Pe. Claudio Pighin

Cultura do cuidado como percurso de paz


“É doloroso constatar que, ao lado de numerosos testemunhos de caridade e solidariedade, infelizmente ganham novo impulso várias formas de nacionalismo, racismo, xenofobia e também guerras e conflitos que semeiam morte e destruição. Estes e outros acontecimentos, que marcaram o caminho da humanidade no ano de 2020, ensinam-nos a importância de cuidarmos uns dos outros e da criação a fim de se construir uma sociedade alicerçada em relações de fraternidade. Por isso, escolhi como tema desta mensagem «a cultura do cuidado como percurso de paz»; a cultura do cuidado para erradicar a cultura da indiferença, do descarte e do conflito, que hoje muitas vezes parece prevalecer.” Com essas palavras o papa Francisco nos convida como perseguir a paz nesse novo ano. A paz é possível por meio de uma informação de paz. Duas realidades fundamentais para a convivência humana. Parece que estão em risco. O nosso mundo, onde o progresso avança sempre mais e a tecnologia da mídia se expande com ritmos acelerados, mostra-nos a real ligação e dependência entre esses dois fatores, a comunicação e a informação.

Estamos dominados pelo determinismo tecnológico. Reconhecemos que o ser humano possa encontrar as soluções por meio da sua capacidade do saber e do dialogar. No entanto, nos questionamos: será que estamos ensaiando, vivendo esta dimensão do saber e do dialogar?

Pelo menos nós da Igreja nos interrogamos o que estamos fazendo, de fato, em relação a isso. Despertemos, porque a paz tem pressa, não pode nos esperar, porque bilhões de crianças, mulheres e homens estão vivendo de maneira dramática. A paz não é simplesmente a ausência da guerra e nem é promovida apenas para evitar o conflito mais vasto. Ao contrário, ajuda a orientar o nosso raciocínio e as nossas ações para o bem de todos. Ela se torna uma filosofia de ação que nos ajuda a sermos todos responsáveis pelo bem comum e nos obriga a dedicarmos todos os nossos esforços para a sua causa.

Vejamos, por exemplo, como a informação é submetida a limitações e condicionamentos políticos e econômicos, arriscando, assim, de ser sempre menos independente, livre e insuficiente. Desde sempre, a guerra como o terrorismo se alimentam por uma informação facciosa, parcial e duvidosa que gera medo, ódio e violência. Ao mesmo tempo, cada vez que se esconde ou se muda a verdade, que se obscurece uma manifestação ou projeto de paz, que se privilegiam os interesses de uns no lugar do bem comum, cumpre-se assim um grave atentado à construção da paz.

Infelizmente, os grandes e poderosos meios de informação geralmente difundem uma falsa ideia da paz que se associa a inércia, renúncia, entrega, resignação, impotência. As imagens, palavras e atitudes irresponsáveis transmitem princípios e comportamentos que corroem as raízes por uma cultura da paz. Porém, a paz se gera e mantém com uma informação e uma comunicação livre, se preocupa com o bem comum, é próxima aos direitos e as necessidades das pessoas. Assim sendo, uma livre informação pode crescer somente na paz.

Por isso, eu acredito na paz, porém, não podemos nos iludir que isto aconteça sem uma nossa colaboração. O nosso papel é fundamental em acreditar que é possível se dedicar para dar a nossa contribuição. Nesse sentido, no ano 2021 não devemos “dormir”, mas acordar as nossas aspirações para uma cultura de paz.