Política

Derrotado para o governo, Capiberibe diz que o Amapá está falido e prevê que situação pode piorar a partir de janeiro

Senador alerta que dívidas contraídas ameaçam a governabilidade e cobra aumento da folha em R$ 300 milhões no período de um ano.


João Alberto Rodrigues Capiberibe (PSB)

João Alberto Rodrigues Capiberibe (PSB) foi derrotado ao governo com 48% dos votos e permanece até o dia 31 de janeiro de 2019 no seu 2º mandato como senador da República. Ele atribui essa derrota ao que chama de “intervenção do TRE do Amapá no processo eleitoral” por ter anunciado na véspera da eleição que os votos atribuídos a ele e à candidata ao Senado, Janete Capiberibe, seriam anulados, e também acusa o governador Waldez Góes (PDT) de ter usado a estrutura do governo para se reeleger, inclusive aumentando a folha de pagamento do governo do estado em R$ 300 mino período que antececeu as eleições.

Em entrevista ao jornalista Luiz Melo, nesta terça-feira (13), Capiberibe denunciou que o governo do estado está falido, porque, segundo ele, as receitas não são suficientes para pagar “um rombo de mais de R$ 600 milhões nas contas públicas”. Mas, conforme afirmou, ainda há a expectativa de Waldez Góes ser condenado pelo STJ no próximo dia 21, quando será julgada uma ação penal do MP/AP, de 2010, em que ele é acusado de peculato, por não repassar às instituições financeiras descontos de empréstimos consignados, que totalizam mais de R$ 300 milhões. Capiberibe disse que, no caso de condenação, além de outros trancos, novas eleições serão realizadas para o governo do Amapá.

LUIZ MELO – O senhor postou uma notinha na sua conta no facebook que viralizou nas redes sociais de que não gostaria de “estar na pele” dos que ganharam a eleição. Por que essa afirmação?
CAPIBERIBE – Vim falando ao longo do processo de campanha eleitoral sobre essa questão. Eu levantei a dívida do estado e constatei que de outubro de 2017 a outubro de 2018 o governo do Amapá deve 1 bilhão e 545 milhões de reais e o governo só tem dois meses de receita até janeiro de 2019, de transferências da União e ICMS com um total de R$ 650 milhões; além disso temos dois meses pela frente e o governo tem que pagar duas folhas e meia, correspondentes aos meses de novembro e dezembro e a metade do 13º Salário, o que chega a R$ 480 milhões; mais, ainda tem que repassar o duodécimo aos Poderes, que não está sendo repassado por inteiro; somando, isso dá perto de R$ 600 milhões e o que tem que arrecadar não é suficiente para pagar essa dívida; ainda tem que manter o estado em pé até 31 de janeiro porque o governador Waldez quebrou o governo pra se eleger; falo isso com base na evolução da folha de pagamento de outubro 2017 a outubro de 2018 outubro, em que sem qualquer justificativa, a folha de pagamento cresceu em R$ 300 milhões; isso é escandaloso, porque nesse período ele deu só 2,1% de aumento para o funcionalismo. O governador tem que vir a público explicar como é que ele aumentou a folha; e tem mais um detalhe, nesse período teve um alívio muito grande na folha porque houve transposição de 2.120 servodores do Estado para a União. Tudo indica que no próximo dia 21 vai ser julgada uma ação penal no STJ em que ele é acusado de peculado, por desvio de recursos de consignados; e esse processo não é de agora, é bom lembrar que é de 2010 e corresponde a uma dívida de 74 mi de reais, que o governador Camilo, ao assumir, negociou com bancos, parcelou e quitou a dívida; como se vê, o governo do estado está quebrado, por isso eu digo que não gostaria de estar na pele do governador.

LUIZ MELO – Derrotado nas urnas, o PSB vai continuar na oposição, é certo, mas essa oposição vai ser radical ou nem tanto assim?
CAPIBERIBE – Não existe meia oposição. Ou é oposição ou não é! Oposição responsável, moderada, é conversa fiada! A oposição tem que cobrar do Executivo que as coisas aconteçam, como agora, que venho a público dizer que os fornecedores, os prestadores de serviços do governo estão ameaçados de não receber; é o meu papel levar e explicar à sociedade o que está acontecendo. Mais, 48% dos votos estão longe de ter sido derrota; na verdade foi uma grande vitória moral, pois mostra que 48% da população não aceita essa maneira de governar. E também fomos atrapalhados pelo TRE; o presidente do TRE é um homem nomeado pelo governador Waldez Góes, não foi o primeiro da Lista Tríplice e responde a um PAD no STJ; na hora que o TRE tomou aquela decisão ilegal sem base legal de declarar os meus votos e o da Janete nulos, mudou totalmente a eleição, e não não havia qualquer óbice (para as candidaturas); e isso numa decisão administrativa, isso não existe no mundo jurídico, é ilegal! A eleição foi marcada por atropelos e intervenções, como essa do TRE, tanto que no dia da eleição a emissora de televisão do vice Jaime Nunes estava fazendo campanha dizendo que se votassem em mim e na Janete os votos seriam nulos…


LUIZ MELO – A neutralidade no 2º turno de Clécio, Davi e Randolfe é uma ferida aberta na relação de ex-aliados com o senhor?

CAPIBERIBE –  A neutralidade na verdade não existiu. O governador Waldez Góes na véspera da eleição, em um discurso que ele fez, disse que conversou com o Randolfe… Depois aliados do Randolfe, liderados do Randolfe fizeram campanha para o Waldez em Laranjal do Jarí e em Macapá; então não houve essa neutralidade. Sei porque conheço, conversei com algumas lideranças do Randolfe e disseram que fizeram campanha…. Até posso admitir que um ou outro tenham ficado neutros, mas no caso do Randolfe eu conheço de perto e sei que não houve neutralidade.

LUIZ MELO – O PSB estava consciente do risco que corria com a coligação com o PT… Não houve nenhuma voz discordante para que o partido, por conta desse risco, não fechasse o acordo?
CAPIBERIBE – Não havia nenhum problema, o erro não está aí, é normal ter acontecido, e bastava o TRE não cometer esse erro proposital de ao arrepio da lei anunciar a nulidade dos votos…

LUIZ MELO – Então o que senhor insiste que TRE atrapalhou o senhor?
CAPIBERIBE – Claro! O TRE, é responsável! Na terça-feira as pesquisas mostravam que ganharíamos a eleição no 1º turno e a Janete seria eleita para uma das vagas no Senado…. Nós sabemos disso, mas quando o TRE anunciou que os nossos votos seriam anulados causou prejuízos enormes não só no dia da votação, tanto que um eleitor, em depoimento, disse que votaria na Janete, mas que mudou pra não perder o voto. Ficamos 10 dias após a eleição esperando a decisao do TSE, que demorou muito. Nossos eleitores inclusive se sentem vitoriosos, com a moral lá em cima, porque sabem o que o aconteceu no Amapá e vamos reverter… Inclusive se o governador Waldez for condenado no dia 21, e a expectativa é de condenação porque tem precedentes, e nesse caso teremos novas eleições; a questão é saber quem vai querer governar essa massa falida do governo do Amapá, porque não tem dinheiro pra pagar ninguém…

LUIZ MELO – O senhor sempre condenou o uso do ‘tapetão’ para atingir objetivo político e agora diz que vai ao ‘tapetão’. O que fez o senhor mudar essa visão?
CAPIBERIBE – Olha, o governador Waldez responde a uma ação penal e eu não tenho nada a ver com isso, pois é uma denúncia do MP que será julgada no dia 21 de novembro pelo STJ, e se ele for condenado haverá novas eleições…

LUIZ MELO – O senhor disse que o PSB ganhou moral com os 48% dos votos. Isso quer dizer que o partido não sai enfraquecido, só chamuscado, digamos assim, dessa eleição?
CAPIBERIBE – Nem chamuscado! Com 48% dos votos, com o Camilo eleito o deputado federal mais votado, o PSB sai muito fortalecido, porque na verdade o povo do Amapá acompanhou a belíssima campanha que fizemos… Saímos muito fortalecidos, tão fortalecidos que estamos hoje nos organizando na oposição, com muita gente absolutamente disposta a participar porque ninguém aceita a bancarrota do Amapá, com o governo do estado insolvente, quebrado, nada funciona nas repartições e a tendência é ficar muito pior até o final do ano; o governador estava mentindo e depois da eleição continua mentindo. Acabou a eleição; ele mentiu no debate, mentiu o tempo todo, mas agora não pode continuar mentindo; inclusive peço a você convidar o governador para explicar a falência do estado.

LUIZ MELO – O que as pesquisas de sua assessoria revelavam antes do 2º turno?
CAPIBERIBE – Em todas as pesquisas, inclusive a do Ibope na sexta-feira mostrava que eu estava 10% na frente do Waldez, e nossas pesquisas davam vantagem ainda maior, davam a Janete como eleita, e a Janete eleita seria um trunfo gigantesco para disputar o 2º turno e eu chegaria muito na frente do Waldez Góes; eu só perdi mesmo para o TRE, tanto que um juiz do TRE postou uma mensagem dizendo “Sai Capiroto!”.

LUIZ MELO – Quem é esse juiz, senador?
CAPIBERIBE – Vou dizer na ação no CNJ, tá lá (o nome dele), inclusive o print da mensagem dele; agora não vou dizer, mas mandarei pra você a Inicial da ação, que lá tem o nome do juiz que estava comemorando o seu feito.

LUIZ MELO – Quais são os seus projetos pessoais a partir de fevereiro do ano que vem, quando o senhor não vai mais estar no Senado?
CAPIBERIBE – Pra mim faz pouca diferença ter ou não ter mandato porque minhas ações não dependem de mandato. Vou continuar a minha luta política mobilizando o povo, organizando o nosso partido, debatendo a gestão compartilhada, exigindo transparência e fazendo oposição ao governo e também às prefeituras, claro!

LUIZ MELO – O senhor está com 71 anos e o senador Cristóvão Buarque, que não foi reeleito (no Distrito Federal), que tem 74 anos, disse em uma entrevista que preferiu deixar para as urnas a decisão de encerrar a sua carreira política. Passa pela cabeça do senhor parar por aqui ou acha que ainda está muito cedo?
CAPIBERIBE – Eu já disse que pra mim faz pouca diferença ter ou não ter mandato, porque eu sempre vou continuar militante politico, não vou parar nunca, e com relação ao futuro nós vamos pensar…


LUIZ MELO – Isso inclui a possibilidade de o senhor se candidatar a prefeito em 2020?

CAPIBERIBE – O importante agora é o julgamento da ação penal no dia 21, pois pode ser que daqui a uma semana já estejamos discutindo nova eleição, nem que seja para administrar a massa falida que é o governo do Amapá…

LUIZ MELO – Para o senhor o governo do estado está falido, e nesse caso, se conseguisse se eleger, como o senhor administraria essa massa falida?
CAPIBERIBE – É claro que estou acostumado a gerir massa falida! Quando peguei a prefeitura de Macapá aconteceu isso, enfrentei também no governo e consegui equilibrar as contas públicas e fazer investimentos, construí 79 escolas, todo o complexo hospitalar que existe hoje foi feito por mim, outros pelo Camilo (ex-governador), porque eu sei como fazer… Tem que equilibrar receitas e despesas para poder governar.

LUIZ MELO – O senhor ligou para o Waldez parabenizando-o pela vitória?
CAPIBERIBE – Ele ligou para mim na véspera da eleição para montar uma ‘pegadinha’; olha o caráter dele!

LUIZ MELO – Na sua opinião o que o presidente eleito, Jair Bolsonaro, representa para o Brasil?
CAPIBERIBE – Eu diria que é um tiro no governo… Bolsonaro não tem experiência, é uma situação conjuntural. Nesse pouco tempo que ele vem atuando como presidente eleito vem dando declarações atacando a China, dizendo que vai a Taiwan, que os chineses não gostam. É preocupante! Quando ele resolve transferir a Embaixada (brasileira) de Tel Aviv para Jerusalém, mexendo com o mundo árabe, para o qual vendemos 3 bilhões de dólares em produtos do agronegócio… O Brasil exporta pra China 78 bilhões de dólares… Isso assusta, porque se tiver um desequilíbrio nas relações comerciais por causa dessas posições ideológicas… Ele acusa o PT de questão ideológica, mas coloca a questão ideológica em prejuízo à economia brasileira e dos trabalhadores, porque perda de espaço comercial representa milhares e milhares em recursos… Vamos ver se agora, que de fato foi eleito, ele seja aconselhado a ser mais comedido para não prejudicar a economia brasileira; a proposta dele de acabar com ministérios também gera dúvidas, porque a história mostra que não é acabando com ministérios que se resolve os problemas da economia e acaba com a fome no país.


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