Entrevista

“Suas ações no mundo virtual, pela web, são suas ações da mesma forma”

Jacks de Mello Andrade Junior / Jornalista e professor


As novas gerações de jornalistas e publicitários que estão sendo formadas no Amapá contam com jovens professores universitários como o mineiro Jacks Andrade, um especialista também em marketing digital, que esteve ontem concedendo uma esclarecedora entrevista ao jornalista Cleber Barbosa, durante a audição do programa Conexão Brasília. Ele explica, sob a ótica do mundo acadêmico, como esse verdadeiro fenômeno comunicacional que são as redes sociais, estão mudando as relações de trabalho e o direcionamento das verbas publicitárias tanto do poder público como da iniciativa privada. Ele também faz alertas de que a Internet não é aquela “terra sem lei” que muitos pensam. Essas e outras lições de uma verdadeira aula transmitida ao vivo pelas ondas do rádio e pela internet ontem o Diário publica a seguir.

 

Diário do Amapá – Como o marketing digital vem sendo trabalhado no meio acadêmico professor, e qual sua participação hoje no mercado?
Jacks Andrade – O marketing digital é uma evolução, digamos assim, do pensamento do marketing convencional. Ele é focado na satisfação das necessidades do cliente, de forma a atender esses dois lados da balança, isso é, tanto os consumidores de produtos, serviços ou informação, como para quem está promovendo essa difusão de conteúdo de informação. O marketing digital veio para chacoalhar essas estruturas do marketing a partir da difusão da internet, um movimento que iniciou aqui no Brasil na década de 1990 e também porque o comportamento das pessoas mudou com a internet. Então as pessoas que antes tinham o hábito de consumir informação através dos veículos tradicionais – jornais impressos, rádio e televisão – elas mudaram esse foco para consumir, buscar essas informações nos veículos digitais, aqueles da web.

Diário – E pode superar o marketing tradicional, que estaria perdendo terreno para o digital?
Jacks – Superar sim, agora acabar não porque a base do marketing continua a mesma, o pensamento estratégico continua o mesmo, o que mudou foi exatamente essa transformação do cidadão a partir das mídias sociais.

Diário – E aí esse movimento foi impulsionado pela interatividade que essas mídias sociais proporcionam, não é mesmo?
Jacks – Exatamente, percebam que até as mídias chamadas de tradicionais não são mais tão tradicionais, pois nós estamos no rádio, mas ao mesmo tempo acessados pela internet, tendo essas informações repercutidas pela mídias digitais.

Diário – E essa relação sempre muito controversa entre informação e publicidade professor, tem um componente histórico que vem desde o ‘mercado da informação’, faz tempo…
Jacks – Sim, vem do início até da história do jornalismo onde a indústria da informação percebeu que a informação era um produto muito consumido pela população. E olha que estamos falando lá da Idade Média, onde as pessoas buscavam se informar nas publicações feitas pela igreja, que era a única fonte de informação ou através pelas publicações feitas pelo Império na época. E a partir daí veio se ampliando, se transformando até que o mercado descobriu nessa busca da sociedade por informação um nicho comercial para poder explorar. A publicidade justamente entra para dar sustentabilidade a esse mercado, daí então a partir aí de 1950 há o que se chama de industrialização do jornalismo, capitaneada pelos Estados Unidos, quando a gente vai ter uma força maior da publicidade, seja ela empresarial ou política, dando essa aporte ao nosso jornalismo.

Diário – As redes sociais são um fenômeno, isso não se discute, mas com elas veio a possibilidade de qualquer pessoa se arvorar a disseminar informação e aí vem o problema da falta de credibilidade. Como o senhor vê isso?
Jacks – Esse impacto dessa mudança de comportamento com as mídias sociais ele vai refletir não só no marketing, mas também no jornalismo. Com o advento do acesso à internet a gente acaba com aquele antigo monopólio da comunicação, antes a gente tinha apenas as grandes emissoras de comunicação, as grandes empresas jornalísticas é que tinham acesso a divulgar suas ideias, seus pensamentos através da edição dessas informações. Tinham o monopólio de ditar o que era notícia, o que seria discutido pela sociedade. Hoje não. Hoje a gente não tem mais esse monopólio e isso nesse ponto de vista é uma vantagem, afinal como você disse qualquer pessoa com seu celular, com seu tablet, é capaz de divulgar, de difundir ideias, difundir informações. Então aquele monopólio da notícia que vinha do jornalista hoje não existe mais, o que por um lado é uma democratização, o empoderamento do cidadão comum, mas, por outro lado, gente sabe que o jornalista passa por toda uma caminhada de conhecimento, de discussões, até se tornar um jornalista profissional, onde dentro desse treinamento, ele aprende desde cedo a responsabilidade com a verdade da notícia, a responsabilidade com a verdade do que é publicado, não é? E o impacto que essa notícia traz para a sociedade. E o cidadão comum não.

Diário – Daí os chamados ‘fake news’, ou seja, as notícias falsas?
Jacks – Sim, pesquisas recentes mostram que 54% dos brasileiros ainda confiam na imprensa, porém, as pessoas já começam a entender as notícias, as informações divulgadas fora das empresas jornalísticas, divulgadas via rede social, por exemplo, elas não tem a mesma credibilidade. Eu acredito que o jornalismo está passando por um período de transformação, onde ele vai ter que se adaptar. E a sociedade também, está se adaptando, já não está aceitando aquela informação sem checar, sem verificar, então é todo um processo de transformação.

Diário – o que acaba credibilizando o papel da imprensa.
Jacks – Exatamente, uma hora eu acho que as pessoas iam se cansar de tantas notícias do Silvio Santos morrendo, por exemplo… [risos] Elas começaram a entender que precisam checar essas informações em uma fonte que elas confiam.

Diário – E outro dia foi o ator norte-americano Sylvester Stallone, que teve também sua morte anunciada como uma riqueza de detalhes que pegou muita gente, não foi?
Jacks – Pois é, e ele próprio teve que se pronunciar, recorrer às mídias digitais para provar que estava vivo! [mais risos] A gente ri, mas é triste saber que a gente está chegando a esse ponto.

Diário – E sobre quem acha brechas na legislação eleitoral, por exemplo, para fazer propaganda eleitoral fora do período de campanha, a chamada propaganda extemporânea?
Jacks – A grande brecha nesse caso é justamente o interesse da sociedade em relação à informação. Dentro do marketing político, nas campanhas de manutenção do poder, ou seja a reeleição, ele tem algumas vantagens e também desvantagens. Ele tem a prerrogativa de informar a população, então eu por exemplo sempre defendi uma campanha eleitoral de quatro anos, e não somente no ano eleitoral, justamente pegando essa abertura e não necessariamente uma brecha, que além de permitir ela incentiva essa difusão de informação do político enquanto mandatário de um cargo público de informar a população sobre seus atos.

Diário – Está previsto inclusive num dos princípios que norteiam a administração pública, que é o princípio da publicidade.
Jacks – Sim, sim, uma obrigação de informar. Se não me engano é o da publicidade, o da impessoabilidade e… qual é o outro? [risos] Perdoe a falta de memória… [ legalidade, moralidade, eficiência, razoabilidade]

Diário – Por falar nisso professor, chegaram a dizer que a internet era terra sem lei, onde muitos se valiam do suposto anonimato para ofender, achacar e disseminar mentiras.
Jacks – Tem uma confusão muito grande sobre o conceito de real e virtual, pois as pessoas têm a ideia errada de que são coisas opostas. O virtual é uma extensão dessa realidade material, analógica, digamos assim. Então suas ações no mundo virtual, pela web, são suas ações da mesma forma e são responsabilizadas da mesma forma.


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