Wellington Silva

Nossos heroicos e valorosos servidores


Não é de hoje que o funcionalismo público é alvo de ataques do Planalto Central do Brasil apenas para servir de pretexto como instrumento de sacrifício para cobrir rombos financeiros de governos passados. Cada região tem suas típicas peculiaridades, e muitos desconhecem como foi no passado e como é no presente a luta diária desses servidores na Amazônia, aqui no Amapá, por exemplo, no exercício de servir o público, honrosamente, cumprir a missão e lutar dignamente por seus direitos. Eis alguns exemplos:

 

EPISÓDIO 1: A EDUCADORA

O dia já estava amanhecendo e ela, no trapiche, contemplava o horizonte até onde a vista podia alcançar. Homens acostumados a navegar nas águas caudalosas do rio Amazonas desenrolavam as velas, esperando um bom vento. Logo a jovem e elegante professora Vitória Chagas é convidada a embarcar, pois suas malas e livros já estavam devidamente agasalhados na embarcação para o destino da viagem:

Arquipélago do Bailique!

O velho marítimo exclama:

– A senhora tem coragem professora!

Ela responde:

– É a minha missão! Tenho de cumprir essa missão!

A viagem segue seu ritmo, velas ao vento, com a jovem professora Vitória Chagas por vezes sentindo medo, em vários momentos, ao sabor da forte maresia do rio, até chegar seguramente ao seu destino, tudo graças a maestria do navegador como profundo conhecedor da área de navegação. Quando chega, é recebida com festa pelos moradores. Curiosos aglomeram-se na beira do cais. Dias depois, já tem uma boa plateia de alunos, todos interessados em aprender.Cansada, nas suas orações agradece a Deus por ter valido a pena ser um instrumento, em local tão distante.

 

EPISÓDIO 2: O MÉDICO DOS POBRES

Doutor Iacy Alcântara era conhecido como o médico dos pobres, pois o que ele mais gostava de fazer, como grande profissional de sua área, era visitar e clinicar nas comunidades ribeirinhas, agrícolas, etc. Percorria as mais distantes terras do interior do Amapá, fosse de puc-puc (“rabetinha”, pequena embarcação), a cavalo ou mesmo a pé para examinar, diagnosticar e medicar as pessoas mais humildes deste rico torrão do Amapá. Foi eleito vereador numa época em que o cargo não tinha remuneração alguma. Histórico exemplo que fica para os mais novos.

 

EPISÓDIO 3: OS DESAFIOS DA COMUNICAÇÃO

Nuvens carregadas formavam-se no horizonte enquanto que eu, cinegrafista Leonai Sampaio e fotógrafo Ita Nascimento nos organizávamos para embarcar nas voadeiras dos bombeiros, ancoradas próximas a Rampa do Santa Inês.

Destino: Bailique!

Um bombeiro olhou para mim cautelosamente e perguntou:

– Sabes nadar?

Respondi que sim e perguntei:

– Tem colete salva-vidas?

Ele me entregou o colete e logo embarcaram eu, cinegrafista Leonai Sampaio e o bombeiro navegador da embarcação uma vez que o governador já havia partido noutra embarcação. Fotógrafo Ita Nascimento já havia se adiantado, partido noutra voadeira do bombeiro. Não demorou, “arriou pancadão” de chuva após perdermos de vista à frente da cidade. Foi assim até o final da viagem, com muita chuva pela “cara” e no “lombo”. Eis que não mais que de repente o potente motor Yamaha “engasga”, e logo no meio da viagem! O bombeiro, trêmulo, fica nervoso pela responsabilidade que tinha com duas vidas. Aí eu falo:

– Fica calmo, tranquilo, sabemos nadar, estamos de colete, tem remo, é dia e tem uma ilha ali próximo. Estamos aqui para te ajudar!

Procuramos um banco de areia para averiguar o que houve, onde a água dava no joelho para saltar. Após várias e diversas tentativas o motor finalmente começa a dar sinal de vida, fumaça e pega. Seguimos viagem e chegamos no Arquipélago do Bailique espirrando que nem pintos “goguentos” para simplesmente cumprir mais uma missão.

 

EPISÓDIO 4: UMA LUTA FEDERAL

A partir de 2014 nossa luta começa em Brasília, sob a liderança da advogada Raimunda Barral da Luz, provocados juridicamente a lutar pelo colega Economista Manoel Álvaro Santos da Silva. Dias e noites mal dormidas dominam a cena de nossa luta na capital federal.Visitamos gabinetes parlamentares na Câmara Federal e Senado.Entregamos pleitos não só do Grupo Planejamento Amapá como também das diversas categorias que solicitavam transposição definitiva para o Quadro da União. Junto com sindicalistas do Amapá e servidores de Roraima e Rondônia éramos fortes e persistentes em uma caravana que paulatinamente conquistou apoios não só das bancadas federais do Amapá, Roraima e Rondônia como também de outros estados. Nesta valorosa e necessária luta alguns colegas nos deixam e vão para o “andar de cima”. A eles nossa sincera homenagem, principalmente a saudosa colega Áurea, do Grupo Planejamento Amapá, responsável pela coleta de dados do IPC. Ela que quase sempre estava lado a lado conosco, lutando incansavelmente por nossos direitos.

The End!

Quem quiser que conte outra ou outras neste espaço de livre pensar…