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Duas obras gigantes

Quantos de nós gostaríamos de desfrutar de uma vida tão longa como a do bíblico Matusalém, que viveu 969 anos, tempo que não sabemos se alguém o invejaria, tantos são os deveres e sofrimentos mesclados de alegria.


Ulisses Laurindo – Jornalista
Articulista

O filósofo espanhol Miguel de Unamuno escreveu no seu livro “Do sentimento trágico da vida” que a alma é imortal, mas nada disse ou evitou dizer sobre a imortalidade do corpo físico. Isso, a bem da verdade, todos têm total consciência e com poucos motivos para duvidar, mediante a breve permanência dos seres humanos na terra, nunca além dos 120 anos.

Quantos de nós gostaríamos de desfrutar de uma vida tão longa como a do bíblico Matusalém, que viveu 969 anos, tempo que não sabemos se alguém o invejaria, tantos são os deveres e sofrimentos mesclados de alegria.

Acredito que o maior desejo de todos pela longevidade está no simples fato de experimentar a sorte da viver momentos gloriosos de cada época, como, por exemplo, os viventes de 400 ou 500 anos atrás; de ter testemunhado o homem pisar na Lua pela primeira vez; conviver e meditar sobre a Teoria da Relatividade, de Albert Einstein, fato que causaria inveja aos nascidos há três ou quatro séculos, por exemplo; viver no mesmo momento de Beethoven, William Shakespeare, Leonardo da Vinci, Miguel Ângelo, Johann Sebastian Bach e Descartes, além de outros gênios que povoaram a terra em épocas longínquas.

Pergunta-se: Quem gostaria de ter vivido na época da criação da 9ª Sinfonia de Beethoven e, igualmente, ter acompanhado e assistido à peça teatral Hamlet, para mim, as duas maiores criações da capacidade humana até hoje insuperável na forma, na grandeza e na beleza. Claro que viver em 1770, sem as condições higiênicas diferenciadas das de hoje, e também sem o benefício da anestesia, seria a negação quanto à qualidade de vida.

Mas a grandeza de sentir e participar daqueles monumentos imaginativos compensaria todo atraso, porque como disse o próprio Shakespeare “o hábito é uma segunda natureza”.

O Hamlet, de Shakespeare, como igualmente a 9ª Sinfonia, atingiram o ápice da perfeição da mente humana, no aspecto estético e emocional. Shakespeare viveu de 1564 a 1616, e criou o personagem ainda atual com linguagem moderna, poética e, ao mesmo tempo, universal.

O atormentado príncipe Hamlet supera qualquer obra imaginada por outro autor, quanto ao drama, simples e de encantamento e linguagem exemplares, próprio de gênios, eternizado através dos séculos, decorridos 397 anos da morte do inglês de Stratford-Upo-Avon.

Dói saber que Ludwig van Beethoven compôs sua obra maior, já doente, totalmente surdo, sem a natural faculdade de ouvir seu próprio som. Isso há 243 anos, na cidade de Bonn, Alemanha. O conceito de beleza é experiência que às vezes envolve interpretação de equilíbrio e harmonia junto com a natureza, o que pode levar a sentimentos de atração e bem-estar emocional. Com isso, pode ser uma experiência subjetiva, e sempre se diz que a beleza está nos olhos de quem vê.

O conceito de beleza pode ser considerado por alguém como afirmativo em relação a tudo que é belo. Não é pecado revelar o gosto estético em relação a Hamlet e à 9ª Sinfonia, obras máximas da concepção humana, a primeira com o atual conselho de que ”acima de tudo sê fiel a ti mesmo e disso se segue como a noite ao dia que não pode ser falso com ninguém”. Na segunda, o primeiro verso do coro diz “Alegria, bela centelha divina”.


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