Cidades

“Agressores querem deixar marcas para vítimas não esquecerem”, diz juíza

Michele Costa, magistrada que atua no município de Santana, diz ser inadmissível que fim de relacionamentos se tornem verdadeiras tragédias.


Cleber Barbosa
Da Redação

 

A juíza de Direito, Michele Costa, titular do Juizado da Violência Doméstica da Comarca de Santana, disse em entrevista na manhã deste sábado (29), ao programa Togas&Becas, (Diário 90,9FM) que depois de um período de queda o número de casos de violência doméstica voltou a crescer na pandemia. Ela destaca o assombroso crescimento dos casos de extremada violência e crueldade (feminicídios).

Michele afirma ainda que o próprio Fórum Nacional da Segurança Pública, uma Ong que faz o levantamento desses dados, aponta que houve um aumento de 22% dos casos de feminicídio em todos o país. “Existe um aumento de 34% em denúncias feitas através do número 180 em todo o país. No Amapá as estatísticas da segurança pública mostram uma redução do número de denúncias no primeiro período da pandemia, mas que gradativamente está aumentando, retornando ao patamar que tínhamos antes”, observa.

A magistrada diz que ainda não se sabe o motivo para o primeiro registro das baixas, se uma pacificação de fato ou dificuldade para se registrar as queixas.

Essa dificuldade de se acessar os organismos de proteção e combate à violência doméstica tem sido apontada por autoridades e especialistas do setor, segundo informou a juíza, em razão das normas de restrição. “As mulheres entenderam que tinham que ficar em casa”, resume.

 

A juíza aponta ainda a existência de dúvidas se os órgãos de segurança pública iriam atendê-las. Os aumentos do desemprego e do alcoolismo também tiveram registro de crescimento, segundo a representante do Judiciário.

 

 

Radicalismo
Mas, o que chama atenção é a brutalidade e violência extrema, onde os agressores impõem de maneira cruel ao sofrimento. Em regra os agressores querem diminuir a mulher. “Querem que ela entenda que está subjugada, que ela é menor [do que ele], então, eles atingem muito o rosto, querem deixar marcas e não simplesmente agredir ou se defender, querem fazer com que ela se lembre disso para sempre, como temos casos realmente registrados de uma crueldade de violência exacerbada”, ponderou.

Por fim, a juíza santanense alerta de que os casos de violência doméstica sempre são marcados por ciclos que se iniciam com pequenas agressões e empurrões, seguidos de humilhações e pressões, geralmente por dependência financeira da mulher em relação ao companheiro.


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