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A prole e o estado da hipocrisia

Só faltaram crucificar os empregadores e os assustados jovens mancebos que, nitidamente induzidos, foram obrigados a declarar que era melhor estudar do que trabalhar.



 

Wellington Silva – jornalista e historiador
Articulista

O Brasil, isto é, nosso velho Estado brasileiro, continua querendo, lamentavelmente, “aparecer” para o mundo globalizado como o “top model” da hipocrisia. Faz-me lembrar o Vieira Souto, aquele mendigo maluco que tudo fantasia, cria situações e pensa estar na high society do primeiro mundo. O personagem é uma criação do saudoso gênio nacional do humor, Chico Anysio. Um alô ao estado da hipocrisia e da mentira.

Recentemente vi uma reportagem envolvendo assistentes sociais e o pessoal dos direitos humanos em cima de menores que estavam, pasmem, trabalhando. Só faltaram crucificar os empregadores e os assustados jovens mancebos que, nitidamente induzidos, foram obrigados a declarar que era melhor estudar do que trabalhar, isto é, era melhor a família ficar sem renda. Desliguei a televisão para assistir um bom filme.

Estou com meio século. Comecei a trabalhar aos 16, vendendo a Enciclopédia Barsa na rua. Trabalhava e estudava e isso não me tirou pedaço algum, pelo contrário. Formei-me trabalhando, isto é, madrugando em estradas do Amapá e amanhecendo em municípios para acompanhar as agendas do governo. O tempo ensina o valor de cada coisa e de cada conquista. Assim me ensinaram meus queridos pais.

Considero uma verdadeira hipocrisia toda essa discussão contrária e boba em torno da questão da redução da maioridade penal para 16 anos. Primeiro pela total falta de respeito em não ouvir através de um plebiscito a sociedade brasileira. Se, teoricamente, de acordo com a Constituição Federal, todo poder emana do povo e em seu nome deve ser exercido, deveria ser regra basilar ouvir Sua Excelência o Povo. O que se percebe, lamentavelmente, é um abismo de mentiras e de hipocrisias políticas entre determinados políticos e a prole desassistida pela sorte.

Que bom seria se toda criança e todo jovem brasileiro tivesse a sorte de frequentar uma escola de tempo integral e uma boa faculdade com a ajuda do governo federal e dos sistemas Senai e Senac, com boas ofertas de cursos profissionalizantes em todos os estados, FIES para todos, etc…

Deixemos de hipocrisias! Não se pode controlar um País de dimensão continental como o Brasil sem a aplicação de leis rígidas e um sistema jurídico que funcione. Nem nos Estados Unidos, considerado o “top model” do primeiro mundo, sequer se admite discussão política em dar uma “mexidinha” para favorecer menores infratores. Basta também dar uma pesquisada no sistema jurídico e legislações pertinentes da Inglaterra, França e Alemanha, que tratam da matéria, para percebermos que estamos atrasados, sem controle e perdidos no meio de tanta violência. Sim, porque a maioridade penal aos 18 anos foi estabelecida no governo de Getúlio Vargas, na década de 40. Naquela época a população era bem menor e jamais se imaginava um dia ver grupos de menores armados portando pistolas e fuzis automáticos, assaltando, matando inocentes e tocando fogo em coletivos.

O mais ridículo nessa história toda é assistirmos a discursos ridículos e vermos reportagens vez por outra atirando pedras no sistema penal americano. Esse país precisa de um tratamento de choque urgente, em todos os sentidos, para debelar a hipocrisia, a corrupção e a violência. Quem sabe o parlamentarismo não é a espada que tanto necessitamos? Seus defensores foram ícones da política nacional: Brizola, Tancredo Neves, Ulisses Guimarães e Teotônio Vilella, entre outros.


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