Política Nacional

‘Foi a glória’, diz Maria da Penha sobre criação da lei há 10 anos

Farmacêutica ficou paraplégica após tentativa de homicídio do ex-marido


“Eu me casei na década de 70. A minha primeira filha nasceu em São Paulo e, as outras duas aqui, em Fortaleza. Com o nascimento dos nossos filhos, meu ex-marido, que é estrangeiro, conseguiu a naturalização dele. Foi aí que ele mudou totalmente a maneira de ser. Tornou-se uma pessoa super agressiva, inclusive com as próprias filhas. Era mais violência psicológica no início, de ficar falando coisa.

Eu queria a separação e ele não aceitava. Eu também não investi em separação litigiosa porque essa minha história aconteceu na época em que estavam em destaque casos de mulheres que eram assassinadas porque não queriam continuar seus relacionamentos. Então eu coloquei minhas barbas de molho e não pensei em uma separação com medo exatamente do chavão “eu amava demais, não aguentei a separação e, num momento de desespero, cometi um crime”. E eu achava que isso era possível.

Um dia, ele tinha chegado de viagem de tarde, e nós tínhamos um compromisso com uma amiga. Nós saímos pra fazer essa visita, voltamos, arrumei as crianças na cama e fui dormir. Eu acordei com um estampido dentro do quarto. Eu fui me mexer e não consegui, então eu pensei: “puxa, o Marco me matou”.

Começou aí a minha grande luta por justiça, que demorou 19 anos e seis meses. E que só acabou por causa das pressões internacionais. Nós chegamos a denunciar o caso para a Organização dos Estados Americanos (OEA). O Brasil foi responsabilizado pela maneira negligente com que os casos de violência contra a mulher eram julgados no país. Foi a própria OEA que exigiu do governo brasileiro a criação de uma legislação específica. Foi criado um consórcio de ONGs e juristas para discutir e fazer um projeto de lei. Foram feitas várias audiências públias, e o projeto foi aprovado pelo Congresso com unanimidade.


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