Entrevista

“Infelizmente hoje o amapaense está na pobreza contemplando a natureza”

Uma semana depois de haver conquistado voto a voto um inédito mandato de senador da República, o ex deputado e ex vereador Lucas Barreto (PTB) foi ao rádio ontem falar dessa experiência bem sucedida nas urnas e também projetar como deverá ser sua atuação parlamentar. Assim como tem pautado sua carreira política, ele foi direto ao ponto para dizer que respeita a história construída até aqui por senadores do Amapá como Randolfe Rodrigues (REDE), mas que buscará seu protagonismo, alguém com atuação mais lançada na defesa de desenvolver o Amapá, seja incentivando a indústria do petróleo, do gás natural e da mineração, mas fundamentalmente no incremento da agropecuária, uma vocação do estado, que ele discorda ser natural, mas sim rural.


Senador eleito Lucas Barreto.

CLEBER BARBOSA
Da Redação

Diário do Amapá – Primeiro parabéns pela vitória nas urnas!
Lucas Barreto – Eu que agradeço pela oportunidade de estar aqui, como também minha gratidão ao povo do Amapá por nos ter transferido essa responsabilidade para representa-lo lá no Senado Federal.

Diário – E então está preparado para a rotina de idas e vindas a Brasília para no final de semana também estar na imprensa, dando satisfação por assim dizer, sobre sua atuação no Congresso Nacional?
Lucas – Olha, sabe que eu sou um amapaense que sempre também viajo para o interior, daí a prova na eleição, no interior, os municípios fizeram a diferença. Eu acreditei nisso em 2010 inclusive me deram a vitória no primeiro turno e agora também, os municípios responderam, em Laranjal do Jari por exemplo em 2010 nós tivemos 50% dos votos praticamente e agora a gente teve uma votação expressiva também lá.

Diário – Para quem tem essa tradição de estar no interior fica até mais fácil, afinal não fica aquela coisa caricata de só estar nas comunidades em época de eleição, não é?
Lucas – É verdade. Eu tenho esse estilo de estar próximo das comunidades. Eu conheço todo o estado do Amapá, são 99% das comunidades, como conheço os municípios, pois é lá que estão as pessoas e cada município tem uma peculiaridade, um problema diferente, uma vocação diferente, uma cultura diferente, então o pluralismo dos municípios é muito interessante. Você chega no [município] Amapá você já quer ir atrás do queijo do Amapá; você chega no Jari já quer comer um acari assado… [risos] então em todos os municípios existem essas características em seu povo.

Diário – E quais seus planos para esse novo mandato que se inicia no dia 1º de fevereiro do ano que vem?
Lucas – Os planos são de muito trabalho, eu penso que vamos ocupar uma posição de antagonismo ao que foi feito no passado, pois estarão lá Lucas e Randolfe, e ele é um senador que tem tido um excelente desempenho no Congresso Nacional, inclusive tendo sido escolhido o melhor senador do Brasil. A nossa luta vai ser esse, mostrar que o Amapá é o estado mais rico do Brasil e eu penso que um dos mais ricos do mundo, porém nós temos todo esse potencial, seja para o turismo, o agronegócio, a agricultura familiar, mineração, tudo, o Amapá é uma estufa a céu aberto propício a isso. No turismo, aliás, o Amapá é o novo, é a última fronteira a ser descoberta na Amazônia e os próprios amapaenses não conhecem o estado, então nós pretendemos mostrar o que o Amapá tem. Para isso tem as suas potencialidades muito grandes, como na Costa onde temos o petróleo, o gás, enfim e isso se explora, claro, com racionalidade, com responsabilidade social, com responsabilidade ambiental e isso que nós precisamos mostrar que precisamos explorar, pois todos os outros países do mundo exploram, os municípios do país têm o direito de explorar, então nós queremos que seja discutido tudo isso.

Diário – E ainda tem a mineração, não é?
Lucas – Sim, tem a RENCA [Reserva Nacional do Cobre e Associados] que precisa também ser discutido como vai explorar, porque o ouro está lá na rocha, que tem fosfato, e só pode explorar 23% da RENCA, a parte sul, que é a mais acessível para o estado do Amapá. E o fosfato é uma riqueza muito grande para o estado do Amapá porque é a base da agricultura, então tem que explorar isso.

Lucas Barreto. O senador eleito nos estúdios da Diário FM fala sobre como projeta sua futura atuação no Congresso.

Diário – É um posicionamento muito claro esse seu, em um tema polêmico.
Lucas – Nós vamos guardar essa riqueza para quem? Tem ouro lá para explorar por 600 anos. E de acordo com o Instituto Rutz, que é o centro de estudos que assessora o Pentágono, só na RENCA do Amapá e do Pará tem US$ 1,7 trilhão de dólares em minerais, em valores não atualizados. Então nós temos que discutir sim de que forma o Amapá pode ser beneficiado com essa exploração, como disse, com toda responsabilidade. Não é chegar lá de qualquer jeito, não, vamos ter legislação própria, tem que ter fiscalização da Polícia Federal, do Ministério Público Federal, tem que ter normas e tem que ter compensação para o Amapá, que tem que ser beneficiado. O que nós não aceitamos é que um estado com 98% de suas florestas primárias preservadas não tenha compensação nenhuma por isso. Se querem que nós preservemos, nós vamos preservar, mas tem que compensar. Um exemplo é o Fundo Amazônia do ano passado, R$ 400 milhões para o Amazonas, R$ 300 milhões para o Acre e para o Amapá R$ 600 mil, que foi para o Ajuruxi para algumas casas de farinha lá, então nós queremos muito mais, queremos que o Amapá seja reconhecido por esse ativo ambiental, queremos que o Amapá seja ouvido, porque criaram aqui tantas reservas no apagar das luzes dos governos que saíram, das administrações federais, numa onda de decretação de reservas ecológicas e unidades de conservação e nenhum amapaense foi ouvido. Fizeram três hidrelétricas num só rio, com a Usina Cachoeira Caldeirão que paga R$ 658 mil para a União, divididos em 12 vezes, o que dá R$ 54 mil por mês, para utilizar os nosso recurso hídrico, que é de um rio totalmente amapaense, isso é inadmissível. Nós podemos legislar sobre esse rio, pois a legislação ambiental concorrente permite, porque o Rio Araguari nasce e deságua no Amapá. E isso depois deles terem inundado 70 quilômetros de rio, não ter siso aproveitado nada da madeira que fixou no fundo, um desastre ambiental e ainda tiraram todos os ribeirinhos, que estão jogados à própria sorte lá em Porto Grande, isso tudo precisa ser revisto.

Diário – O que leva à discussão sobre a redução da tarifa de energia elétrica, não é?
Lucas – Exatamente, com a nossa interligação ao Sistema Nacional de Energia o povo do Amapá foi muito prejudicado com o aumento da energia, e nós entendemos que tem sim que cobrar ICMS pois a energia que nós mandamos para o Centro-Oeste é uma mercadoria, então se nós conseguirmos mudar a legislação para cobrar esse tributo aí sim o governo federal poderá nos compensar e o estado poderá diminuir o valor do ICMS e assim baixarmos a energia, um tema que foi muito debatido na campanha, inclusive por quem está lá, dizendo que vai baixar a energia, mas não se fala como baixar e vejo que o amapaense é o que mais paga, no Norte, no Nordeste e no Sul também.

Diário – A partir dessa sua visão desenvolvimentista, digamos assim, o que dizer do episódio em que o Grampeasse ter vindo aqui dizer que temos corais amazônicos e com isso conseguido barrar a exploração de petróleo no Amapá?
Lucas – Primeiro que o Grampeasse é uma instituição que não faz nada contra os Estados Unidos, que saiu do Acordo do Clima. Nós nunca os ouvimos falar a respeito disso, pois são patrocinados pelos EUA. Nós respeitamos a posição deles, fizeram lá um estudo, mas sem comprovação científica nenhuma, mas se tem coral tem que se preservar, claro, eu conheço os corais da Bahia, os corais da Austrália, conheço todos, só nunca vi coral na água suja, pois temos 300 quilômetros da Foz do Rio Amazonas, um depósito de matéria orgânica com 400 milhões de anos que formou os hidrocarbonetos petróleo e gás, então sabe-se que na pesquisa apontou para o que eles chamam de “grande prêmio”, ou seja, a maior reserva de óleo e gás deve estar ali na Foz do Amazonas, o que eles apostam, daí já terem investido quase US$ 400 milhões de dólares em pesquisa. Esse é um patrimônio nosso, tem que ser explorado, com responsabilidade, existem tecnologias para isso. O fato é que todo esse estuário que vai até o Oiapoque precisa ser preservado, mais que isso, conservado, pois é onde nossos pescadores artesanais vivem, uma área muito sensível, só não pode é ver atualmente o amapaense na pobreza contemplando a natureza, então nós precisamos de compensação.

 

Perfil…

Entrevistado. O amapaense Luiz Cantuária Barreto tem 53 anos de idade, é casado, Técnico de Eletricidade, Eletrônica e Telecomunicações, nascido no dia 10/11/1964 em Macapá-AP. Filiado ao PTB (Partido Trabalhista Brasileiro), foi deputado estadual entre os anos de 1991 e 2006 (por quatro mandatos), tendo presidido a Assembleia Legislativa entre 2003 e 2004. Foi candidato à Prefeitura de Macapá em 2008, ficando em terceiro lugar na disputa, com 25,19% dos votos. Candidatou-se em 2010 ao Governo, chegando a vencer o primeiro turno (28,93% dos votos), porém, sendo derrotado no segundo turno com 46,23% dos votos válidos.  Em 2012, se elegeu vereador pelo município de Macapá, com 3.895 votos. Este ano disputou o Senado, eleito com 128.186 votos.


Deixe seu comentário


Publicidade