Entrevista

“O Amapá e o Pará são os maiores do país em produção de búfalos, têm autoridade”

O histórico município de Amapá – primeira capital e que dá nome ao estado – abrigou durante a semana a 26ª Agropesc, maior feira agropecuária do interior do Amapá, numa retomada que poderá alavancar todo o setor produtivo estadual. Paralelamente à exposição agropecuária, acontece a 1ª TecnoAgro, evento voltado a apresentar o que há de mais moderno em termos de tecnologia e inovação para o campo. E uma das estrelas do ciclo de debates foi o pesquisador paraense Ribamar Marques, uma das maiores autoridades em genética animal no país. Palestrou para uma platéia que reuniu gente como o prefeito Carlos Sampaio, o presidente da Acriap Jesus Pontes, o president da Diagro José Renato Ribeiro, o dirigente do Sindicato Rural Dejaci Colares e o chefe da Embrapa-AP Nagib Melém, todos ouvidos nessa Enquete.


CLEBER BARBOSA
DA REDAÇÃO

Diário do Amapá – O que ficou desse contato com o setor do agronegócio do Amapá, especialmente pela proximidade entre o Pará e o Amapá que para os senhor não são concorrentes e sim podem se complementar é isso?
Ribamar Marques – Com certeza. Nós estamos num estado que é o segundo maior produtor de búfalos do Brasil, então que é não ser exigido, ele deve exigir o que se fazer pela bubalinocultura. Aproveitar um produto que é hoje diferenciado no mercado e que vai gerar emprego e renda para o estado, então é de fundamental importância esse trabalho, essa integração, entre estados que são os maiores produtores de búfalos do país.

Diário – Então pelo que o senhor diz essa região passa a ter também autoridade em relação ao restante do país no que refere ao mercado produtor de búfalos?
Ribamar – Exatamente, pois hoje você não pode polarizar a discussão com quem é coadjuvante, nós somos os protagonistas, a discussão sobre a bubalinocultura tem que estar aqui na Amazônia Oriental, então esse encontro, essa reunião, passa a ser um passo importante para que isso realmente se consolide, quer dizer, a bubalinocultura pertence à Amazônia Oriental e está se expandindo para todo o Brasil.

Diário – Outra coisa que o senhor defende é que apesar dessa primazia do Pará e do Amapá todo esse potencial ainda seria subaproveitado, daí eventos como esse apresentar uma série de inovações, tecnologias e novas técnicas voltadas ao aumento da produtividade e competitividade?
Ribamar – É verdade, hoje nós temos um acervo muito grande de tecnologia que pode ser aplicada diretamente pelo produtor. Não chega ao produtor talvez por questões de burocracia, de logística e uma série de fatores de atuação de órgãos que são do próprio governo ou da iniciativa privada, como a associação de criadores. Mas esse é o início para que a coisa fique nivelada e logo logo o produtor tenha acesso a tudo isso.

Diário – Devido à sazonalidade e das condições climáticas da Amazônia, entidades como a Embrapa tem defendido a questão das técnicas de produção integrada, ou seja, agricultura e pecuária, o que poderia tornar as propriedades rurais, as fazendas mais rentáveis e com atividade econômica praticamente o ano todo. O senhor também advoga essa causa?
Ribamar – Sim, com certeza, a tecnologia hoje sobre manejo de criação, que faz com que a búfala seja capaz de produzir durante o ano todo, ou seja, tenha leite o ano todo, tenha produtos o ano todo, é justamente fruto de pesquisas de anos e é perfeitamente possível, seja qual for o nível do produtor. E é isso o que se persegue e é isso o que já está aí para ser utilizado. É tecnologia, não podemos abandonar isso.

Diário – Todos aqui disseram que essa foi a primeira de muitas vezes que precisará vir ao Amapá, concorda?
Ribamar – Sim, voltarei com prazer, para discutir o búfalo, afinal esse é o nosso trabalho e eu acho que a gente tem que repassar aqui que está dando certo em vários lugares e o Amapá não pode ficar atrás, tem que acompanhar tudo isso.

Diário – O que ficou dessa mobilização toda, dessa troca de informações nessa feira e no formato novo, de TecnoAgro?
Nagib Melém – A TecnoAgro fecha a programação em grande estilo, com esse debate de alto nível promovido aqui, sobre a rastreabilidade de animais, tentando resolver um dos maiores problemas hoje da pecuária do Amapá que é o roubo de gado. Mas foram diversas outras atividades, como oficinas de boas práticas de fabricação de açaí, de farinha, de queijos também, culminando com a palestra do nosso colega Ribamar lá da Embrapa Amazônia Oriental, em Belém, sobre o projeto de melhoramento genético e manejo de bubalinos, com informações valiosíssimas e principalmente a união das duas unidades dos dois estados num projeto único que nós vamos desenvolver agora, para talvez termos não só a segunda, mas a primeira em termos de qualidade.

Diário – Para o setor dos criadores amapaenses, o que ficou dessa troca de experiências presidente?
Jesus Pontes (Acriap) – Foi formidável o evento, a Embrapa está de parabéns por ter trazido o dr. Ribamar para fazer sobre o Promebull, a SDR, a DIAGRO e o RURAP e todos os organizadores da feira, como o prefeito Carlos [Sampaio] e eu acho que estender esse programa para todo o estado do Amapá, para todos os criadores de búfalo do estado será fundamental, dará uma grande guinada no desenvolvimento tanto da genética de leite e de carne como da bubalinocultura como um todo.

Diário – Para o senhor, o momento não poderia ter sido mais propício para o Amapá sediar esse evento, concorda?
José Renato (Diagro) – Com certeza, quando o Amapá ganha a certificação de área livre de aftosa, então a gente tem que aplaudir esse momento, tem que dar continuidade e estimular, pois isso não pode retroceder mais. O estado tem que agora trabalhar a genética do nosso rebanho, principalmente do nosso búfalo, pois como foi muito bem colocado pelo palestrante, o nosso potencial está aí, é grande, a Amazônia toda é forte e temos agora que unir a região dentro desse propósito, principalmente inserindo o estado do Amapá que tem um potencial diferenciado, com material genético de primeira linha que também tem que ser certificado, comprovado com estudos científicos, mostrado por meio de pesquisas, pois é isso o que vai uma imagem positiva do estado do Amapá para que se possa posteriormente fazer negociações fora do estado afinal já existem compradores querendo levar o animal vivo daqui.

Diário – Para o senhor, que representa os produtores rurais do município de Amapá, beber na fonte do conhecimento, digamos assim, deve ter sido muito válido não é?
Dejaci Colares (Produtor) – Com certeza, a esperança de que daqui para frente a produção pecuária daqui do município de Amapá possa ter um suporte técnico necessário para a melhoria dessa produção não só para carne quanto para leite, daí a necessidade de estarmos acompanhando pari passu as novas tecnologias e assim aumentarmos nossa competitividade.

Diário – E o senhor, prefeito, o que diz a respeito da uniformização do debate a respeito da pecuária, especialmente por ser também extensionista rural e gestor de um município com uma vocação histórica para a pecuária?
Carlos Sampaio (Prefeito) – A satisfação é total, pois tudo aquilo que se planejou para a primeira TecnoAgro e a 26ª Agropesc se concretizou de uma forma muito plena, uma semana de intensos debates, mesas redondas e tudo mais, o que fez valer a pena todo esse trabalho que foi também de resgate de um processo de desenvolvimento regional e não estamos falando só do município de Amapá, mas de uma região chamada Território dos Lagos, que compreende Calçoene, Tartarugalzinho, Pracuúba, Amapá e ainda o Oiapoque, que não faz parte mas esteve presente na feira.

 

Perfil…

Entrevistado. O pesquisador paraense José Ribamar Felipe Marques; Zootecnista-FRPE (1974); Agente de Extensão Rural – EMATER – PA (1976 – 79); Mestrado em Produção Animal – EV/UFMG (1984); Doutorado em Genética – IB/UNESP – Botucatu, SP (1991); Pós Doctor Genética – (UCO) – ES (2005-2006); Especialista em Conservação de Recursos Zoogenéticos – UCO – ES (2006); Prêmio Prof. OTÁVIO DOMINGUES – CFMVZ 2010; Pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental – Belém – PA – 1.979 e Coordenador do Banco de Germoplasma Animal da Amazônia Oriental – BAGAM, Salvaterra – Pará. Pós-Doutorado na Universidade de Córdoba (2005 – 2006); Douto-rado em Ciências Biológicas (Genética) Universidade Estadual Paulista Júlio Mesquita.


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