Pe. Claudio Pighin

Deus é minha fortaleza


O ser humano precisa sentir segurança na vida, ter certezas. É aquilo que conheci ao longo dos meus anos como pessoa e como sacerdote. Creio ter encontrado uma resposta ‘exemplo’ para você, lendo o salmo 30 das Sagradas Escrituras. É Ele, Deus, a minha rocha, a minha fortaleza no meu andar cotidiano.

“Junto de vós, Senhor, me refugio. Não seja eu confundido para sempre; por vossa justiça, livrai-me! Inclinai para mim vossos ouvidos, apressai-vos em me libertar. Sede para mim uma rocha de refúgio, uma fortaleza bem armada para me salvar. Pois só vós sois minha rocha e fortaleza: haveis de me guiar e dirigir, por amor de vosso nome. Vós me livrareis das ciladas que me armaram, porque sois minha defesa. Em vossas mãos entrego meu espírito; livrai-me, ó Senhor, Deus fiel. Detestais os que adoram ídolos vãos. Eu, porém, confio no Senhor. Exultarei e me alegrarei pela vossa compaixão, porque olhastes para minha miséria e ajudastes minha alma angustiada. Não me entregastes às mãos do inimigo, mas alargastes o caminho sob meus pés. Tende piedade de mim, Senhor, porque vivo atribulado, de tristeza definham meus olhos, minha alma e minhas entranhas. Realmente, minha vida se consome em amargura, e meus anos em gemidos. Minhas forças se esgotaram na aflição, mirraram-se os meus ossos. Tornei-me objeto de opróbrio para todos os inimigos, ludíbrio dos vizinhos e pavor dos conhecidos. Fogem de mim os que me veem na rua. Fui esquecido dos corações como um morto, fiquei rejeitado como um vaso partido. Sim, eu ouvi o vozerio da multidão; em toda parte, o terror! Conspirando contra mim, tramam como me tirar a vida. Mas eu, Senhor, em vós confio. Digo: Sois vós o meu Deus. Meu destino está nas vossas mãos. Livrai-me do poder de meus inimigos e perseguidores. Mostrai semblante sereno ao vosso servo, salvai-me pela vossa misericórdia. Senhor, não fique eu envergonhado, porque vos invoquei: confundidos sejam os ímpios e, mudos, lançados na região dos mortos. Fazei calar os lábios mentirosos que falam contra o justo com insolência, desprezo e arrogância. Quão grande é, Senhor, vossa bondade, que reservastes para os que vos temem e com que tratais aos que se refugiam em vós, aos olhos de todos. Sob a proteção de vossa face os defendeis contra as conspirações dos homens. Vós os ocultais em vossa tenda contra as línguas maldizentes. Bendito seja o Senhor, que usou de maravilhosa bondade, abrigando-me em cidade fortificada. Eu, porém, tinha dito no meu temor: fui rejeitado de vossa presença. Mas ouvistes antes o brado de minhas súplicas, quando clamava a vós. Amai o Senhor todos os seus servos! Ele protege os que lhe são fiéis. Sabe, porém, retribuir, castigando com rigor aos que procedem com soberba. Animai-vos e sede fortes de coração todos vós, que esperais no Senhor.”

Este salmo apresenta substancialmente três aspectos essenciais da vida: a confiança, a dor e a alegria. A respeito da confiança é representada nos primeiros versículos pela simbologia da “rocha”, do “refúgio” da “fortaleza”. Porém, é nessa frase que encontramos a resposta mais importante: “Em vossas mãos entrego meu espírito; livrai-me, ó Senhor, Deus fiel.” Você se lembra de quem disse as mesmas palavras? Exatamente Jesus e também o mártir Estevão no momento da morte. É uma declaração de total confiança a Deus para por em suas mãos a sua vida. Uma vida que não nos pertence, mas que administramos com todas as dificuldades, com as alegrias e tristezas, com ilusões e realismos. Em todo esse marasmo da vida se pode fazer o ensaio de confiança no Criador de tudo e de todos.

O segundo aspecto do salmo é a lamentação sobre os males, sobre a morte física e também moral. O autor aqui focaliza todos os males físicos e interiores da pessoa. Esses são a incapacidade de prender a vida, ela foge das mãos; o passar dos anos ‘num vale de lagrimas’, o corpo que se enfraquece ao longo dos anos, os ossos que dão estabilidade orgânica se dissolvem e a lamentação que se levanta além das paredes levam a fazer uma profissão de confiança: “Tu és o meu Deus!”

Enfim, o terceiro aspecto, que caracteriza o final do salmo, é a alegria do agradecimento. Perante os meandros da vida, a viva experiência de confiar em Deus leva o fiel a gritar de júbilo, de alegria, porque sente a sua proximidade. Este salmo impregnado de aflição e de esperança inspira o modelo dos seguidores de Jesus Cristo. E o papa Francisco, a respeito disso, nos diz: “O cristão é um homem ou uma mulher de esperança, porque sabe que o Senhor virá. E quando isto acontecer, mesmo se não sabemos a hora, já não virá para nos encontrar isolados, inimigos, mas como ele nos transformou, graças ao seu serviço, amigos, próximos, em paz”.