Entrevista

“Processo de desindustrialização está sendo revertido.”

Após quase uma ano presidindo a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), o especialista em administração pública diz que a desindustrialização que o país enfrenta desde os anos 1980 está sendo revertida.


 

Cleber Barbosa
Da Redação

 

Após esse primeiro ano em que o senhor está à frente da ABDI já é possível ter um diagnóstico de onde o país tem errado para a indústria brasileira ter ficado para trás, quais são os principais freios nesse processo de desenvolvimento do setor produtivo brasileiro?

Ricardo Cappelli – Primeiro que esse diagnóstico que você apresenta, ele não é de todo correto. É verdade que a indústria perdeu espaço no Brasil desde a década de 1980 para cá, mas é verdade também que a partir do lançamento do programa Nova Indústria Brasil, pelo presidente Lula e pelo nosso vice-presidente ministro Geraldo Alckmin, a gente começou a ter – e a gente tem inúmeros números que comprovam isso –, uma reversão nesse processo, com o anúncio, inclusive, de investimentos históricos liderados pela indústria brasileira. E dou alguns exemplos. A indústria automotiva viveu, no ano de 2024, o melhor ano de vendas dos últimos dez anos, com um crescimento de 15% no ano, que foi o maior crescimento da indústria automotiva no planeta. Estão anunciados, pela indústria automotiva, R$ 180 bilhões em novos investimentos até 2028. Então, isso significa o maior ciclo de investimentos da indústria automotiva da história do Brasil.

 

Diário – Que precisava ser resgatada, não é?

Ricardo Cappelli – Mas não fica só na indústria automotiva. A ABI, Associação Brasileira da Indústria de Alimentos, anunciou, no ano passado, que fará investimentos da ordem de R$ 130 bilhões até 2026. O Brasil, que era considerado o celeiro do mundo, passou a ser considerado o supermercado do mundo. O Brasil é o maior produtor e o maior exportador de alimentos processados, industrializados, do planeta hoje. Podemos citar a indústria siderúrgica que anunciou novos investimentos da ordem de R$ 120 bilhões. Podemos citar a indústria da celulose, que anunciou mais de R$ 100 bilhões em investimentos. Enfim, somados os investimentos já anunciados pela indústria, nós ultrapassamos a casa de meio trilhão de reais em novos investimentos na indústria brasileira. Isso é fruto de uma política lançada pelo presidente Lula, pelo vice-presidente Geraldo Alckmin, a Nova Indústria Brasil, que voltou a disponibilizar para a indústria brasileira uma série de políticas estruturantes como, por exemplo, crédito.

Diário – O Plano Mais Produção, que envolve uma série de bancos públicos brasileiros, disponibiliza crédito para a indústria da ordem de mais de R$ 504 bilhões.s estruturantes como, por exemplo,

Ricardo Cappelli – Nós temos, não só para o grande, mas também para o pequeno, para o médio empresário, o programa Brasil Mais Produtivo, que tem como meta atender, até 2026, 200 mil pequenas, médias empresas e também médias indústrias, sendo 93 mil atendimentos presenciais, com foco em aumento da produtividade e na transformação digital para ampliar a competitividade das pequenas e médias empresas e indústrias brasileiras. Nós temos, não só para o grande, mas também para o pequeno, para o médio empresário, o programa Brasil Mais Produtivo, que tem como meta atender, até 2026, 200 mil pequenas, médias empresas e também médias indústrias, sendo 93 mil atendimentos presenciais, com foco em aumento da produtividade e na transformação digital para ampliar a competitividade das pequenas e médias empresas e indústrias brasileiras.

 

Diário – Tem muita coisa a ser feita ainda não é?

Ricardo Cappeli – Claro que tem, não está tudo resolvido. Talvez o nosso maior desafio seja reduzir o custo de capital no Brasil, reduzir a taxa de juros. É muito difícil conseguir manter investimentos na indústria brasileira com uma taxa de juros de dois dígitos. É a segunda maior taxa de juros do planeta e não há, no ambiente macroeconômico brasileiro, nenhuma justificativa para que o Brasil tenha essa taxa de juros. A taxa de juros incide diretamente sobre o desenvolvimento da indústria, porque a indústria é intensiva de capital. Ela precisa de investimentos robustos no que diz respeito a máquinas, equipamentos, à infraestrutura, e o custo do capital nesse patamar torna proibitivo financiamentos que viabilizem esses investimentos. Então, reduzir a taxa de juros talvez seja o maior desafio para que a gente mantenha um ciclo sustentável de desenvolvimento da indústria brasileira.

 

Diário – Nessa área, da política monetária, o que poderia ser feito agora em um curto ou médio prazo?

Ricardo Cappelli – Primeiro eu tenho muita expectativa de que o novo presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, consiga trazer a taxa de juros a níveis civilizatórios. Porque, com uma taxa de juros a 12,25%* ao ano, isso é um estímulo para que o capital migre da produção para a especulação, para o mercado financeiro, para o rentismo, que é dinheiro gerando dinheiro sem gerar um posto de trabalho.

 

Perfil

Jornalista e especialista em administração pública, Cappelli acumula 24 anos de experiência nos três níveis de governo.

 

BIOGRAFIA
– Nascido no Rio de Janeiro, Ricardo Garcia Cappelli é formado em jornalismo e pós-graduado em administração pública pela Fundação Getulio Vargas (FGV). Com 24 anos de experiência em cargos públicos nos três níveis de governo, assume a presidência da ABDI em 2024 após atuar como secretário executivo do Ministério da Justiça e Segurança Pública.
– Em virtude dos ataques do dia 8 de janeiro de 2023, Cappelli foi nomeado interventor federal na Segurança Pública do Distrito Federal pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No mesmo ano, foi secretário executivo e ministro interino do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República.
– Entre 2015 e 2021, Ricardo Cappelli foi secretário-chefe da Representação Institucional do Governo do Maranhão em Brasília. Em seguida, assumiu o posto de secretário de Estado de Comunicação Social, até 2022.
– Acumula ainda a experiência do Ministério do Esporte, onde foi secretário nacional de Esporte, Educação, Lazer e Inclusão Social entre 2013 e 2015, além de membro do Conselho Nacional do Esporte. De 2009 a 2013, foi diretor de Incentivo e Fomento e presidente da Comissão Técnica da Lei Federal de Incentivo ao Esporte.

 

 


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