Nota 10

Imagem de São José chega à casa de dona Didi, neta de Mãe Luzia

Peregrinação acontece na semana nos dias que antecedem 19 de março, consagrado ao Padroeiro do estado e da cidade de Macapá. Mãe Luzia, que empresta o nome à única maternidade pública de Macapá, foi uma das primeiras parteiras do estado.


RAMON PALHARES

 

A peregrinação da Imagem de São José, Padroeiro do estado e da cidade de Macapá, que acontece nos dias que antecedem 19 de março, consagrado ao Santo, quando a imagem é levada em cortejo a repartições públicas e residências de fiéis, passou nesta quinta-feira (08), Dia Internacional da Mulher, à casa de uma família muito especial, cujo clã é chefiado pela senhora Raimunda Dias da Silva, carinhosamente chamada de ‘dona Didi’.

 

Atualmente com 89 anos de idade (vai completar 90 em 28 de agosto), mas ainda muito lúcida, dona Didi, neta de Mãe Luzia, que foi uma das primeiras parteiras de Macapá, dona Didi foi entrevistada na manhã desta quinta-feira (08) pelo programa LuizMeloEntrevista (DiárioFM 90,9): “Estou muito feliz, porque hoje está sendo um dia muito especial para mim, por estar nesse programa de rádio, que acordo de madrugada todos os dias para ouvir, porque gosto muito e sou fã do apresentador, o Luiz Melo  e também por receber hoje, no Dia Internacional da Mulher, a Imagem de São José, o nosso Padroeiro”.

 

Após ter sido restaurada, pela primeira vez nos últimos 25 anos a peregrinação está sendo feita com a primeira Imagem do Santo Padroeiro que chegou à Vila de São José de Macapá 255 anos atrás. A peregrinação começou na última quinta-feira (02) pelo Palácio do Setentrião Na solenidade, o governador leu a mensagem do bispo Dom Pedro José Conti, que traz uma reflexão às famílias amapaenses sobre a responsabilidade de tomar decisões num mundo globalizado e interligado pela tecnologia.

 

A peregrinação, que faz parte da programação religiosa, representa o duro caminho percorrido por José ao aceitar ser o pai humano do Filho de Deus. Ele teve que viajar com Maria para Belém, onde nasceu Jesus, e em seguida, exilou para o Egito em fuga a Herodes, que pretendia matar o Filho de Deus. Depois, retornou com a família para o pobre vilarejo de Nazaré.

 

Por conta deste simbolismo, a programação em alusão ao Dia de São José abrange a peregrinação, que este ano segue até esta sexta (09), quando a imagem retorna para a Igreja São José, no Centro, depois de passar por diversas entidades públicas, privadas e religiosas, além de residências de devotos.

 

Mãe Luzia
Francisca Luzia da Silva nasceu Mazagão Velho em 9 de fevereiro de 1869. Descendente dos marroquinos que migraram do Castelo de Mazagão para a Amazônia, de acordo com o historiador Nilson Montoril de Araújo, ela tinha 15 anos de idade quando seus pais se mudaram para Macapá, em 1884 e aprendeu a ‘pegar as crianças’, isto é, fazer partos.

 

Mãe Luzia era uma mulher muito querida em toda a região e por sua atuação voluntária, pois não cobrava absolutamente nada, foi contratada oficialmente pela prefeitura, passando a receber um pequeno salário seus serviços, mas trabalhava incansavelmente em qualquer hora todos os dias, pois era responsável pela maioria dos partos da cidade.

 

O nome ‘Mãe Luzia’ foi dado a ela pelo coronel Coriolano Jucá, Intendente (espécie de prefeito) de Macapá em 1895, que a convidou para trabalhar como parteira, passando a receber mensalmente um pequeno salário, mas paralelamente ela também passava e lavava roupa de famílias de posse para complementar o orçamento da família, cuja clientela incluía o governador Janary Nunes, o Promotor Público Hildemar Maia, o Juiz de Direito José de Ribamar Hall de Moura.

 

O historiador Edgar Rodrigues relata que quando lavava as roupas, ela costumava sentar à moda de seus ancestrais, às vezes com os seios expostos, porque “um filho de parto” sempre lhe pedia o peito. Ela também costumava lavar roupas sem usar a parte superior de sua vestimenta e todos a tratavam com respeito. A parteira também prestava assistência à população com remédios caseiros para curar todos os tipos de doenças.

 

A casa dela, ‘de barro socado’ localizada no Beco do Formigueiro, atrás da Igreja de São José, era visitada com frequência por autoridades em busca de conselhos e para ouvir histórias da região, entre elas o próprio governador, os quais ela recebia, vestida uma bata branca, sempre bem engomada.

 

Mãe Luzia foi casada com Francisco Secundino da Silva, que exerceu vários cargos no Amapá, entre os quais vereador e prefeito de Segurança (delegado de polícia), e chegou à patente de capitão, assumindo o comando da Guarda Nacional. O casal teve duas filhas e quatro filhos: Miquilina Epifânia da Silva (Milica), Águida Chavier da Silva, Cláudio Lino dos Passos da Silva (pai do Francisco Lino da Silva, o Lino da Universidade de Samba Boêmios do Laguinho), Francisco Lino da Silva, Raimundo Lino da Silva (Bucú) e José Lino da Silva.

 

A ‘Mãe Preta’, como também era chamada, faleceu em 23 de setembro de 1957. O sepultamento antecedeu um grande cortejo popular pelas principais ruas da cidade, seguido de um luto de três dias nas repartições públicas, decretado pelo então governador Janary Nunes. O corpo de Mãe Luzia foi sepultado na mesma sepultura onde do José Lino da Silva, que foi vitima fatal de um disparo acidental de revólver que ele havia tirado do quarto de um hóspede, um caixeiro viajante quando mostrava a arma a alguns amigos no canto da Igreja de São José, um rapaz ligado a família pediu para ver a arma e julgando que ela estivesse sem munição disparou o gatilho e o matou.

 


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