Política

Deputados federais do Amapá alugam onze imóveis pagos com dinheiro do contribuinte

Os dois deputados são aliados. André Abdon, que cumpre o primeiro mandato, é o presidente estadual do Partido Progressista (PP), um dos diversos partidos controlados pela família de Vinícius Gurgel no Amapá.


Os deputados federais André Abdon (PP) e Vinícius Gurgel (PR), ambos do Amapá, alugam vários imóveis a preços acima do mercado e pagos com dinheiro público. Alguns desses imóveis não têm sinal de atividade dos parlamentares, e ficam localizados nas cidades de Macapá e Santana.

A equipe do Bom Dia Brasil, da Rede Globo, visitou alguns desses imóveis e descobriu que tem até gente morando neles. O deputado André Abdon aluga sete imóveis no estado e o deputado Vinícius Gurgel aluga quatro. A Câmara informou que a verba só pode ser usada para pagar escritórios de apoio à atividade parlamentar.

Os dois deputados são aliados. André Abdon, que cumpre o primeiro mandato, é o presidente estadual do Partido Progressista (PP), um dos diversos partidos controlados pela família de Vinícius Gurgel no Amapá.

Todo deputado tem direito a um gabinete em Brasília e também a um escritório para atividade parlamentar no estado.

Em um dos imóveis, em Macapá, funciona a representação do Partido Progressista. Em outro endereço informado pelo deputado, em Santana, uma casa de dois andares. Ninguém atendeu. A vizinha do lado disse que não tem nada de escritório, lá é uma residência, e contou que o morador é um vereador chamado Rarisson.

Aliado dos dois deputados federais, Rarisson Santiago foi o candidato a vereador mais votado de Santana nas eleições de outubro passado, obtendo 1.889 votos pela sigla do PRP. O PRP é presidido por Hildegard Gurgel, irmão do deputado Vinícius Gurgel, conforme mostra o site do Tribunal Regional Eleitoral do Amapá.  O vereador eleito, que é morador, é também o locador do imóvel para o deputado.

Os recibos que servem de base para o reembolso estão todos assinados por Rarisson. Também fogem do padrão a quantidade e valor dos aluguéis contratados pelo deputado André Abdon. Foram R$ 208,2 mil para bancar os imóveis alugados, quase metade da cota parlamentar a que o deputado tem direito. O gasto do deputado Abdon, sozinho, é maior que o dos oito deputados do estado do Tocantins juntos, com aluguel e material de escritório.

Vinícius Gurgel também tem gasto alto com alugueis, quatro no total. Recebeu um reembolso da Câmara de R$ 160 mil, 35% de toda a verba que ele pode usar. Um dos imóveis alugados estava fechado e, no outro, o morador disse que nunca viu Vinícius.

Horas depois de terem sido encontrados dois imóveis fechados em Macapá, a assessoria do deputado Vinícius Gurgel abriu as portas para dizer que eram escritórios. Segundo a assessoria, em um deles, que tem três salas mobiliadas, Vinícius Gurgel recebe políticos, e, no outro, ele recebe as demandas dos eleitores.

E tem mais um detalhe, os deputados André Abdon e Vinicius Gurgel alugaram sala da mesma pessoa, Rômulo Sérgio Alves do Nascimento, um candidato a prefeito de Porto Grande que não se elegeu. Ele declarou ter uma casa de R$ 30 mil. Só de aluguel para os deputados, teriam sido pagos para ele quase R$ 280 mil de 2011 para cá. Rômulo Sérgio foi candidato a prefeito pelo Partido da República (PR), controlado pela família Gurgel. Sua relação com a família iria além das questões partidárias e comerciais.

Corretores foram ouvidos pela reportagem sobre quatro imóveis alugados pelos deputados. A avaliação foi com base no tamanho, as ruas e os bairros. Em um dos endereços do deputado André Abdon, que foi alugado por R$ 4,8 mil, os corretores disseram que o valor estava acima do de mercado.

“Aqui nós conseguimos atingir um valor mínimo de R$ 1,1 mil e podendo atingir até o valor máximo de R$ 1,5 mil”, disse o corretor de imóveis Phillip Rocha.

No endereço do deputado Vinícius Gurgel, alugado no centro de Macapá por R$ 5 mil, os corretores disseram que o valor máximo não deveria passar de R$ 2 mil. “A localidade não comporta essa estimativa de valor elevada duas vezes e também há a questão do tamanho do ponto, da área comercial a ser avaliada. Então a gente não conseguiria atingir esse valor”, completou o corretor.

Dos 513 deputados, só 20 gastaram, este ano, R$ 100 mil ou mais com aluguéis de imóveis e só os dois do Amapá não apresentaram despesas como condomínio, água, luz, que aparecem na prestação de contas dos outros deputados.

A Câmara disse que não tem limite para gasto com aluguéis, desde que sejam imóveis usados exclusivamente para apoio à atividade parlamentar, falou que está melhorado o controle e uso da cota parlamentar, e não fez comentários sobre caso dos dois deputados.

O deputado federal Vinícius Gurgel confirmou que tem quatro escritórios políticos, que considera importante manter os dois escritórios no interior, porque teve boa votação nos dois municípios.

O deputado André Abdon disse que o critério de escolha dos imóveis baseia-se na representatividade do parlamentar nos sete maiores municípios do estado. Ele disse que é importante destacar que o valor de R$ 210 mil corresponde ao valor total anual e não mensal. Ele também disse que as despesas com condomínio estão incluídas nos valores pagos nos aluguéis, que água e energia não são pagas com a verba de gabinete.


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