Pe. Claudio Pighin

A fala deve fazer triunfar a caridade


O mundo está cheio de palavras. O que é efetivamente a palavra? Segundo o filósofo La Croix: “A palavra é possuir a mesma humanidade”. Por meio da palavra se fixa o ponto de partida do diálogo. Nesta perspectiva, tem de se colocar a relação “pessoa, liberdade, palavra”. O falar da pessoa liberta para dizer algo de verdadeiro.

Na liberdade e na relação, o ser humano constrói a cada dia, traçando a estrada da alegria que leva à civilização autêntica, isto é, a civilização cristã. O ser humano, como sujeito comunicativo, por meio da liberdade e da palavra dele, deve atingir constantemente a realidade espiritual, estabelecendo, assim, aquele centro de gravitação que consiste em enfrentar o desafio do nosso tempo dominado pelo consumismo e pelo abuso do poder.

O ser humano é, portanto, chamado a realizar a “pessoa do amor”, no qual se juntam a “pessoa da força” e a “pessoa do direito”. Um válido compromisso da mídia contribuirá de tal modo a fazer triunfar a virtude positivamente contagiosa definida por muitos filósofos como a virtude da caridade. A palavra cristã, assim sendo, é, em síntese, comunicativa, porque traz sentido e vida e não podemos certamente defini-la de “trombeta, címbalo sonoro”.

O monge Gregório Magno, que se tornou papa no ano 590, chamava a atenção de todos durante seus pronunciamentos dizendo: “Os discursos ociosos são palavras ao vento. Quando não se freia a língua dos discursos inúteis, chega-se, sem perceber, até a chamada de atenção de estultos e temerários. Começa com não dar atenção às palavras ociosas, alcançam-se aquelas danosas; primeiro se acha prazer ao falar da vida dos outros, depois se começa a colocar em discussão a própria vida”.

É a partir disso que surgem os estímulos, a ira, ódio, raiva e, desse modo, acaba-se a paz do coração. Pode acontecer, às vezes, que também pelo medo podemos nos calar além do necessário. De fato, com o silêncio exagerado, devemos sofrer no coração uma grave falação de pensamentos, que fervem com violência quanto mais ficam fechados no nosso indiscreto silêncio. Às vezes, a mente se ensoberbece do seu silêncio e olha como imperfeitos aqueles que ouvem falar. Ao mesmo tempo, mantém fechada a boca do corpo, e não se conscientizam de que com a soberba abre a porta aos vícios.

É verdade que hoje se escreve pouco a respeito do passado. A correspondência epistolar foi reduzida ao mínimo, notadamente por se ter a disposição sistemas de comunicação em tempo real para imensas distâncias. Em compensação, fala-se muito mais. Se quiséssemos interpelar aos antigos cristãos, permitindo a eles olhar os nossos sistemas de comunicação, nos recomendariam de escolher palavras e discursos capazes de fazer bons e verdadeiros exemplos àqueles que falam e aos que escutam.

Temos na verdade um grande desafio, o de adequar a palavra à liberdade, sem deixar que o silêncio da tecnologia seja uma barreira, mas sim um meio de evangelização concreto.