Wellington Silva

(1789) A Inconfidência Mineira: Libertas Quae Sera Tamen (Liberdade, ainda que tardia…)


 

A figura histórica de Tiradentes e dos Inconfidentes sempre nos faz refletir a respeito do necessário espírito de luta, os ventos da mudança, ação e reação, a causa e efeito, o caminho, aquilo que é justo e reto!

Narra a memória oral que Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, ganhou este nome por ter sido exímio odontólogo em seu tempo. Foi também brilhante engenheiro de obras e apresentou arrojados projetos de engenharia a coroa portuguesa, no Brasil, tendo também sido oficial de cavalaria (Alferes).

Era figura muito popular e bem quista no meio profano!

Vivia Tiradentes em um mundo de grandes revoluções, de transformações culturais e estruturais. Eram os ventos da mudança, sinais e movimentos da democracia muito bem articulados pela Maçonaria a levantar bandeiras e a soprar forte na Europa e na América do Norte.

Sob a Iluminada Trilogia Concebida, a tríade LIBERDADE, IGUALDADE E FRATERNIDADE promoveu lutas de classe após enfáticos discursos contra a nobreza e o clero, em defesa dos povos escravizados e colonizados.

 

O AMBIENTE POLÍTICO E MAÇÔNICO DA ÉPOCA

A historiografia registra que em 1.775, na França, palco da Revolução Francesa (1789), já existiam 104 lojas maçônicas, sendo 23 em Paris, 71 no interior, 10 específicas de militares e 45 em organização. Em 1789 o quadro subiu para 614 ou 703 lojas, sendo 65 em Paris, 442 no interior, 38 nas colônias do exterior e 69 militares. Na Inglaterra, sede da Loja Mãe da Maçonaria Universal (1.717), havia 525 lojas, nos Estados Unidos 85 e na Irlanda 227.

Este era o ambiente político encontrado pelos jovens brasileiros que estudaram na França e em Coimbra (Portugal) na década de 1.780 e depois se destacariam na Inconfidência Mineira de 1.785 – 1.789. Foram eles, Domingos Vidal de Barbosa Laje, José Joaquim da Maia, José Mariano Leal da Câmara, José Álvares Maciel, e outros.

 

UM ENCONTRO DECISIVO

O carioca José Joaquim da Maia teria sido enviado por comerciantes liberais, do Rio de Janeiro, para conversar com Thomas Jefferson, embaixador dos Estados Unidos na França. O encontro, ocorrido em 1.787, contou também com a presença do brasileiro Domingos Vidal de Barbosa Laje. Diz a historiografia maçônica que Thomas Jefferson era o sucessor de Benjamin Franklin em seu posto e que este fora, em sua estada na França, o Venerável Mestre de uma Loja Maçônica (Neuf-Souers), a mesma que iniciou Voltaire. O intermediário entre Maia e Jefferson fora o professor José Maria Joaquim Vigarious, de Montpellier, que pertencera às lojas parisienses “ L’Amenité” e “ La Moderation”, período 1.784 a 1.787.

 

O IDEÁRIO

Num tempo em que as classes sociais eram rigorosamente estratificadas, desde o nascimento, e no qual, sobretudo, era reservado a uma só classe – a nobreza – o exercício dos postos de comando do Estado, LIBERDADE significava abolição absoluta da monarquia, poder de suposta origem divina, incontestável por sua própria natureza. IGUALDADE significava a abolição das diferenças de classe dando-se aos cidadãos a oportunidade de regerem seu próprio destino. FRATERNIDADE era o grande objetivo moral e final de uma Nova Ordem.

 

DA PROVÁVEL REUNIÃO INCONFIDENTE DO DIA 26 OU 27 DE DEZEMBRO DE 1.788

As árduas pesquisas feitas pelo historiador Tarquínio Oliveira teorizam que a reunião decisiva da Inconfidência pode ter sido realizada na casa do Tenente Coronel Francisco de Paula Freire de Andrada, em uma madrugada do dia 26 ou 27 de dezembro de 1.788, dia de São João, consagrado desde Cagliostro pela Maçonaria.

A história da Inconfidência Mineira toma sempre por base informações dos historiadores/pesquisadores Joaquim Felício dos Santos, Joaquim Norberto de Souza, Tarquínio Oliveira, Gustavo Barroso, Hércules Pinto, Augusto de Lima Júnior, Tenório Cavalcante de Albuquerque, Tito Lívio Ferreira e Manoel Rodrigues Ferreira.

 

DELAÇÃO E PRISÃO DOS INCONFIDENTES

Delatados por Joaquim Silvério dos Reis e presos em 10 de maio de 1.789, o Movimento Revolucionário/Libertário dos Inconfidentes é abafado!

Torturado e em evidente estado de desespero, o Inconfidente Domingos de Abreu Vieira entrega o nome de diversos companheiros. Alvo de peça sucinta e escrita, arquitetada pela coroa, foi ele que mais entregou militares inconfidentes.

Em seu depoimento, destacamos algumas passagens:

“E que alguns oficiais estavam convidados também: o Tenente Antônio Agostinho disse que o Tiradentes estava falado e que ele respondera que estava tudo pronto, pois também era mazombo. O cabeça de tudo era o Tiradentes, dizendo que ele e o Alvarenga haviam de ser os heróis da função, pois defendiam sua Pátria; que os mazombos tinham valimento e sabiam governar”.

A notícia da prisão dos Inconfidentes, ocorrida no dia 10 de maio de 1.789, chegou a Vila Rica na noite do dia 17 de maio de 1.789, sendo passada a Cláudio Manoel da Costa, Tomás Gonzaga e Diogo Pereira de Vasconcelos, na mesma noite.

 

DÚVIDAS SOBRE A MORTE DE TIRADENTES

O pesquisador Gustavo Barroso comentou que Martins Francisco Ribeiro de Andrada escrevera um livro afirmando que Tiradentes fora substituído no patíbulo por outra pessoa, secretamente, tudo para evidenciar a Dona Maria, a louca, que realmente Tiradentes fora enforcado.

O grande escritor Machado de Assis, em uma de suas crônicas, afirmara que Tiradentes vivera até 1.818, sobrevivendo com uma pensão autorizada por Dom João VI. A histórica crônica teria sido publicada no jornal Gazeta de Notícias, jornal da época. Escrevera o poeta que Joaquim José da Silva Xavier morrera no Rio de Janeiro, onde, desde 1.810, tinha uma loja de barbeiro, dentista e sangrador.

Verdade ou não, o boato continua até hoje entre historiadores, pesquisadores e nos meios maçônicos…

Trabalho apresentado no dia 20 de abril de 1.994 na Loja Maçônica Tiradentes 2599, e revisto e atualizado no dia 20 de abril de 2023.