Cidades

Mel da Pedreira dá exemplo de união familiar, desenvolvimento com sustentabilidade e produtos de qualidade

A carne de suínos e o mel são os produtos da linha de frente, e estão em vias de regularização e negociação com supermercados, frigorífico e distribuidoras, e a criação de peixes e a produção de farinha de mandioca seguem o mesmo caminho


 

Dezesseis anos após a certificação pela Fundação Palmares como remanescente de quilombos, a comunidade Quilombola Mel da Pedreira promove o 10º encontro da família e prepara-se para um grande salto no desenvolvimento econômico e social. A carne de suínos e o mel são os produtos da linha de frente, e estão em vias de regularização e negociação com supermercados, frigorífico e distribuidoras, e a criação de peixes e a produção de farinha de mandioca seguem o mesmo caminho. O diferencial  é a inovação e investimento em capacitação dos moradores e estrutura física para manter os negócios e garantia de produtos saudáveis.

Mel da Pedreira foi titulado como quilombola oficialmente em 2007, o terceiro território reconhecido do estado. Distante 30 km de Macapá, sua ocupação iniciou em 1954, e entre os primeiros habitantes estavam os pioneiros Antônio Bráulio de Souza, o Caiana, e Auta Augusta Ramos, que deram início ao povoamento da vila. Do casal, vieram os filhos, netos e bisnetos, que formam uma grande família que moram, cuidam, trabalham e estudam no Mel da Pedreira, e agora, são os personagens dessa experiência de desenvolvimento sustentável que começa a transformar a vida familiar.

 

Mel sustentável

Os descendentes de Auta e Caiana somam mais de 600, mas moram em Mel da Pedreira cerca de 250, cerca de 90% de todos os moradores. Eles voltaram a apostar na produção de mel em 2007, e hoje, através da meliponicultura, que é a criação de abelha sem ferrão da Amazônia, eles têm a Casa do Mel, onde o produto é beneficiado, e um meliponário com mais de 600 colmeias, com expectativa de produzir em 2023, 3 toneladas do produto. Na produção de mel tem o suor de 21 famílias que trabalham na fabricação sustentável, sem desequilíbrio ambiental, e a consultoria técnica é dada pelo biólogo Richardson Frazão.

Jacob Fortunato, presidente da Associação de Moradores Remanescentes de Quilombolas Mel da Pedreira, explica que estão em fase de certificação e criação da cooperativa para entrar no mercado. Um rótulo novo também está em produção. “Temos apoio do Governo do Estado, o investimento de emenda parlamentar, e estamos colocando em prática o que aprendemos através do SEBRAE, nos preparando para fazer o envasamento do mel de forma industrial para colocar no mercado produto de qualidade, com um bom marketing e produzido dentro do conceito de sustentabilidade, zero prejuízo ambiental”.

 

Suínos ajudam a produzir adubo orgânico

A cadeia da suinocultura também começa a dar resultados positivos no Mel da Pedreira. Com a consultoria do zootecnista Eduardo Heinzen, eles utilizam o método conhecido como cama sobreposta, e as 22 famílias que trabalham com a criação de suínos agregam valor, qualidade e conceito ao produto. Os animais são criados em local onde as fezes são misturadas com caroço de açaí e moinha, e após a compostagem, vira adubo orgânico, uma solução para os problemas ambientais e a garantia de carne saudável.

 

Alguns criadores receberam financiamento do Fundo de Desenvolvimento Rural do Amapá (Frap), e com apoio da Agência de Defesa e Inspeção Agropecuária do Amapá (DIAGRO) no aprendizado de boas prática e certificação, a carne suína é comercializada em pontos pequenos, e estão em diálogo para fornecer aos supermercados. “Em três anos de trabalho, já podemos ver os resultados e estamos ajudando a melhorar a qualidade de vida das pessoas e dos moradores da vila. Os produtores de pescado, mandioca e galinha caipira também começam a receber incentivos e estes produtos já começam a dar retorno econômico. Se Deus quiser, em breve estaremos exportando”, comemora Jacob.

 

Mel da Pedreira tem ainda outra particularidade, é a única comunidade quilombola que se autodenomina evangélica, um paradoxo que não a distancia totalmente da cultura tradicional afrodescendente do Amapá. O grupo Asafes do Rei, entoa os hinos com o acompanhamento de tambores e de caixas de marabaixo, uma saudosa homenagem às raízes dos quilombolas.

 

A coroação de todo esse progresso, trabalho e união aconteceu no último domingo, 6 de agosto, no 10º Encontro Anual da Família Caiana e Auta Ramos, após dois anos sem acontecer devido a pandemia. Os núcleos familiares se reuniram para um dia de confraternização, abraços, saudades dos falecidos, mas também de fortalecimento da família. As panelas foram juntadas no grande almoço, mas teve também o momento educativo, onde a histórias da família é repassada e os nomes de todos os mais de 600 integrantes são lidos, para preservação da memória.

 

Mariléia Maciel

 

 


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