Pe. Claudio Pighin

É Círio!


OCírio de Nossa Senhora de Nazaré é um patrimônio histórico e religioso dos paraenses. Essa expressão da cultura popular é manifestada com orgulho no segundo domingo de outubro, em Belém. Embora aconteça na capital do Pará, eu diria que a grandiosa procissão em homenagem à Virgem Maria é uma “bandeira” de identificação do povo amazônico. É uma festividade que congrega e une as pessoas. É uma maneira de expressar sua religiosidade, rica em emoções e gestos heroicos de solidariedade. Nessa mega manifestação, o paraense se sente povo de Deus que busca adesão ao seu Senhor, e se percebe livre para transbordar tudo aquilo que tem na vida e no seu coração. Mesmo que alguns devotos expressem sua fé de modo estranho ao catolicismo tradicional, essa vontade de se abrir a Deus é considerada rica de valores para serem exploradas. Por meio da devoção à Virgem de Nazaré, vejo nas pessoas uma grande sede de Deus. De fato, cada povo manifesta esse desejo do seu modo e de acordo com sua maneira de ser.

O Círio é de todos, também daqueles que, às vezes, nem frequentam a Igreja ou de outras denominações que não pertencem à Igreja Católica Apostólica Romana. Perante essa realidade, a Igreja se preocupa em evangelizar. É um momento histórico de unidade. Todos se sentem mais próximos e, consequentemente, adquirindo capacidade de discernir as necessidades das próprias pessoas. A partir daí acontece a Boa Nova, que ajuda a purificar, interiorizar e amadurecer o seu ser religioso no seu cotidiano. A devoção e o amor à Maria é um incentivo constante do culto divino para fazermos a experiência da nossa condição de filhos e filhas de Deus. Círio é fazer uma experiência de fé. Essa religiosidade tão rica, mas ao mesmo tempo vulnerável, acolhe com grande sensibilidade os valores inegáveis que ajudam a fazer um verdadeiro encontro com Deus, em Jesus Cristo. Círio, isto é, Nossa Senhora de Nazaré, é uma imensa oportunidade de realizar tudo isso.

O ser humano precisa de mediações e, sobretudo, daquelas que lhes são mais concernentes com a sua realidade. Maria de Nazaré foi como uma de nós. Por seu exemplo, os devotos recebem incentivos para imita-la em como ser bons filhos e filhas de Deus. É verdade também que há pessoas, nessas circunstâncias, qual do Círio, que podem se deixar levar ao perigo das superstições, a se limitar a uma manifestação cultural e nada mais, e a outras deformações. Mas é também verdade que o Círio pode ajudar a uma verdadeira evangelização através do desejo ardente de Deus, capacidade de incentivar a fraternidade com gestos abnegados e alimentar processos de despojamento e abertura aos outros.

Portanto, essa manifestação de fé no Círio de Nazaré não exclui nem sequer ofusca a mediação universal e insubstituível de Cristo. Celebrar mais um Círio é uma extraordinária oportunidade de resgatar e estimular a nossa condição de filhos e filhas de Deus.