Pe. Claudio Pighin

Louvai o Senhor porque ele é bom


O salmo 105, das Sagradas Escrituras, devido sua extensão, deixei de transcrever a última parte, conta-nos a história de Israel, focando a parte da sua infidelidade. Leia atentamente.

“Aleluia. Louvai o Senhor porque ele é bom, porque a sua misericórdia é eterna. Quem contará os poderosos feitos do Senhor? Quem poderá apregoar os seus louvores? Felizes aqueles que observam os preceitos, aqueles que, em todo o tempo, fazem o que é reto. Lembrai-vos de mim, Senhor, pela benevolência que tendes com o vosso povo. Assisti-me com o vosso socorro, para que eu prove a felicidade de vossos eleitos, compartilhe do júbilo de vosso povo e me glorie com os que constituem vossa herança. Como nossos pais, nós também pecamos, cometemos a iniquidade, praticamos o mal. Nossos pais, no Egito, não prezaram os vossos milagres, esqueceram a multidão de vossos benefícios e se revoltaram contra o Altíssimo no mar Vermelho. Mas ele os poupou para a honra de seu nome, para tornar patente o seu poder. Ameaçou o mar e ele se tornou seco, e os conduziu por entre as ondas como através de um deserto. Livrou-os das mãos daquele que os odiava, e os salvou do poder inimigo. As águas recobriram seus adversários, nenhum deles escapou. Então acreditaram em sua palavra, e cantaram os seus louvores. Depressa, porém, esqueceram suas obras, e não confiaram em seus desígnios. Entregaram-se à concupiscência no deserto, e tentaram a Deus na solidão. Ele lhes concedeu o que pediam, mas os feriu de um mal mortal. Em seus acampamentos invejaram Moisés e Aarão, o eleito do Senhor. Abriu-se a terra e tragou Datã, e sepultou os sequazes de Abiron. Um fogo devassou as suas tropas e as chamas consumiram os ímpios. Fabricaram um bezerro de ouro no sopé do Horeb, e adoraram um ídolo de ouro fundido. Eles trocaram a sua glória pela estátua de um touro que come feno. Esqueceram a Deus que os salvara, que obrara prodígios no Egito, maravilhas na terra de Cam, estupendos feitos no mar Vermelho. Já cogitava em exterminá-los se Moisés, seu eleito, não intercedesse junto dele para impedir que sua cólera os destruísse. Depois, eles desprezaram uma terra de delícias, desconfiados de sua palavra. (…).”
O salmo inicia mostrando a iniquidade e o mal praticado pelo povo. Depois passa pelo deserto, onde a fome provoca rebeliões e desconfiança nos desígnios de Deus. Assim, o Senhor intervém fornecendo o maná e as codornizes. Logo em seguida, a terra tragou Datã e sepultou os sequazes de Abiron e a fabricação do bezerro de ouro no Horeb e sua adoração por parte do povo escolhido. O povo, neste caso, se torna idolátrico, uma blasfema contra o seu Deus. Depois disso, descreve, o autor do hino, a murmuração de Israel como um resumo de toda a infidelidade do povo e, ao mesmo tempo, rejeita seriamente o pecado ligado aos cultos de fertilidade realizados no santuário pagã de Baal Peor (vv28-31).

Além do mais, a incredulidade perante as águas de Meribá e outras infidelidades na terra prometida demonstram o quanto este povo foi rebelde e de cabeça dura. Eu acho que aquela história se repete ainda hoje: quanta dureza no nosso coração e, assim, nos afastamos do nosso Deus que faz contínuos prodígios entre nós. Dito isto, podemos notar uma constante em todas essas reflexões do salmo em que existe um binômio da retribuição bíblica: ‘delito-castigo’. Além desse, acompanha também outro binômio positivo da ‘conversão-perdão’. Isto representa a história da salvação que não para, é sempre ativa.

Sendo assim, se reconfirma a esperança de salvação não obstante todas as dificuldades da vida humana e as tortuosidades dos seus caminhos bem amargos. O autor do salmo mostra, deste modo, que a última palavra de Deus não é aquela do julgamento e da condenação, mas do perdão e à chamada da conversão. De tal modo, expressa-se um olhar caridoso de Deus e que tem muita compaixão do seu povo. Um Deus que abre perante o pecador arrependido o nascimento de um novo dia que não terá fim.

O papa Francisco falou na sua homilia em S. Marta-Vaticano – 30.10.15: “Deus tem compaixão. Tem compaixão por cada um de nós, tem compaixão da humanidade e mandou seu Filho para curá-la, para regenerá-la, para renová-la… Deus tem compaixão. Deus coloca o seu coração de Pai, coloca o seu coração por cada um de nós. E quando Deus perdoa, perdoa como um Pai e não como um funcionário do tribunal, que lê a sentença e diz: ‘Absolvido por insuficiência de provas’. Nos perdoa por dentro. Perdoa porque se colocou no coração desta pessoa”.