Entrevista

“Pensava em ajudar a segurança, mas depois mergulhei na saúde pública”

Considerado um verdadeiro ‘concurseiro’, que passou em todos os concursos públicos que se habilitou desde os tempos do ensino médio, hoje está retornando à carreira de delegado da Polícia Federal. Marcos Reátegui construiu um mandato reconhecido por ser diligente e atuante, tanto que muita gente diz não entender como não conseguiu a renovação para permanecer no Congresso Nacional. Ontem ele foi ao rádio, com a habitual simpatia e desenvoltura, para dizer que não guarda ressentimentos, ao contrário, a experiência política certamente será mais um capítulo na destacada carreira de agente público. Falou também do legado que está deixando como o reforço do aparelhamento da saúde pública, obras que diz torcer para a consecução de seus propósitos.


CLEBER BARBOSA
DA REDAÇÃO

Diário do Amapá – Passou rápido, o senhor teve uma destacada passagem pelo Congresso Nacional, como deputado, e agora está de volta à Polícia Federal não é?
Marcos Reátegui – Verdade, foram quatro anos muito produtivos, que passaram muito rápido mesmo. Agora estamos servindo, não mais na Câmara, mas na Polícia Federal, que é meu órgão de origem, onde eu também tenho uma grande satisfação em também servir à sociedade.

Diário – E é uma instituição que goza de grande prestígio, não é?
Marcos – Sem dúvida, foram muito relevantes os serviços já prestados à sociedade e que ainda estão sendo ofertados, naquela salvaguarda do patrimônio público e da segurança das pessoas. Trata-se de uma instituição que vem escrevendo a história do Brasil nas últimas décadas.

Diário – Mas o senhor é tido também como um ‘concurseiro’ de sucesso, foram quantos concursos importantes em sua vida?
Marcos – Olha, a minha família, assim como tantas outras que chegaram aqui no Amapá, veio de origem muito humilde, então graduação na nossa geração não fazia parte dos nossos planos quando éramos meninos, era algo muito distante. Então quando as oportunidades surgiram, a gente se abraçava com elas, como na extensão da Universidade Federal do Pará aqui em Macapá, eu iniciei pelo menos quatro cursos. Mas depois vieram os concursos públicos a nível médio, como para a Receita Federal, a Companhia Docas do Pará, a Eletronorte, o Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios e até Banco do Brasil.

Diário – O senhor passou em qual?
Marcos – Em todos… [risos] Então iniciei a trabalhar na Eletronorte, em emprego formal digamos assim, e depois no Banco do Brasil onde fiquei um período longo.

Diário – Era o que se chamava de escriturário?
Marcos – Exatamente. Mas eu praticamente resumo dizendo que era quase um office boy pois fazíamos de tudo… [mais risos] Mas depois a gente crescia na carreira, virava caixa, executivo, era a primeira comissão que lembro era muito bem remunerada essa atividade.

Diário – Algumas gerações de brasileiros tinham como sonho de consumo ser aprovado no concurso do Banco do Brasil, não é?
Marcos – Sim e vou até contar um segredo. Acho que os funcionários do banco ganhavam mais até que o próprio prefeito e o governador nos tempos do Território [federal do Amapá]. Eram dezesseis salários por ano, em 1980.

Diário – E a gente faz conta aqui para saber sua idade…
Marcos – Ah não tenho problema em falar não, tenho cinquenta e oito anos.

Diário – Mas nesse seu retorno à Polícia Federal será por qual estado?
Marcos – Inicialmente em Brasília, onde estou trabalhando atualmente, mas o meu local de lotação é o Amapá mesmo. Durante muito tempo eu trabalhei em São Paulo nas operações que apuravam crimes contra a Caixa Econômica Federal, então tenho essa experiência na área fazendária também, então estou levando essa experiência para um projeto novo que está sendo lançado pela Polícia Federal.

Diário – E o que ficou dessa experiência deputado, ter sido político e com um rendimento que muitos consideram extremamente eficaz, diligente e produtivo?
Marcos – Eu tenho certeza que muita gente quando vê uma liderança pública em atuação deve se perguntar o que faria se estivesse lá. Eu fazia e faço isso. Mas hoje sei que o que gera resultado em nossas ações são as nossas experiências de vida. Eu fui para lá pensando inicialmente em utilizar o meu tempo pela segurança pública, pois era a minha experiencia nos anos anteriores, principalmente no estado de São Paulo, no combate ao crime organizado. Era um período muito complicado, pois o famoso PCC, o Primeiro Comando da Capital, recebeu em São Paulo o Comando Vermelho, do Rio de Janeiro, devido à implantação das UPPs [Unidade de Polícia pacificadora] Então era um período muito difícil para todas as polícias, pois morriam mais de 200 policiais militares ao ano. Então em pensei em focar nessa área, mas quando iniciou o trabalho outra coisa pesou muito para mim, a perda de duas irmãs, uma no pronto socorro e outra na maternidade. Depois eu perdi o meu pai e posteriormente perdi o meu ex sogro para o câncer e ainda um cunhado do meu segundo relacionamento, também por complicações do câncer e problemas de falha no atendimento o que o levou a um AVC, o que demonstra a fragilidade do nosso sistema de saúde.

Diário – Isso então o levou a repensar suas prioridades em Brasília?
Marcos – Veja, desde o primeiro mês de mandato, já me reuni com entidades sociais e com a Justiça Federal para tratar da saúde pública do Amapá. E no primeiro semestre já havia conseguido R$ 4 milhões para a saúde do Amapá e iniciando tratativas para trazer a Fazenda da Esperança aqui para o Amapá, referência no tratamento de dependentes químicos, como também outro projeto que acabou não vingando, de trazer para a gestão da saúde pública do Amapá alguma entidade com toda uma tradição da gestão de recursos públicos, como os camilianos, a igreja católica mesmo que em São Paulo terceiriza muitas unidades de saúde. Mas depois logramos êxito ao trazer o Hospital de Amor de Barretos e também aquilo que entendo será a grande solução para a saúde local que é o Hospital Universitário.

Diário – A mudança do nome do antigo Hospital do Câncer de Barretos para Hospital de Amor tem a ver com toda uma filosofia, um conceito de humanização no atendimento, é isso?
Marcos – Exatamente. O conceito de se trabalhar o aspecto psicológico. O câncer [é uma degeneração celular, por isso precisa muito do lado psicológico, a própria espiritualidade da pessoa fortalece o sistema imunológico da pessoa e faz com que o corpo combata a doença, então essa é uma tentativa para se tirar o estigma, pois a palavra câncer é muito forte, muito pesada, ela amedronta, então quando a gente faz essa mudança tanto na postura quanto nos conceitos, a gente ajuda a pessoa que está doente.

Diário – Para fechar, deputado, a carreira política não para por aqui, para?
Marcos – Eu acho que a política não pode ser um projeto pessoal, algo como dizer eu quero ser político e pronto. Então a população é que faz as suas reflexões, suas escolhas, e normalmente no período eleitoral demonstra o que ela quer em pesquisas de opinião, então é fundamental para que aqueles que estão lá hoje nos representando façam o melhor trabalho possível. Gosto muito, tenho muita satisfação do trabalho que eu fiz, e torço muito para que todos façam um trabalho muito melhor do que eu fiz.

Diário – Obrigado pela entrevista e boa sorte deputado, ou melhor delegado!
Marcos – Eu que agradeço a atenção de sempre, desejando a todos um grande ano. Até a próxima!

Perfil…

Entrevistado. Marcos José Reátegui de Souza já foi coordenador da Bancada Federal do Amapá no Congresso Nacional. É amapaense, advogado e delegado de carreira da Polícia Federal. Começou a carreira profissional como Gerente de Expediente do Banco do Brasil, em Macapá, entre 1990-1996; foi Assessor Jurídico do Tribunal de Justiça do Estado do Amapá, entre 1997-2000; Procurador do Estado do Amapá, entre os anos de 2003-2006; assumiu como Procurador Geral do Estado, na Procuradoria Geral do Estado, entre os anos 2006-2009; Delegado de Polícia Federal, tendo ingressado no Departamento de Polícia Federal, em 2009. Em 2014 disputou uma vaga para a Câmara Federal, sendo eleito pelo PSC com 12.485 votos.


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