Pe. Claudio Pighin

O ser humano é sujeito ou objeto da história?


Nesses tempos, mergulhado no silêncio, pude aprofundar muitas questões que, frequentemente, sou interpelado no decorrer do meu cotidiano de sacerdote e professor. Creio que a primeira coisa que temos de fazer é contextualizar o ser humano nos tempos de hoje. Todo mundo concorda que a vida dos nossos dias não é a mesma do passado. Realmente, as condições de vida, atualmente, são bem diferentes.

Um ser humano que é caracterizado pela sua peregrinação (definida como migrante, por alguns, em metáfora para entender a transitoriedade) e, portanto, a partir dessa nova atitude é que se constitui a formação dele.

Sendo assim, não podemos tirar conclusões fáceis a seu respeito. É bastante complicado enfrentar o ser humano na era moderna com os métodos tradicionais, qual a ética das intenções, a ética da responsabilidade etc.

Instrumentos esses que revelam fortes limites e frágeis orientações.

Sabemos também, e já escrevo isto há muito tempo, que o produto da ciência e a explosão tecnológica geraram não poucas dificuldades na vida das pessoas.

Sempre falei que o ser humano não é feito para ter todas essas mudanças tão repentinas. Ele precisa de um tempo e de um espaço à medida dele. E com certeza, podem acreditar, que com a expansão da tecnologia científica tão rápida irão aumentar as dificuldades. De fato, estamos assistindo à produção de supercomputadores que têm capacidades de fazer cálculos que, uns dizem, tentam imitar a função do cérebro humano. Naturalmente, desconfiamos de que isso possa acontecer. Mas, certamente, alcançando as metas intermediárias podem criar bastantes problemas.

Nesses dias, reli um texto do meu estimado ex-professor italiano de filosofia, Umberto Galimberti, que escreveu o seguinte: “Os anos que estamos vivendo viram se acabar um domínio, e deu início aquele processo migratório que irá confundir os confins dos territórios onde se orientava a nossa geografia. Usos e costumes se contaminam e, se ‘moral’ ou ‘ética’ quer dizer costume, é possível suporo fim das nossas éticas fundadas sobre noções de propriedades, território e confim a favor de uma ética que, dissipando cercas e certezas, vai configurando-se como ética do migrante que não se apela ao direito, mas à experiência, porque, a diferença do ser humano do território que há a sua certeza na propriedade, no confim e na lei, o migrante (ao contrário) não pode viver sem elaborar a diversidade da experiência (…) Sem meta e sem ponto de partida e de chegada, que não sejam pontos ocasionais, o migrante, com a sua ética, pode ser o ponto de referência da humanidade que virá, se apenas a história acelera os processos de recente encaminhados que são no sinal da desterritorialização”.

Assim sendo, podemos confirmar aquilo que sempre defendi: toda essa nova tecnologia não são simples instrumentos a nossa disposição, mas se tornam praticamente o novo ambiente onde o ser humano é fortemente condicionado em toda a sua essência de ser. A técnica, a essa altura, determina o curso da história humana, porque não vale tanto dizer “o que podemos fazer com a técnica?”, mas “o que a técnica pode fazer de nós?”. Veja como é diferente.

A questão, portanto, é: até que ponto conseguimos ser sujeitos da nossa história, ou simplesmente objetos? Revestindo-se de novas atitudes e costumes, o ser humano moderno não tem pontos determinados de referências, mas, sim, uma contínua busca referencial.