Entrevista

“Ao longo da minha vida tirei meu sustento apenas das artes.”

O artista plástico Raimundo Negrão, o R. Negrão, fala da trajetória como pintor, respeitado no país e até no exterior. Do alto dos 75 anos presenteou a Rádio Diário FM com uma obra autoral representado Nossa Senhora da Conceição.


Diário do Amapá – Primeiro a gente gostaria de perguntar sobre como toda essa sua trajetória começou, suas principais influências na pintura e também ?

Raimundo Negrão (R. Negrão) – Nós fizemos parte da JOT, movimento de jovens da igreja católica, um grupo de rapazes que a maioria hoje estão casados, só eu que não… [risos] Depois veio a criação do Movimento Artístico Popular do Amapá, MOAP, na década de 80 entre os anos 83 a 84 em parceria com outros grandes artistas amapaenses, um dos maiores movimentos culturais do Amapá, que envolvia pintura, artes plásticas, assim como, música, marabaixo, artesanato e teatro. Eu na verdade aprendi a pintar sozinho, ao longo de meus 75 anos, então foram grandes momentos de minha vida, as amizades com outros artistas como R.Peixe, Ivo Cannuty dentre outros, com passagem pelas artes plásticas, e uma passagem também pela vila de Serra do Navio.

 

Diário – Mas e sobre esse decisão de doar essa tela gigante de Nossa Senhora da Conceição para o Sistema Diário de Comunicação e seu amigo o jornalista Luiz Melo?

Negrão – Olha, como eu disse, somos contemporâneos e como ele também faz parte da igreja [de Nossa Senhra da Conceição], eu decidi doar essa obra da nossa padroeira afinal ele sempre fica falando nela e naqueles tempos. Além disso, eu acho que estou quase no fim… [mais risos] Pois a maioria dos meus amigos já se foi, então decidi doar essa obra para o Luiz Melo. É caro, né? Mas é de coração que estou doando para a rádio e para todos vocês.

 

Diário – Qual é o nome e a dimensão exata dessa obra Raimundo?

Negrão – O nome é o da padroeira mesmo, Nossa Senhora da Conceição. A tela mede 2 metros por 1,4 metro, trata-se do uso da técnica óleo sobre tela

 

Diário – E o senhor levou quanto tempo para pintar a obra, a tela para ficar totalmente pronta?

Negrão – Ah foram três meses aproximadamente. Pois dá muito trabalho, tem que ser bem devagar mesmo, fazendo um anjo de cada vez, um trabalho quase artesanal mesmo. A obra intitulada Nossa Senhora da Conceição, foi produzida três anos atrás no ano de 2019.

 

Diário – Negrão, você conseguiu viver e tirar seu sustento exclusivamente da arte?

Negrão – Sim, ao longo da vida como artista tirei o meu sustento da arte, como minha única profissão, meu ofício são as artes. Acho que por conta disso eu jamais consegui casar, pois não é fácil sustentar e manter uma esposa, uma família enfim. [risada]

 

Diário – O senhor pode falar mais sobre o movimento cultural que ajudou a fundar?

Negrão – O Movimento Artístico popular do Amapá foi criado entre os anos de 83 e 84 sobre o comando do decano R.Peixe em parceria com R.Negão, J.Sales, Frank Harley, Estevam da Silva, o Grupo expôs suas obras em diversos estados do País como São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.

Perfil

Raimundo Negrão, o R. Negrão – Artista plástico amapaense atualmente com 75 anos de idade e um dos maiores nomes da pintura no Amapá.

R. Negrão, por Wellington Silva
– Tive o grande prazer de conhecer o artista em1983 quando foi realizado o II MOAP, o Movimento Artístico Popular do Amapá, em dezembro, na Praça da Bandeira, sob a liderança do saudoso R.Peixe, o consagrado decano da pintura amapaense. O pintor foi um dos fundadores do MOAP juntamente com Peixe, Estevão da Silva, FranckAsley, J. Salis, Beto Peixe, Reginaldo Almeida eIrê Peixe. Durante a organização do II MOAP vi como até hoje vejo um R. Negrão sempre muito focado em tudo aquilo que faz. E faz com muito zelo.

 

Uma exposição
– A arte plástica de R. Negrão evoluiu bastante. Fui ver de perto sua exposição, a convite de Gibran Santana.Na Biblioteca Pública Elcy, Lacerda,vi e me surpreendi bastante com o que vi. Senti um R. Negrão amadurecido pelo tempo, muito mais consciente do seu papel de divulgador da natureza amazônica, do cotidiano tucuju, suas tradições, costumes, nosso marabaixo, a profissão de fé e traços de nosso povo. Navega com sua arte pelo expressionismo, surrealismo e abstracionismo, com temáticas quase sempre focadas no naturalismo regional.


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