Wellington Silva

Rousseau e a desigualdade social


 

Para Jean-Jacques Rousseau, o homem é naturalmente bom, nasceu bom e livre, mas sua maldade ou sua deterioração adveio com a sociedade que, em sua pretensa organização, não só permitiu, mas impôs a servidão, a escravidão, a tirania, situações que privilegiam uma classe dominante em detrimento da grande maioria, instaurando assim a desigualdade.

 

Mais atual que nunca, Rousseau ainda é uma crítica feroz e contundente contra a sociedade moderna. É um grito de alerta sobre a exploração do homem pelo homem, e sobre a degradação dos valores éticos. É uma sátira contra a sociedade hipócrita e vazia que privilegia o ter, o dominar, o conquistar, mas que nunca soube o que é o ser!

 

Suas ideias e seu Discurso Sobre a Origem Desigualdade Entre os Homens, publicado em 1.755, serviram de base para a Revolução Francesa.

 

Selecionamos trechos da histórica mensagem do grande gênio das luzes, proferido em Chambery, no dia 12 de junho de 1.754, que diz textualmente o seguinte:

 

Quisera ter nascido num país em que o soberano e o povo só pudessem ter um único e mesmo interesse, a fim de que todos os movimentos da máquina tendessem sempre unicamente para a felicidade comum. Como isso só poderia ser feito se o povo e o soberano fossem a mesma pessoa, segue-se que eu gostaria de ter nascido sob um governo democrático, sabiamente moderado.

 

Quisera ter vivido e morrido livre!

Quisera, pois, ter almejado que ninguém no Estado pudesse dizer-se acima da lei e que ninguém, fora dele, pudesse impor alguma que o Estado fosse obrigado a reconhecer. Os povos, uma vez acostumados a senhores, não podem mais passar sem eles. Se tentam sacudir o jugo, afastam-se tanto mais da liberdade quanto, tomando por ela uma licença desenfreada que lhe é oposta, entregam suas revoluções quase sempre a sedutores que só fazem agravar seus grilhões. Que uma culpável e funesta indiferença pela manutenção da Constituição não os faça jamais negligenciar, quando necessários, os sábios conselhos dos mais esclarecidos e dos mais zelosos dentre vocês, mas que a equidade, a moderação, a mais respeitosa firmeza continuem a regular todos os seus passos”.

 

Sobre os falsos, traiçoeiros, corruptos, oportunistas, idolatrados e idólatras, Rosseau adverte:

 

“Tenham cuidado, sobretudo, e este será meu último conselho, em jamais ouvir interpretações sinistras e discursos envenenados, cujos motivos secretos são muitas vezes mais perigosos do que as ações que são o seu objeto. Se eu tivesse a real infelicidade de ser acusado de algum transporte indiscreto nesta viva efusão de meu coração, suplico que o perdoem à terna afeição de um verdadeiro patriota e ao zelo ardente e legítimo de um homem que não almeja maior felicidade para si mesmo do que aquela de vê-los todos felizes”.

 

Jean-Jacques Rousseau nasceu em Genebra, na Suíça, em junho de 1.712. Órfão de mãe, foi educado por um pastor protestante. Pregava que a liberdade era o valor supremo da humanidade. Faleceu em Ermenonville, França, em 1.778.