Pe. Claudio Pighin

Senhor, meu coração não se enche de orgulho!


O salmo 130 das Sagradas Escrituras, por sinal bastante breve, é de uma confiança tão terna e suave que poderíamos comparar a uma cena bem familiar de uma mãe que tem no seu colo o bebê e o acaricia com toda a sua ternura. Veja o que diz esse hino:

“De Davi. Senhor, meu coração não se enche de orgulho, meu olhar não se levanta arrogante. Não procuro grandezas nem coisas superiores a mim. Ao contrário, mantenho em calma e sossego a minha alma, tal como uma criança no seio materno, assim está minha alma em mim mesmo. Israel, põe tua esperança no Senhor, agora e para sempre.”

São palavras suaves e de encorajamento, porque Deus socorre os seus filhos e filhas com o seu amor infinito. Já o grande profeta Oséias (11,1-4) mencionava a ternura de Deus em relação ao ser humano: “Israel era ainda criança, e já eu o amava, e do Egito chamei meu filho. Mas, quanto mais os chamei, mais se afastaram; ofereceram sacrifícios aos Baals e queimaram ofertas aos ídolos. Eu, entretanto, ensinava Efraim a andar, tomava-o nos meus braços, mas não compreenderam que eu cuidava deles. Segurava-os com laços humanos, com laços de amor; fui para eles como o que tira da boca uma rédea, e dei-lhes alimento.”

A respeito disso também Jesus falou sobre a grandeza da infância espiritual: “Os discípulos aproxima¬ram-se de Jesus e perguntaram-lhe: “Quem é o maior no Reino dos Céus?”. Jesus chamou uma criancinha, colocou-a no meio deles e disse: “Se não vos transformardes e vos tornardes como criancinhas, não entrareis no Reino dos Céus. Aquele que se fizer humilde como esta criança será maior no Reino dos Céus. E o que recebe em meu nome a um menino como este, é a mim que recebe (Mt 18,1-5)”.

O autor do salmo apresenta, por contrasto, duas atitudes que o ser humano pode assumir no seu cotidiano: da humildade e da soberbia. A soberbia é apresentada aqui com o símbolo da montanha, representada pela sua altura e, por isso, quis dizer que a pessoa vê de cima para baixo, manifestando toda a sua arrogância e grandeza, desprezando os outros. E, de outro lado, a humildade representada pelo fiel humilde. Ele é comparado a quem “não procura grandezas nem coisas superiores a ele”. O fiel humilde, portanto, é uma pessoa calada, bem distante da pessoa soberba que pretende, iludindo-se, de se colocar até no lugar de Deus.
No entanto, o humilde é parecido a um bebê desmamado, carregado nos ombros, no jeito da cultura africana. E essa comparação é parecida ao fiel que a sua vida não é determinada somente pela alimentação, mas, sobretudo, pela relação de confiança com Deus. O Deus parecido a uma mãe que acode o seu filho, dando todo o seu carinho e ternura. Poderíamos dizer que a vida do ser humano inicia na ação do espírito, autêntica confiança, totalmente entregue, mas aderindo com a própria liberdade e personalidade. E o Papa Francisco nos pergunta: “Quantas maravilhas fez Deus por mim? E esta é a libertação de Deus. Deus faz muitas maravilhas e liberta-nos.”