Cidades

Concorrência desleal e falta de incentivos levam Paulo Melém a desistir da piscicultura

Responsável pela produção de 300 toneladas de peixes, piscicultor reclama que pescados de qualidade e sanidade duvidosas inviabilizam o negócio no Amapá


 

O economista Paulo Melém, que há dez anos se dedica à piscicultura, confirmou na manhã desta quarta-feira (05) no programa LuizMeloEntrevista (DiárioFM 90.9) que nos próximos dias estará encerrando as atividades da Chácara São José, responsável pela produção de 300 toneladas de pescados por ano. Segundo ele, a decisão de desistir do negócio se deve à falta de incentivos por parte do poder público e à concorrência desleal de produtores de outros estados, que vendem milhares de toneladas de peixes no Amapá porque sem fiscalização dos órgãos competentes eles vendem pescado de qualidade duvidosa, inclusive com a contaminação de vermes.

“Estou renunciando à minha atividade como piscicultor; já comuniquei essa decisão oas meus 12 funcionários; na realidade é uma sucessão de fatos desastrosos iniciada em 2013 quando de repente eu tive utilizar ação mecânica na renovação e água porque uma inversão de fases (de energia) feita pela CEA (Companhia de Eletricidade do Amapá) queimou geradores e vários equipamentos, causando a morte cerca de 70 mil peixes nossos; mesmo assim não desisti, acionei judicialmente a CEA e estamos com ação até hoje; continuei a labuta todo dia, a partir das 6 horas da manhã tocando em frente, fiz parceria com oleiros de Santana para cavar os tanque, minha área é licenciada por todos os órgãos, tiro nota fiscal pra vender meu peixe, e assim mesmo pra ir à feira ainda tem que cumprir outras exigências da Diagro”, relatou.

Para Melém, os incentivos públicos concedidos no Amapá para a criação de peixes desnivela a concorrência: “Eu fiz de tudo pra tentar me manter como piscicultor; hoje temos 16 lâminas de água com capacidade para mais de 300 toneladas de peixe por ano, mas a prefeitura está incentivando piscicultura, acho isso maravilhosa. O problema, porém, é que a prefeitura cava o tanque, dá o alevino, dá a ração, mas na hora o produtor vai pro mercado vender o peixe a 9 reais, que é o preço mesmo preço que eu vendo; eu não acho justo, tanto que falei se fizerem isso pra mim vendo o meu peixe por 4, 5 reais e ainda fico com lucro; isso é muito injusto pra gente que tem a piscicultura como negócio, e não como hobby”.

 

Peixes contaminados

Paulo Melém atacou duramente a falta de fiscalização no que chamou de concorrência desonesta de produtores de outros estados, e denunciou que a população de Macapá está consumindo peixes contaminados: “Se pesquisar na internet você constata que o peixe de Rondônia que entra aqui está contaminado com alto índice de vermes; a maioria peixe vem pra cá porque não serve para exportação, e entra aqui por um preço mais baixo porque não passa na inspeção; eu produzo soja, milho, eu montei fabriqueta de ração, comprei máquina, me especializei em piscicultuora, participo cursos, eventos, abri a chácara para a Universidade Estadual do Amapá (Ueap) onde os alunos de engenharia de pesca fazem estudos de campo porque não tem outro espaço no estado, mas infelizmente eu não tenho mais condição de exercer essa atividade aqui; infelizmente não tenho como competir com quem recebe tudo de graça, tendo que pagar tudo, encargos trabalhistas que elevam o salário do trabalhador para 1.300 reais; vou comprar um caminhão e vou buscar peixe no Mato Grosso que é mais barato vender aqui”, desabafou.

De acordo com o piscicultor, a comercialização de pescados de outros estados, sem fiscalização e sem pagamento de impostos prejudica a produção local: “A situação é caótica. Na Semana Santa, por exemplo, disponibilizei 50 toneladas de peixe a 9 reais o quilo, mas entraram com mais de 200 toneladas desses estados; isso quebrou quem? Vendi só 8,5 toneladas, ao contrário de anos anteriores, quando não havia essa concorrência desleal com tanta incidência”.

 

Liquidação de peixes

Indagado se essa decisão é definitiva ou se algo pode ser feito para dissuadi-lo a desistir do negócio, Paulo Melém garantiu que a decisão é irreversível: “Eu acho que nada poderia ser feito para eu retomar, porque a questão é muito séria, porque ninguém vai mesmo tomar providencias; outro ponto que eu acho crucial é que aqui em Macapá você compra uma saca de ração que sai de Goiânia (GO), chega a Belém (PA) e de lá para cá uma saca fica 3 reais a mais de frete, que correspondente a quase 15% do valor de uma saca de ração; ninguém subsidia, ninguém olha, ninguém dá isenção; ainda temos em torno de 30 mil peixes na chácara e vou fazer três feiras com preços entre 7 e 8 reais o quilo; vou fazer isso em sinal de protesto, e com o apurado vou pagar meus impostos e pagar os direitos de 12 trabalhadores que vão ficar desempregados por causa do fechamento da chácara São José”, anunciou.


Deixe seu comentário


Publicidade