Osmar Júnior

Eu sou da Amazônia

Eu sou da Amazônia

Uma história ocorreu comigo em uma viagem de barco.

O cidadão dizia ao telefone:

– Manda um beijo pro meu pai, mês que vem eu vou por aí.

– Com licença, eu disse. O senhor é caixeiro viajante? Perdão, não pude deixar de escutar o fim da sua conversa ao telefone. O senhor passa muito tempo longe de casa?

– Sim. Sou representante comercial de uma fábrica de alimentos; a minha área de trabalho são as localidades ribeirinhas; passo um bom tempo longe da família.

Estendemos o papo e assim a viagem foi agradável.

Olhei ao redor e vi rostos viajantes, viajantes de rio, viajantes da Amazônia. O barco motor do Norte chega aos festivais do interior, que são muitos, tocando alto um som de festa, um som que essa minha gente gosta.

Eu fiz ‘Os passa vida’ em parceria com o Rambôlde Campos, que foi um grande sucesso, gravada por Alcyr Guimarães, Lucinha Bastos e Sayonara, e também por Fafá de Belém.

‘Fiz coração tropical’, gravada por Amadeu Cavalcante.
Agora mando mais algumas dessas receitas de salão, através de Dani Li, uma cantora que vai dar o que falar. A voz poderosa, o ritmo, o carisma e uma mensagem vinda do fundo do coração de sua terra. A receita certa para fazer sucesso na região.

Às margens, o povo, a dança, esses caminhos de rio, essas cidadezinhas de interior, essas meninas da Amazônia me encantam, fazem compor. Quero ser nortista, quero ser habitante do coração dessa gente, dos capitães de barcos que são bons de alma. Eu sou da Amazônia.

Bom domingo.

Mulheres autossustentáveis

Viva as mulheres autossustentáveis! Esqueça as flores, as cartas de amor e serenatas.

O que elas querem é caro. Agora alcançaram a independência. Assumem cargos profissionais e políticos, e funcionam muitas vezes melhor que os homens. Mas essas, são minorias.

São Giselles, Júlias e Graces.

Depois vem uma chuva de mulheres fazendo filhos por pensão alimentícia e bolsa família. Acredite, são muitas. E uma outra parte está aí com todo o silicone pra ganhar carros ou apartamentos ou se transformar em mulheres frutas.

Desculpe, tenho medo da extinção daquele amor, antigo amor. O que posso dizer: colecionei sentimentos, tive sorte de ter mulhares autossustentáveis.

CONVERSA DE BAR
– Agora temos que ter alguma grana e alguns comprimidos azuis, disse um amigo meu.

O outro
– Preserve seu casamento.
E um outro ainda
– Não seja pão duro. Dê o presente que elas querem e parta pra cima.
Teve um que foi enfático
– Não bebo mais, tô de cabelos brancos, amo minha mulher, sou rei da felicidade, sou pai e tô rico.
E um outro finalizou
– Gastei a porra da grana toda com mulher e festa. Não tenho nem plano de saúde.
Recebi uma visita, semana passada. Estava em casa sozinho, segunda-feira, e adormeci meu sono intenso. Ela tocou a campainha e fui atender. A figura estava ali, em pé, com os lábios vermelhos, sem maquiagem e os olhos violetas.
– Posso falar com você? Perguntou ela.
Pedi que ela entrasse. Ofereci-lhe uma cadeira e água. Ela tá fazendo faculdade de Filosofia. Conversamos a tarde toda, sobre viagens, grandes escritores, preservação do planeta e do amor. E sobre música, claro.
Ela não queria nada de mim, pois tinha tudo. Desde esse dia não consigo acorda desse sonho – não consigo.
Bom domingo, Osmar Júnior.

Mágica canção para a humanidade

Particularmente, acredito em uma bela canção que lapide o espírito humano, em pelo menos boa parte.

Criamos uma sociedade doente, exposta a um mix cultural de fim dos tempos, digo, o início de uma nova ordem, onde o caos social renova o pensamento. Afinal, temos que tirar a venda hipócrita dos olhos e ver a realidade de tudo.

A corrupção; a franquia religiosa; a tão antiga pedofilia; o culto à violência; o neonazismo das facções da droga; o consumismo da classe B e seus revoltados; a impaciência mal educada do trânsito; o estrago de alimentos nas refeições viciadas; a fome; o lixo; o roubo do céu por cristãos, muçulmanos e judeus; a fanática obsessão da mulher e do homem pelo culto ao corpo siliconado, anabolizado, atrofiado, seja o que for; o câncer; a Aids; o racismo e a homofobia; o vício e a irracionalidade animalesca dos black-blocs.

– Que água lavará o pecado de termos desejado o céu? Só um dilúvio ou muito fogo ou uma canção como a do flautista de Hamelin que leve os ratos e os afoguem no mar.

Uma canção magica, que entre pelos ouvidos da alma, e nos torne mais humildes, mais gentis, uns com os outros, uma receita social que nos salve do mal, que nos faça beber sem fanatismo e sem frescura do vinho de Kalil Gibram, profeta Gentileza e Jesus Cristo.

Bom domingo, Osmar Júnior

Indiéra

Uma grande tempestade solar um dia atingirá a terra, e tudo terá que recomeçar. A humanidade renascerá para um mundo novo. Será que esse é o acontecimento que a história humana perde sempre? Uma nova ordem é criada? Um novo Adão e Eva, uma nova gênese? Uma coisa é certa: cada geração ou civilização tem seu próprio apocalipse. O planeta mostra sinais de sobrecarga, e mudanças no clima são anunciadas. O homem corre no dia a dia para se manter com sua vida simples ou luxuosa, sem se aperceber dessas coisas. Os países ricos corroem o planeta, o povo adora tudo que é fácil, trivial, não lê e não escuta nada inteligente, e prefere as idiotices das redes sociais, e a usam para divulgar até quando vão ao sanitário, postando e lendo besteiras o dia todo.

O mundo financeiro bateu no teto, intolerância religiosa por toda parte, guerras à vista, e a gente não evolui na política porque não sabemos escolher homens dignos para isso. Passamos a necessitar de muitos artigos para viver em sociedade. Até o índio, que vivia da natureza, passou a querer demais os itens da moda e da tecnologia, e se entregou ao vício do consumo industrial. INDIÉRA, meu novo trabalho, é uma denúncia não só das agressões ao meio ambiente do Amapá, mas do estranho silêncio das autoridades perante os projetos que vêm das soluções desesperadas de um país que há muito tempo é um barco que faz água na área da energia. A mensagem é: volte aos santuários, diminua o desperdício de tudo, olhe mais ao seu redor, cultive o belo que vem do espírito, plante e colha, volte a ser índio. Aqui ainda é turva a resposta sobre o nosso destino. Esses projetos pagarão pelo prejuízo ambiental do Amapá? Ou ficaremos assim? Afinal, custou caro o rio Araguari, e custarão caro também nossos campos de cerrado.

O pinho e a soja, quanto emprego há nisso? Quanto investimento social e cultural para o Amapá? Então mando, através de clips, uma carta denúncia poética para chamar a atenção do mundo para o que está acontecendo aqui com os santuários ecológicos, com nossos rios, com nossas tribos, campos e reservas, com nosso espírito índio. Os institutos brasileiros de meio ambiente se calam diante do governo federal e o povo idem. Com os políticos calados vamos rumo ao pecado que fará do Amapá uma terra devastada, volto a dizer que o progresso só é viável com equilíbrio ambiental, com sustentabilidade e respeito aos povos que vivem aqui. Meus clips irão para as redes ainda neste ano. São pequenas cartas que fazem da música algo que pensa e ajuda a mudar pensamentos, ou simplesmente canta essas coisas. Estou tentando fazer no meu quadrado a minha parte como músico, semeando uma ideia de vida mais natural, já que se muda o mundo mudando o pensar do homem que esqueceu sua origem e a importância de viver em harmonia com o planeta.

Somos observados e julgados. Se formos nocivos e incapazes de conter nossa ambição materialista, não passaremos no teste e vamos desaparecer.

Assim também a terra, a mãe, nos rejeitará e de alguma forma vamos pagar por essa ignorância. Devido ao egoísmo latente no homem não aprendemos a respeitar outras vidas e não amamos nem a nossa própria natureza.

É isso que diz INDIÉRA.

Tente outra vez

A plural humanidade caminha entre o mal e o bem. Não são somente seres, são complexas unidades criadas ou providenciadas, com defeitos e qualidades, com princípio, meio e fim. A sociedade também a cria, inventa santos e demônios, cria tudo que não se move, de pedra, de ferro ou de pau. A carne se move e pensa, e é formatada pela sociedade. Gênios das ciências exatas ou humanas e monstros do crime.

O sistema prisional brasileiro não reforma a personalidade de ninguém, está criando um mundo que provavelmente sobreviverá, e esse mundo, acredite, é cruel e mais irracional que o mundo animal selvagem. Esses que estão sendo criados matam por prazer ou vingança de uma gente que não lhes deu chance. Quem nos chamou quis nos dizer que é muitas vezes possível consertar defeitos.

Ao invés de criarmos uma universidade de assassinos, deveríamos criar uma escola agrícola ou uma fábrica, sei lá, algo que desse chance ao criminoso. Criamos uma máfia organizada e poderosa, que de dentro do cárcere pode comandar uma rede de assassinos aqui fora. Ruim é que nunca pensamos como os cineastas. Imagine uma guerra ou um acidente tipo um tissunâmi ou terremoto, qualquer coisa que nos desorganize e obrigue a soltura dos prisoneiros. Não sobreviveríamos.

Será a pena de morte nossa melhor opção? Vamos lotar as prisões de homens de 16 anos de idade? Temos estrutura prisional pra isso?

Temos que pensar em estrutura antes de criar leis.

Sei dos erros, do repente, das injustiças, sei que muitos homens erraram por motivos involuntários. A sociedade provoca.

Um homem passa 30 anos no corredor da morte nos EUA, aí descobrem que o sujeito é inocente.

Mas não adianta ficar sobrevoando o problema, o Amapá pode ser laboratório de muitas experiências. Atividades educacionais e industriais podem sair da teoria.

Mas se você quer mesmo saber da paz, ela pode vencer, se houver justiça social. E você que está puto da vida, e quer fazer uma grande merda, ouça a canção, e tente outra vez. TENTE OUTRA VEZ.

Bom domingo.

Brasil, um rio de lama

A cada dia a irracionalidade dos políticos chega mais perto das tribos indígenas da Amazônia.

Querem invadir as reservas corrompendo a alma do índio com grana, para construir hidroelétricas e quem sabe afanar o ouro e a madeira. Propõem aos indígenas participação nos lucros dos projetos de energia. O índio perdeu seu espírito para outras religiões que deviam ser processadas por invasão de almas desde o “descobrimento” deste continente. Os mais velhos morrem, os mais novos estão doentes, querem emprego e roupas, não querem mais ser índios, vão ao encontro do sistema capitalista corruptível do Brasil.

Os políticos simplesmente não conseguem buscar ideias para a humanidade futura ou presente, de forma imediata, não são amigos da flora e da fauna brasileiras. São apenas políticos, querem uma floresta de pedra e ferro retorcido. Com idade avançada é incrível como o homem roubou mais do que pode gastar em uma vida.

Vossas excelências trocam palavras pesadas, chamam-se entre si de safados.

Em uma briga de plenário foi o que aconteceu. Ficaram dizendo verdades um ao outro; foi muito engraçado para não dizer trágico. Queremos realmente ser admiradores da política brasileira, mas ainda não dá, e tudo está ficando cínico demais; o cara tá vendo que tá enrolado, que foi descoberto, e continua mentindo de forma doentia, como se fosse um distúrbio.

Dificilmente escapa um, sempre há um interesse atrás da cortina, uma baboseira. São sujeitos superinformados, pois o cargo expande o conhecimento pátrio em Brasília, uma inteligência que se apaga logo, diante do jogo do poder.

É uma tragédia manter alguns caras no plenário, não enxergam além dos seus interesses. Aprovam obras no pregão, a mais barata ganha, estrategicamente arranjada por seus sócios ministeriais. Essas vão desabar levando a muitas catástrofes. Tomara que aqui no Amapá isso não aconteça mais. Nossa gente já paga caro a conta da corrupção da CEA, não merecem morrer afogados, o rio está morto de peixes, pobre Araguari, a empresa alega que pelo fato da usina Coaraci Nunes não ter a porta migratória para os peixes, essa também não precisa, disse-me o promotor de justiça, e agora o povo da região fica fazendo perguntas em cima do leite derramado.

Com a debilidade administrativa do Executivo em Brasília, que não consegue sair do rabo do burro e nem da eterna campanha maquiada esquerdista de curral que nos levou à maior busca e apreensão da história, o Brasil cai, suas barragens caem, seus peixes morrem, sua gente se afoga na lama das usinas e da corrupção, seus doentes morrem, morrem as esperanças da juventude entre drogas lícitas e ilícitas, sim, porque tudo que vicia é uma droga, inclusive a droga da televisao e das rádios brasileiras, a droga anticultural, a droga da latinha, da garrafa, do papelote, da propaganda, do smartphone e principalmente a droga da urna comprada nos pleitos eleitorais.
E o Brasil afunda num rio de lama.
Um domingo de esperança a todos.

A conspiração dos girassóis

Na poesia ou composição existe o termo, pocesso, que quer dizer que o texto foi feito em estado de pocessão, ou seja, algo profético ou em estado de graça ao ponto de você não reconhecer aquele texto como seu. Não se preocupem, nada diabólico.

Procurando meus alfarrábios no baú me assustei com um velho texto intitulado “A CONSPIRAÇAO DOS GIRASSOIS’’ que parece se encaixar no agora.

Derrepente pela manha uma mulher com os olhos verdes vendados anda pela cidade que esta quase em coma de tanto silencio.

Uma pedra cai vinda de um céu distante e fica no caminho,prenunciando a tempestade. Somente uma águia risca o céu santificado pelo próprio nome. Ouve-se vozes desde a noite passada;
_ queremos, precisamos, compramos, fazemos qualquer negocio para destruir o céu. É um grupo de peixes de estranha cor escarlate que conversa dentro de aguas escuras, e eles tem sua propia luz.

Um deles grita, chamem os girassóis. Os girassóis atendem, amarelados de sol, nessa manha não se deixam rezar a reza harmoniosa de Deus. E assim, conspiram em velhas, muito velhas paginas de medo, proclamando o silencio de velhos tempos, nenhum piu, nenhum pássaro, nada. E assim a poesia no tempo se explica.

E o girassol chamado joao diz ao sol

– agora que vença o melhor.

Poesia escrita em 1999.
Abraço Osmar junior !

O DNA de Deus

Os mistérios revelados são para os olhos dos homens, e os não revelados, para os olhos de Deus (Deuteronômio 29,29).

Mas Deus começa a revelar seus anjos e sua imensa legião de colaboradores nos primórdios da história terrena – anjos mensageiros, verdadeiros gigantes com poder de destruição que dizimou Sodoma e Gomorra.

A Arca de Noé é um espelho que reflete ideias e tecnologia de preservação da espécie a serem descobertos e que já existem na mente divina. A baleia de Jonas inspira um submarino…

Por que somos céticos diante de seres interestelares, ou seres de luz, se Deus é invisível, e às vezes tão visível. Marcas deixadas de inteligência superior nas pirâmides, no deserto de Nazca… até hoje são mistérios. E agora aparecem nas plantações do mundo sinais quilométricos, como se fossem mensagens que dizem: “Nós estamos aqui”.

Nosso DNA tem construído tudo neste planeta, e destruído muita coisa.

Construímos acelerador de partículas para simular a criação do universo, chamado a Partícula de Deus, armas nucleares, avião, submarinos, armas sônicas que estão deixando os golfinhos e as baleias sem rumo e acabando mortos nos litorais, e até coisas perigosas como o projeto Harperr, que faz testes mexendo com a atmosfera e criando terremotos “artificiais” através de ondas sonoras.

Esse DNA, a chamada semelhança é o DNA de Deus. Uma microporção de inteligência que nem sempre é usada para o bem.

Mas algo está acontecendo e a gente nem percebe.

Estamos preocupados com a família; precisamos ficar ricos, precisamos encher as ruas de automóveis até não podermos mais nos mexer, até ficarmos sem espaço, até que Deus ou a própria Terra não nos aguente mais e resolva detonar com tudo. As igrejas e os templos só prometem riquezas, não prometem melhoras reais, não socorrem os enfermos e nem curam o câncer. Jesus viraria a mesa do Templo, de novo, e diria que aquele não era o Templo de Deus.

Inevitavelmente o evolucionismo não escapará do criacionismo; o Evangelho é um livro de avançada linguagem tecnológica, da genética à equação da viagem no tempo.

O islamismo pratica o terror, recrutando jovens facilmente guiados por causas políticas e religiosas.

E a ciência? Andará lendo com mais atenção a Bíblia e vendo que somos conectados a algo maior?

Preste atenção nas coisas, pois Deus gosta do seu avanço mental. Ele não é um Deus que quer que você viva na ignorância. Ora, eu tenho certeza da presença de Deus, então eu acredito sim em seres de Luz, bons e maus, e falo sempre com eles pra que eles saibam que eu sei deles.

Conheço um homem em Cristo que foi ao terceiro céu, se dentro ou fora do corpo, Deus o sabe. (Paulo aos Coríntios).
Bom domingo.

A conspiração dos girassóis

Na poesia ou composição existe o termo, possesso, que quer dizer que o texto foi feito em estado de possessão, ou seja, algo profético ou em estado de graça ao ponto de você não reconhecer aquele texto como seu. Não se preocupem, nada diabólico.

Procurando meus alfarrábios no baú me assustei com um velho texto intitulado “A CONSPIRAÇÃO DOS GIRASSÓIS’’ que parece se encaixar no agora.

De repente pela manhã uma mulher com os olhos verdes vendados anda pela cidade que está quase em coma de tanto silêncio.

Uma pedra cai vinda de um céu distante e fica no caminho, prenunciando a tempestade. Somente uma águia risca o céu santificado pelo próprio nome. Ouvem-se vozes desde a noite passada;
– queremos, precisamos, compramos, fazemos qualquer negócio para destruir o céu. É um grupo de peixes de estranha cor escarlate que conversa dentro de águas escuras, e eles têm sua própria luz.

Um deles grita, chamem os girassóis. Os girassóis atendem, amarelados de sol, nessa manhã não se deixam rezar a reza harmoniosa de Deus. E assim, conspiram em velhas, muito velhas páginas de medo, proclamando o silêncio de velhos tempos, nenhum piu, nenhum pássaro, nada. E assim a poesia no tempo se explica.

E o girassol chamado joão diz ao sol

– agora que vença o melhor.
(Poesia escrita em 1999)

No tempo em que o amor andou pelas calçadas

Era uma vez quando ainda existia fim de tarde e todos se sentavam nas calçadas em cadeiras de embalo para conversar olhos nos olhos sobre o dia que passou.
Sonhos eram narrados para construírem algo para o amanhã, eram conversas puras e divertidas, quando os anjos passavam pelas calçadas todos davam “bom dia”, as moças sorriam, os rapazes tiravam o chapéu, e os velhos abençoavam.

Para cada casa uma arvore na frente e varias outras no quintal, não havia grades nas janelas, ladrões somente de corações, e o canto dos passarinhos eram ouvidos tanto quanto o sino da igreja chamando para um sermão de paz, sem gritos, sem milagres profissionais.

A natureza era o brinquedo das crianças que tinham os olhos ávidos de uma certa igualdade perante os quintais sem cerca. Peões, carro de lata e cantiga de roda para ensinar poesia. Tempo de chuva era tempo de chuva, tempo de sol era tempo amansado por sombra e rio em verões de sorrisos.

Uma amizade solidaria andava pelos corações, comprava-se a retalho, emprestava-se do vizinho, pois vizinhos eram familia, as relações de confiança iam do médico ao prefeito, do policial ao dono da taberna. O rio era limpo e os garotos tomavam banho em seu leito, enchentes eram lançantes de março que deixavam a flor dágua transparente, a água vivia em paz com a gente.

Uma rosa por um beijo, um desejo mais desejo, uma moça interessada em romance, uma nudez bem vestida, uma carta bem redigida, o amor caminhava pelas calçadas e pisava sobre as flores de jambo num caminho tão rosado.

Um tempo onde a tecnologia era mais contida, havia muito mais vida, e conforme os ventos de dezembro traziam o natal éramos visitados durante a noite por um bom velho de barbas brancas chamado de papai Noel, na verdade era meu pai, meu amigo e herói das noites de febre e dos dias de espera.

Agora lembro das fadas, e do bicho papão, da mãe do mato, e da mãe dágua, tudo tinha no fundo uma historinha de minha mãe para que eu sossegasse de tanto sonho.
Tempo em que o amor andou pelas calçadas.

Bom domingo!