Nota 10

Patrícia Bastos faz ponte entre o som do Amapá e o restante do Brasil

“É bom sempre trazer pessoas, para que haja um olhar sobre a Amazônia; pessoas que pensam como a gente, que são ativistas, que têm essa luta, igual à minha, de meu povo”, diz a artista


 

A cantora Patrícia Bastos conta uma das versões sobre a criação de um ritmo típico do Amapá: escravizados que chegavam àquelas terras, exaustos, morriam e eram jogados ao mar. “Então, cantavam com as alfaias, que são as caixas de guerra, uma música que era o marabaixo, uma música de lamento. Acorrentados, eles cantavam, dançavam e choravam, pedindo para que aquela alma fosse salva”.

 

 

Atualmente, o Amapá mantém mais de uma dezena de comunidades quilombolas, com seus conhecidos batuques. No estado, há uma grande influência da música da Guiana e do Caribe, como o zouk e o cacicó.

 

“A gente ouve desde criança. Essas músicas animavam as festas. Isso influenciou muito a nossa música, o batuque de curiaú, como chamamos”, relembra. As músicas dos países vizinhos chegavam ao Amapá pelas ondas do rádio e por discos – que o pai de Patrícia comprava no mercado central da capital.

 

Esses ritmos associados à influência dos povos originários da região estão presentes no trabalho de Patrícia Bastos, e seu último álbum (o oitavo solo), a Voz da Taba, celebra a confluência da cultura amazônica.

 

Trata-se da parte final de uma trilogia, composta também por Zulusa (2013) e Baton Bacaba (2016). “Agora, Voz da Taba traz mais uma música para dançar, é uma festa”.

 

Nos três trabalhos, a direção musical e os arranjos são de Dante Ozzetti. “Queria um arranjador-pesquisador que viesse aqui e conhecesse essa música, a nossa história, a melodia, nossos ritmos, mas queria algo que não fosse regional. Queria que passasse disso”, relata a artista. “O Dante conseguiu fazer isso muito bem. Ele deixou muito clara a essência de nossa música, que é o marabaixo, nosso batuque. Ele universalizou isso”.

 

Dante Ozetti estuda os sons amazônicos há um bom tempo e, em 2016, chegou a lançar o instrumental Amazônia Órbita, a partir de pesquisas de ritmos locais, como lundu indígena, marambiré, carimbó, marabaixo e cacicó.

 

Para o mais recente trabalho de Patrícia Bastos, ele chegou a ir a Guiana Francesa e Suriname para pesquisar as influências amapaenses.

 

A Voz da Taba tem a participação de Caetano Veloso, Ná Ozzetti, Fabiana Cozza, Alzira E, Cristóvão Bastos, Orquestra Mundana Refugi, entre outros.

 

“É bom sempre trazer pessoas, para que haja um olhar sobre a Amazônia. Pessoas que pensam como a gente, que são ativistas, que têm essa luta, igual à minha, de meu povo”.

 

Sobre a participação de Caetano Veloso, ela diz se tratar de um sonho realizado. O baiano gravou Jeito Tucuju, obra do poeta Joãozinho Gomes musicada por Val Milhomem.

 

A letra reforça a necessidade de conhecer a Amazônia no seu âmago: “Quem nunca viu o Amazonas/ Nunca irá entender a vida de um povo/ De alma e cor brasileiras/ Suas conquistas ribeiras/ Seu ritmo novo”.

 

“Sempre o via cantando essa música, esse hino cultural”, celebra a cantora. “Ele deu voz nessa luta para que as pessoas olhem a Amazônia”.

 

Além de Joãozinho Gomes e Val Milhomem, o disco traz outros compositores da região, como Enrico di Miceli, Paulo Bastos e Ronaldo Silva.

 

“O Amapá é um estado de que poucas pessoas falam. É difícil chegar aqui. Nós temos um povo que canta. A forma de eu fazer isso é através da música”.

 

Fonte: Carta Capital

 


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