Nota 10

Unidos do Buritizal chegará ao meio do mundo clamando por liberdade religiosa

Unidos do Buritizal passará pelo portão de acesso à 1h10.


Um manifesto por respeito a todas as religiões será exaltado na Passarela do Meio do Mundo no primeiro dia de Desfile das Escolas de Samba, 21 de fevereiro. O Grêmio Recreativo e Cultural Academia do Samba Unidos do Buritizal abrirá as apresentações do Grupo Especial com o enredo “A fé nossa de cada dia: os caminhos são muitos, mas o ponto de chegada é um só”, colocando em xeque a intolerância que vive a sombra das religiões cultuadas no Brasil. O enredo, polêmico e atual, será explorado com um desfile diversificado e aclamando por liberdade para toda manifestação religiosa.

Em julho de 1990, uma conversa com moradores do bairro, liderados pela professora e pioneira Cila França, foi decidido que o bairro Buritizal deveria ter uma escola de samba que representasse a comunidade. Foi o nascimento da agremiação, que ganhou a admiração dos moradores do bairro. Nestes 30 anos de carnaval, se tornou uma das maiores do Amapá e hoje consagra-se no Grupo Especial. Fugindo da tradição de enredos de homenagens e exaltações, em 2020, a escola se renova e segue uma tendência nacional, de tratar, em público, de temas nem sempre agradáveis, mas apropriados.

Clóvis Júnior, carnavalesco, explica que a escola está tratando o tema com abordagens específicas e com o contexto de que as crenças e manifestações de fé podem percorrer caminhos diferentes, mas o objetivo é sempre Jesus. “Estamos explorando o enredo com respeito a todas as manifestações religiosas, chamando atenção para o sofrimento com a intolerância e o desrespeito implacável. Tudo dentro do enredo, que situa o Brasil como um país formado pela diversidade religiosa, desde sua ocupação pelos portugueses, quando nesta terra habitavam indígenas, até o momento atual”.

O desfile conta da primeira missa católica, assistida por indígenas, que tinham como líder religioso o pajé, à intolerância praticada por portugueses contra os cultos afros trazidos pelos negros escravos africanos, o que obrigou a realização secreta dos cultos, o disfarce de seus deuses por santos católicos, que originou a expressão sincretismo religioso. O crescimento do Brasil e a chegada de povos, culturas e religiões, de judeus aos islâmicos, a formação democrática religiosa do país, também fazem parte do desfile da Unidos do Buritizal, que pede respeito, tolerância e paz universal.

A escola iniciará com a Comissão de Frente representando a travessia do Mar Tenebroso, enfrentando as criaturas mitológicas, até chegar ao Brasil. O carro abre-alas é um pedido de união de todas as religiões, e mensageiros são os componentes da velha guarda da escola. O primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira representa a chegada do catolicismo trazido pelos portugueses, o segundo a folia de reis, e a ala das baianas fala da primeira missa celebrada no país. As alas representam a diversidade religiosa: Tupã, Deus Supremo Indígena; Pajelança, a Força da Natureza; A Fé Africana; Oxalá; A Festa do Divino Espírito Santo, Maracatu Rural; Islamismo; Judaísmo; Romeiros e a Celebração da Paz Universal e União de Crenças.

  A bateria de Unidos do Buritizal, que representa o hinduísmo, sob o comando do mestre Renatinho, traz novidades, que são as jovens diretoras Sara Cardoso e Lorena Andrade. Elas já tocavam tamborim e chocalho, mas, este ano, Renatinho reconheceu o talento e o espírito de liderança, e fez o convite para que fossem as diretoras dos ritmistas destes instrumentos. Para o mestre, não há surpresa, porque já conhecia o desempenho das meninas.

“Lorena é minha esposa e nos conhecemos na Unidos do Buritizal, ela já tocava tamborim. E a Sara é cria da Piratas Estilizados, sempre no chocalho, e em 2015 eu a conheci e agora fiz o convite para ser minha diretora. Elas não decepcionam, e como a maioria dos ritmistas de tamborim e chocalho é mulheres, fica mais fácil a comunicação”.


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