Entrevista

“Um centro de convenções ajuda a captar eventos e fortalecer o turismo”

PAULO DE TARSO GURGEL / Professor de Turismo e Hotelaria


Um dos mais respeitados profissionais do chamado Trade Turístico do Amapá, o professor Paulo de Tarso Gurgel foi ao rádio falar a respeito das suas observações e projeções para o setor no estado. Em entrevista ao programa Conexão Brasília, na Diário FM, o especialista comentou também sobre as equivocadas estratégias de promoção do país no exterior, com um excesso de sensualidade até nos impressos e folheteria, o que até hoje contribui para o chamado turismo sexual, tanto aqui como em lugares próximos, na Guiana Francesa. A definição de um calendário de receptivos a navios de cruzeiro e a possibilidade do projeto de um centro de convenções em Macapá sair do papel renovam as esperanças para profissionais como ele, que atua na formação de mão de obra para as futuras demandas do setor.

 

Diário do Amapá – Professor, recentemente uma brasileira deu o que falar ao postar um vídeo em tom de desabafo a respeito de como as mulheres do Brasil são tratadas no exterior, preconceito e exploração sexual no debate. O que o senhor acha disso?
Paulo Gurgel – Eu creio que tudo passa por essa questão macro, um olhar global, pois assistimos todos os dias na televisão, nos rádios e nos jornais a questão da migração, as pessoas saindo de seus locais de origem ou de nascimento por várias situações, guerras, fraticidas, dentre outras, mas principalmente a questão econômica. E sempre vai ocorrer por parte daqueles que os recebem uma animosidade. O Brasil hoje passa por isso, com a questão dos venezuelanos em Pacaraima, em Roraima. O Brasil está regularizando aqueles irmãos, vamos dizer assim, é uma questão crucial inclusive, saber que tipo de habilitação, formação ou qualificação possuem para inserir esses cidadãos no mercado de trabalho. É difícil, pois já estamos numa crise que não atende às nossas próprias peculiaridades, condições, imagine os estrangeiros.

Diário – E sobre esse recorte especificamente, das mulheres brasileiras professor?
Paulo – Sim, outro grave problema, sobre como a mulher é vista ao sair do seu próprio lar, do seu próprio país para buscar o emprego, a própria valorização profissional, enfim, então entendo também ser uma questão global.

Diário – Um estudo recente de um pesquisador da Unifap, o professor Manoel Pinto, diz que em relação à Guiana Francesa as brasileiras na verdade não estariam mais naquela estratégia de arrumar um casamento por lá para conseguir se legalizar.
Paulo – Sim, endossamos o que ele concluiu, que inclusive está trabalhando com o curso de guias de turismo, com a história regional no município de Mazagão, e com certeza essa visão que ele tem sobre essa questão trabalhista, da questão das migrações, dentro de uma contextualização na história e também sobre o que nós podemos trabalhar o turismo. Não estou dizendo que essa questão do deslocamento tem a ver com turismo, mas é que o turismo é essa atividade multidisciplinar, então nós estamos engajados com a geografia, com a sociologia, a história, entre outras disciplinas.

Diário – Outra questão abordada pela brasileira no vídeo tem a ver com a imagem sensual e de libido exacerbada da mulher, inclusive por muito tempo a folheteria, os impressos de divulgação do Brasil no exterior usou imagens de mulatas no Carnaval ou de moças de biquíni nas praias do Rio não é mesmo?
Paulo – Sim, contribuiu negativamente para a própria imagem do Brasil lá fora, usando a mulher neste sentido, num estereótipo mesmo.

Diário – E esse estudo do pesquisador da Unifap mostrou ainda que as mulheres brasileiras hoje querem mesmo é dominar o idioma e buscar uma colocação no mercado de trabalho lá na Guiana Francesa.
Paulo – O que é muito bom, afinal aquela história de arrumar casamente ficou para trás, afinal elas concluíram que o choque cultural é muito grande, não compensa. Mas devo dizer ainda que em relação ao mercado de trabalho do turismo as mulheres aqui no Amapá são maioria, eu creio que temos mais mulheres atuando em gerenciamento do que o próprio homem. Isso nós temos dados, levantamentos das agências de viagem, gerenciamento de hotéis, entre outros setores onde a mulher está muito presente.

Diário – O ano começou com esperanças renovadas para o setor do turismo por aqui, com dinheiro alocado para a construção de um centro de convenções e com a abertura do calendário de cruzeiros passando por aqui. O senhor também está otimista?
Paulo – Sim, realmente, essa questão do centro de convenções é uma luta antiga, desde a criação da própria Secretaria Estadual do Turismo, com a ex ministra de políticas para a mulher, Fátima Pelaes como a primeira titular, tendo iniciado essas tratativas ainda com o Jurandil Juarez [parlamentar à época] com a primeira proposta para o lançamento da obra de um centro de convenções. É, portanto, uma luta quase que dantesca sobre isso, que nós precisamos muito para a captação de eventos e de espaços condizentes para a realização desses eventos. Macapá é uma das últimas cidades em que as pessoas querem fazer os seus eventos profissionais, de engenharia, de medicina, pois nós não temos essa infraestrutura no que concerne à capacidade com pelo menos mil a mil e quinhentas pessoas. O que nós trabalhamos hoje são pequenos eventos com 400 a 600 participantes até mesmo em decorrência da própria capacidade hoteleira que a cidade apresenta – hoje em torno de 1 mil a 1,2 mil leitos.

Diário – E em relação à formação de mão de obra para a indústria hoteleira, professor, já que é uma praia digamos assim, lá nos cursos de turismo do CEPA?
Paulo – Isso, nós trabalhamos principalmente com o programa federal Pronatec, hoje com a especificação de Mediotec, na formação de técnicos em hotelaria, onde o Cepa JOB já formou em torno de 60 pessoas. Mas dentro dessa concepção dos programas federais do Pronatec, nós já tivemos outros cursos para a segmentação hoteleira, como recepcionistas, governantas, arrumadeiras, entre outros, como agora estamos concluindo o curso para técnicos em guias de turismo lá em Oiapoque e em Mazagão Novo.

Diário – Recentemente foi notícia o fato de muitos candidatos a concursos públicos no Amapá que vieram de outros estados terem encontrado muitas dificuldades na rede hoteleira local, inclusive para fazer reservas pela internet. Com o incremento do turismo toda essa cadeira produtiva tende a melhorar professor?
Paulo – Sim, com certeza, daí a importância da qualificação de mão de obra, ou seja, preparar o seu empreendimento como agência de viagem, hotel, pousada, restaurante, para essas futuras demandas, que vem com planejamento. Eu creio que nós temos um plano estadual de turismo e que agora é preciso pontuar cada etapa, ver o que está precisando ser feito e modificado, atualizado, pois lembro que foi lançado à época da secretária Cintia Lamarão na Setur. Falta a aplicabilidade correta, adequações, investimentos.

Diário – Obrigado por sua entrevista professor e bom trabalhado na formação dessas novas gerações do profissionais do turismo.
Paulo – Obrigado e mais uma vez deixo um abraço aos nossos alunos, nossos colegas na área do turismo que nos acompanham e aos nossos leitores. Para terminar, posso dizer que o turismo é aquilo que a gente costuma dizer bem no popular, “uma cachaça” que a gente tem dificuldade de sair… [risos] Um abraço a todos!


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