Pe. Claudio Pighin

Eucaristia – fonte da vida (2)


Em Belém do Pará celebra-se o 17° Congresso Eucarístico Nacional.Gostaria de propor mais essa reflexão para meditar o grande mistério da Eucaristia. Falou o evangelista Lucas: “Sentou-se à mesa com os dois, (discípulos de Emaús), tomou o pão e o abençoou, depois o partiu e deu a eles. Nisso os olhos dos discípulos se abriram, e eles reconheceram Jesus. Jesus, porém, desapareceu da frente deles. Então um disse ao outro: ‘Não estava o nosso coração ardendo quando ele nos falava pelo caminho, e nos explicava as Escrituras?’ Na mesma hora, eles se levantaram e voltaram para Jerusalém” (Lc 24, 30-33).

Os discípulos desanimados reconheceram Jesus somente depois da sagrada refeição que é a Ceia Eucarística. Portanto, para enxergarmos a presença de um Jesus vivo na nossa vida, além de conhecer a própria realidade e as Sagradas Escrituras, precisamos viver intensamente a Eucaristia. Este Evangelho nos ensina o caminho para descobrirmos Deus na nossa vida. E a prova desse reconhecimento é que os dois famosos discípulos voltaram para Jerusalém, a cidade que num certo sentido representava o fim de tudo para eles. Com esta descoberta reverteram a situação e se reuniram de novo com os outros discípulos para viverem o reencontro com o Ressuscitado. A fé em Jesus ressuscitado se realiza totalmente quando pode se confrontar e se expressar na comum profissão de fé junto a Pedro e aos onze discípulos. Isto significa a Igreja. Essa experiência não os deixou parados, porque tinham que contar aquilo que tinham visto e ouvido. A experiência do Ressuscitado é muito forte e os anima para compartilhar com os outros a alegria do encontro com o Senhor. É esta experiência que o impulsiona a ir ao encontro dos outros, e, por conseguinte, se tornam dinâmicos. Tem que andar.

O encontro na Eucaristia leva-nos a testemunhar ativamente a nossa fé. A Igreja e os fiéis alimentados pela Eucaristia, tornam-se missionários para viver com todo mundo, sem a exclusão de ninguém, a grande verdade que o Senhor está conosco. Tudo isso gera alegria e muita esperança. Assim, uma Igreja missionária é fruto de uma Igreja eucarística. Aliás, as duas dimensões se compenetram. Dizia S. João Paulo II: ““Entrar em comunhão com Cristo no memorial da Páscoa significa ao mesmo tempo experimentar o dever de fazer-se missionário do acontecimento que esse rito atualiza”.

É bom também lembrar que a Eucaristia não dá somente uma força emotiva para testemunhar essa alegria da presença do Senhor, mas, sobretudo, conteúdo, alimento que sustenta a vida humana. Cuidado em pensar que a minha alegria seja separada da vida do dia a dia.

Não podemos reduzir as nossas Eucaristias em solenes festas e barulhos de alegrias, esquecendo-nos depois da nossa realidade cotidiana dos desafios. De tal modo, a participação feita na celebração da Eucaristia continua nos eventos da vida cotidiana, partilhando as alegrias e as tristezas, agradecendo e servindo quem mais necessita.

O que aconteceu ao longo da nossa história? A começar do IX e X século apareceram as primeiras dúvidas sobre a real presença de Cristo na Eucaristia. Como reação a tudo isso surgiram inúmeras discussões teológicas comprovando a sua real presença: a Eucaristia como corpo verdadeiro do Senhor. E de outro lado, se falará da Igreja como “corpo místico”.

E, além do mais, para uma maior compreensãoda Eucaristia não podemos partir do pão e do vinho, mas de Jesus Cristo que é o princípio da Eucaristia. Isto é, não é o pão e o vinho a determinar Jesus Cristo e assim dar-lhe o sentido sacramental; mas é ao contrário, é Jesus Cristo a definir o pão e o vinho e, portanto, dando-lhe o sentido sacramental. E isto todos sabemos, quando na última Ceia com os seus, antes da sua Paixão, Morte e Ressurreição, Ele explica o evento e quis que se tornasse presente no meio de nós pela Eucaristia para sempre.

Interessante notar que os discípulos entenderam tudo isso somente depois que fizeram a experiência do encontro com o Jesus vivo: o Senhor. E daí compreenderam efetivamente a instituição da Eucaristia. Não se pode entrar na lógica da Eucaristia a partir da nossa maneira de pensar, mas de Jesus o Cristo: “Eu estou com vocês até o fim do mundo”. E Paulo VI afirma: “Por isso, tanto recomendaram os Santos Padres que os fiéis, ao considerarem este augustíssimo Sacramento, não se fiassem nos sentidos, que testemunham as propriedades do pão e do vinho, mas sim nas palavras de Cristo, que têm poder de mudar, transformar e “transubstanciar” o pão e o vinho no seu Corpo e Sangue; na verdade, como repetem os mesmos Padres, a força que opera este prodígio é a própria força de Deus Onipotente, que no princípio do tempo criou do nada todo o universo”.(Essa reflexão foi tirada do meu livro: “Eucaristia – fonte da vida”)