Artigos

A equívoca manobra do PSDB

O desarranjo começou pelo aparecimento João Doria na cena política. Mordido pela mosca azul, ele invadiu o espaço que vinha sendo ocupado por Geraldo Alckimin como o nome mais centrado para o embate político.


Ulisses Laurindo – Jornalista
Colaborador

O Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) foi a legenda que contribuiu para criar no Brasil um projeto efetivo de melhoria na vida social do país, em 1994, com o Plano Real, programa econômico que eliminou a inflação descontrolada de 763,12% ao ano, e de 5.513,80% em 12 meses. Responsável pelo equilíbrio da inflação no país por muito tempo, esperava-se que os mesmos autores aproveitassem a oportunidade para novo choque e, novamente, comandar a política econômica tão aviltada. Não se encontram razões que colocassem outros interesses acima dos da Nação, pondo em risco a acertada política que fez a sigla sempre reconhecida pelo povo, preferindo composições eleitorais incertas e confusas, como hoje está eivada a política brasileira.

O desarranjo começou pelo aparecimento João Doria na cena política. Mordido pela mosca azul, ele invadiu o espaço que vinha sendo ocupado por Geraldo Alckimin como o nome mais centrado para o embate político. Incentivados por iguais de Brasília, Doria se entronizou no partido como novidade, mas sem maiores lastros para impor e avaliar o que estava jogando na lata de lixo tamanha tradição.

Recorda-se que para fazer valer o Plano Real o PSDB travou tenaz luta contra a oposição do Partido dos Trabalhadores, que criticava tudo e principalmente a diretriz econômica de 1994, visto por seus adeptos como golpe eleitoreiro. Não parou aí a luta do PT para destruir a nova tentativa de jogar no chão o Plano que derrubava a inflação de 84% ao mês, corroendo a fraca finança da população já descrente pela elaboração de outros planos, como o Cruzado, Cruzado Novo e Plano Collor. A luta permaneceu intensa, mas a confiança no Real cresceu, mas depois e foi transformado em URV logo firmada como moeda real. À frente do projeto circulavam profissionais de economia sérios, como Gustavo Franco, Gustavo Loyola, Rubens Ricúpero, Edmar Bastos, Pérsio Arruda, Armindo Fraga e Pedro Malan, além de políticos como Ciro Gomes e Eliseu Rezende. Era uma elite de gente qualificada, sem temor dos diversos obstáculos. surgidos ou que poderiam vir.

A reação maior do PT consistia na ideia de que melhorar a vida do povo jamais seria através da entrega do patrimônio nacional, entre os quais a Cia Vale do Rio Doce, que acabou privatizada, representando maus negócios para os jacobinos e simbolizando vasto patrimônio nacional e orgulho mundial no campo dos minérios. O PT pagou com a própria língua, porque tentou investir em outros ativos, e se não obteve êxito, foi por incapacidade.

Os fatos aqui descritos sobre os benefícios do Plano Real independem de quem o tenha criado, se Itamar Franco ou Fernando Henrique Cardoso, o certo é que foi um grande achado na política brasileira.
Por isso, foi lamentável a intromissão de gente sem identidade com o PSDB, criando cisões e deixando escapar a chance de oferecer mais uma vez um legado importante nos dias tumultuados e que pouco se enxerga, vendo, em primeiro lugar, só conquistas pessoais. Marchasse o PSDB unido com a mesma identidade dos idos de 1994, por certo seu candidato majoritário teria credibilidade para vencer o pleito que pode ser ganho por qualquer um, mas, sem, contudo, a dimensão que lhe daria a memória do Plano Real.


Deixe seu comentário


Publicidade