quero morrer de amor por qualquer mençãozinha de carinho delas, por isso sou cantante e levo comigo pras estradas quanto amor eu puder, sou intenso e saliente, eu proclamo meu amor pelas mulheres do norte, aquelas que sobem em arvores e tomam banho de rio, aquelas que andam nuas pelas matas, índias, morenas, alvas, as ilhanas… como são belas, fortes, fogosas.

Não vou desistir desses meus olhos musicais, já me falta energia mais me sobra desejo, e vou libertar o coração por mais preso que ele esteja, não quero ir sem viver tudo que tenho de amor.
Não arrisque ser campo perto de mim moça bonita, pois logo sou vento, e vou embalar tuas campinas, sou desejo querendo teu sim, e minha mão é tua, entre tuas coxas e teus seios de ubre, sou doido pelo cheiro brasileiro, pelo traseiro, nunca guardei meus elogios e desejos, sempre vivi essas paixões.

Quero nesses tempos que ainda me resta viver mais um desses “xodó de amor” , pra morrer sentindo o cheiro da peste quando molhada, o perfume das suas madeixas e das suas entranhas, rosa do meu tempo, nova, quente e apaixonada, cantiga de amor do norte, amor vadio, amor sem fim.

Osmar Jr